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— Sou o Detetive John Phillips do Departamento de Polícia de Nova York — disse ele. — Apontando para o outro homem, um indivíduo de compleição morena e sobrancelhas cerradas muito pretas, apresentou: — Este é meu colega, Detetive Siriani. A senhorita é Kay Adams? — Kay balançou a cabeça, confirmando. — A senhorita permite que entremos — prosseguiu Phillips — para falar-lhe por alguns minutos? É sobre Michael Corleone.

Ela se afastou, a fim de deixá-los entrar. Nesse momento, o pai dela apareceu no pequeno corredor lateral que dava para o seu gabinete particular.

— Kay, que é? — indagou.

Seu pai era um homem de cabelo grisalho, franzino, de aspecto distinto, que não somente era pastor da igreja batista da cidade, como também tinha a reputação nos círculos religiosos de um homem erudito. Kay realmente não conhecia bem o pai. Ele era uma incógnita para ela, mas sabia que ele a amava, mesmo que desse a impressão de que a achava desinteressante. Embora jamais tivessem sido íntimos, confiava nele. Assim, respondeu simplesmente:

— Estes homens são detetives de Nova York. Querem fazer-me algumas perguntas sobre um rapaz que eu conheço.

O Sr. Adams não pareceu surpreendido.

— Por que não vamos para o meu gabinete? — perguntou.

— Preferimos falar com a sua filha a sós, Sr. Adams — atalhou gentilmente o Detetive Phillips.

— Isto depende de Kay, penso eu —. retrucou cortesmente o Sr. Adams. — Minha querida, você quer falar com estes cavalheiros a sós, ou prefere ter-me presente? Ou talvez a sua mãe?

— Quero falar com eles a sós — falou a moça.

— Vocês podem usar o meu gabinete — disse o Sr. Adams a Philips. Ficarão para o almoço?

Os dois homens recusaram. Kay conduziu-os ao gabinete.

Eles se instalaram incomodamente na beira do divã, enquanto ela escolheu a grande cadeira de couro do pai. O Detetive Phillips iniciou a conversação dizendo:

— Senhorita Adams, a senhorita viu ou teve alguma notícia de Michael Corleone durante as três últimas semanas?

Esta pergunta foi o suficiente para fazê-la compreender a situação. Há três semanas passadas, lera os jornais de Boston com suas manchetes, sobre o assassinato de um capitão da polícia de Nova York e um contrabandista de narcóticos chamado Virgil Sollozzo. Um jornal dissera que isso era um episódio da guerra entre quadrilhas, na qual estava metida a Família Corleone.

— Não — Kay balançou a cabeça — a última vez que o vi, ele ia ver o pai no hospital. Isso foi talvez há coisa de um mês.

— Sabemos tudo a respeito desse encontro — atalhou o outro detetive com voz áspera. — A senhorita o viu, ou teve alguma notícia dele desde então?

— Não — respondeu Kay.

— Se a senhorita tem algum contato com ele — falou o Detetive Phillips com voz delicada — nós gostaríamos de saber. É muito importante falarmos com Michael Corleone. Devo preveni-la de que se a senhorita entrar em contato com ele, poderá meter-se numa situação perigosa. Se a senhorita ajudá-lo de alguma forma, poderá complicar-se seriamente.

— Por que não devo ajudá-lo? — perguntou Kay, endireitando-se na cadeira. — Nós vamos casar, gente casada ajuda uma a outra.

Foi o Detetive Siriani que respondeu a ela.

— Se a senhorita ajudá-lo, poderá ser acusada de cúmplice de crime. Estamos procurando o seu namorado porque ele matou um capitão da polícia de Nova York e mais um informante com quem o oficial da polícia estava conversando. Sabemos que foi Michael Corleone quem atirou neles.

Kay deu uma gargalhada, mas uma gargalhada tão espontânea, tão incrédula, que os policiais ficaram impressionados.

— Mike não faria uma coisa como essa — retrucou ela. — Ele nunca teve nada em comum com a família. Quando fomos ao casamento da irmã dele, era evidente que ele era tratado como um estranho, quase com a mesma indiferença com que eu fui tratada. Se está escondido agora, é só para que não haja publicidade em torno dele, para que o seu nome não seja arrastado com tudo isso. Mike não é um gangster. Eu o conheço melhor do que vocês ou do que qualquer outra pessoa. É um rapaz muito distinto para fazer uma coisa tão desprezível como cometer um assassinato. É a pessoa mais respeitadora da lei que eu conheço, nunca soube que ele mentia.

— Há quanto tempo a senhorita o conhece? — indagou o Detetive Phillips gentilmente.

— Há mais de um ano — respondeu Kay, surpreendendo-se quando os dois homens sorriram.

— Acho que existem algumas coisas que a senhorita precisa saber — disse o Detetive Phillips. — Na noite em que ele deixou a senhorita, foi para o hospital. Quando saiu dali, teve uma discussão com um capitão da polícia que fora ao hospital, a serviço. Ele atacou esse oficial da polícia e levou a pior. De fato, ele sofreu uma fratura do maxilar e perdeu alguns dentes. Seus amigos levaram-no para a casa da Família Corleone, em Long Beach. Na noite seguinte, o capitão da polícia com quem ele brigara foi mortalmente baleado e Michael Corleone desapareceu. Sumiu. Temos os nossos contatos, os nossos informantes. Todos eles apontam Michael Corleone, mas não temos provas suficientes para um tribunal de justiça. O garçom que testemunhou os disparos não reconheceu um retrato de Mike, mas pode reconhecê-lo em pessoa. E temos o motorista de Sollozzo, que se recusa a falar, mas podemos fazê-lo falar se tivermos Michael Corleone em nosso poder. Assim, todo o nosso pessoal o está procurando, bem como o FBI e um mundo de gente. Até agora, não tivemos sorte. Desse modo, pensamos que talvez a senhorita fosse capaz de nos dar alguma pista.

— Não acredito numa palavra disso — acrescentou Kay friamente.

Porém, sentiu-se um tanto pesarosa, ao saber que a notícia de que Mike tivera o maxilar fraturado podia ser verdadeira. Não que isso pudesse levar Mike a cometer um assassinato.

— Promete nos comunicar se Mike entrai em contato com a senhorita? — inquiriu Philips.

Kay balançou a cabeça negativamente.

— Sabemos que vocês dois estiveram dormindo juntos — acrescentou grosseiramente o Detetive Siriani Temos os registros dos hotéis e testemunhas. Se deixarmos essa informação chegar ao conhecimento dos jornais, seu pai e sua mãe se sentirão muito mal. Gente respeitável, como realmente é, eles não gostarão de saber que a filha andou dormindo com um gangster. Se a senhorita não falar a verdade agora mesmo, chamarei seu velho aqui e contarei tudo direitinho a ele.

Kay olhou para o detetive espantada. Em seguida, se levantou, foi até a porta do gabinete e abriu-a. Avistou o pai em pé à janela da sala de estar, fumando o seu cachimbo.

— Papai, você pode vir até aqui? — gritou ela então.

Ele virou-se, sorriu para ela e veio caminhando para o gabinete. Quando atravessou a porta, passou o braço em torno da cintura da filha e encarou os detetives dizendo:

— Às suas ordens, cavalheiros.

Vendo que ficaram mudos, Kay disse friamente ao Detetive Siriani:

— Conte tudo direitinho a ele, meu senhor.

Siriani ficou vermelho.

— Sr. Adams, vou contar-lhe isso, para o próprio bem de sua filha. Ela anda se misturando com um mau elemento que, temos motivo para acreditar, matou um oficial da polícia. Estou dizendo a ela que pode complicar-se seriamente se não cooperar conosco. Mas parece que ela não compreende como toda essa questão é séria. Talvez o senhor possa falar com ela.

— Isso é absolutamente inacreditável — respondeu o Sr. Adams delicado.

Siriani moveu o queixo.

— Sua filha e Michael Corleone têm saído juntos há mais de um ano. Têm pernoitado juntos em hotéis, registrados como marido e mulher. Michael Corleone está sendo procurado para ser interrogado sobre o assassinato de um oficial da polícia. Sua filha se recusa a nos dar qualquer informação que nos possa ajudar. Estes são os fatos. O senhor pode achá-los incríveis, mas posso provar tudo isso.