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— No momento em que eu puder apanhar alguém na estrada — respondeu Clemenza hesitante — Sonny estará em casa. Isso se refere aos Tattaglia também.

— Eu sei — respondeu Hagen pacientemente. — Mas se acontecer algo de extraordinário, Sonny pode ser detido. Faça o que puder, Pete.

De má vontade, Clemenza telefonou para Rocco Lampone e disse-lhe para pegar alguns homens e carros e dar cobertura à estrada para Long Beach. Ele próprio apanhou o seu querido Cadillac e, com três pelotões dos guardas que agora guarneciam a sua casa, partiu pela ponte, da Atlantic Beach para Nova York.

Um dos indivíduos que se encontrava perto da confeitaria, um pequeno apostador que recebia dinheiro da Família Tattaglia como informante, chamou o contato que tinha com essa gente. Mas a Família Tattaglia ainda não estava aparelhada para a guerra, o contato teve de percorrer um longo caminho, através das camadas de isolamento, até finalmente chegar ao caporegime, que se comunicou com o chefe Tattaglia. Nessa altura, Sonny Corleone já estava de volta e a salvo em sua alameda, na casa do pai, em Long Beach, prestes a enfrentar a ira do velho.

CAPÍTULO 17

A GUERRA DE 1947 entre a Família Corleone e as Cinco Famílias aliadas contra ela provou ser muito cara para ambos os lados. Tornou-se ainda mais complicada, por causa da pressão que a polícia passou a exercer para resolver o assassinato do Capitão McCluskey. Era raro que os funcionários do Departamento de Polícia ignorassem a força política que protegia as atividades do jogo e do vício, mas nesse caso, os políticos eram tão inúteis como o estado-maior de um exército amotinado e saqueador cujos oficiais combatentes se recusassem a cumprir as ordens.

Essa falta de proteção não prejudicava tanto a Família Corleone como a seus adversários. O grupo Corleone dependia da jogatina para obter a maior parte de sua renda, e foi atingida de rijo no “número” ou ramificações “políticas” de suas operações. Os mensageiros que colhiam as informações para as bancas eram conduzidos para o distrito policial, onde levavam uma surrazinha, antes de serem fichados. Algumas “bancas” foram localizadas e varejadas, com grande prejuízo financeiro. Os “banqueiros”, indivíduos de alto gabarito, cheios de direitos, queixavam-se aos caporegimes, que levavam tais queixas ao supremo conselho da Família. Entretanto, nada se podia fazer. Os banqueiros foram aconselhados a sair do negócio. Franco-atiradores negros do local foram autorizados a tomar conta das bancas, no Harlem, e eles agiam de maneira tão dispersiva que a polícia encontrava dificuldades em apanhá-los.

Depois da morte do Capitão McCluskey, alguns jornais publicaram histórias envolvendo-o com Sollozzo. Apresentavam prova de que McCluskey recebera quantias enormes de dinheiro, pouco antes de sua morte. Essas histórias tinham sido espalhadas por Hagen, sendo as informações fornecidas por ele. O Departamento de Polícia recusou-se a confirmar ou desmentir tais notícias, mas estava investigando. A organização policial soube através de informantes, de policiais que recebiam “bola” das Famílias, que McCluskey era um policial corrupto. Não porque ele aceitava grana “limpa”, absolutamente, não havia censura quanto a isso. Mas porque ele aceitara o mais sujo dos dinheiros: o oriundo de tráfico de entorpecentes ou de assassinatos. Segundo a moralidade dos policiais, isso era imperdoável.

Hagen compreendia que o policial acreditava na lei e na ordem de um modo curiosamente inocente. Acreditava nisso mais do que o público a quem ele serve. Afinal de contas, a lei e a ordem é a mágica de onde extrai o poder individual que ele acalenta como quase todos os homens. Contudo, há sempre o ressentimento reprimido contra o público a quem serve. Ele é ao mesmo tempo seu guarda e sua presa. Como guarda, é ingrato, abusado e exigente. Como presa, é escorregadio e perigoso, cheio de manha. Logo que alguém cai nas garras de um policial, o mecanismo da sociedade que ele defende reúne todos os seus recursos para arrancar a presa de suas mãos. A prisão é relaxada pelos políticos. Juízes dão sursis tolerantes aos piores bandidos. Governadores dos Estados e o próprio Presidente dos Estados Unidos dão perdões plenos, admitindo que advogados respeitáveis já não obtiveram a sua absolvição. Após algum tempo, o policial aprende. Por que não receber esses honorários que os bandidos estão pagando? Mais do que ninguém, ele precisa disso. Por que seus filhos não devem freqüentar a faculdade? Por que sua mulher não deve comprar nas lojas mais caras? Por que ele mesmo não deve gozar o sol com umas férias de inverno na Flórida? Afinal de contas, ele arrisca a vida e isso não é brincadeira.

Geralmente, se obstina em não aceitar a grana suja. Aceitará dinheiro para que um bookmaker possa funcionar; de um homem que detesta multas de estacionamento ou dirige com velocidade excessiva. Permitirá que prostitutas e outras mulheres exerçam a sua atividade, a troco de uma pequena remuneração. Tais fraquezas são naturais ao homem. Mas absolutamente não aceitará a grana de traficância de entorpecentes, assaltos à mão armada, estupro, assassinato e outros tipos de crimes. Em sua mente, tais coisas atingem a essência de sua autoridade pessoal e não podem ser encorajadas.

O assassinato de um capitão da polícia foi comparado a um regicídio. Contudo, quando se soube que McCluskey, ao ser assassinado, estava em companhia de um notório vendedor de narcóticos, e que este era suspeito de conspiração de assassinato, a represália por parte da polícia começou a diminuir. Outrossim, havia ainda pagamentos de hipotecas a serem feitos, carros a serem pagos, crianças para nascerem. Sem esse dinheiro “extra”, os policiais tinham de se esforçar muito para equilibrar seu orçamento. Os vendedores ambulantes sem licença serviam apenas para arranjar o dinheiro do almoço. As “bolas” para perdoar as multas de estacionamento representavam quantias insignificantes. Alguns dos mais desesperados começaram até a tomar dinheiro dos suspeitos (pederastas, agressores) nos distritos policiais. Finalmente a situação abrandou. Aumentaram os preços e deixaram as Famílias operar. Uma vez mais, as “folhas de gratificações” passaram a ser datilografadas pelo funcionário do distrito, relacionando todo homem designado para o posto policial local e a “parte” que ele devia receber todo mês. Restabeleceu-se algo semelhante à ordem social.

Tinha sido idéia de Hagen usar detetives particulares para guardarem o quarto de hospital de Don Corleone. Estes homens, naturalmente, eram reforçados pelos soldados muito mais exercitados do regime de Tessio. Sonny não estava satisfeito com isso. Em meados de fevereiro, quando Don Corleone já podia mover-se sem perigo, foi levado de ambulância para a sua residência na alameda. A casa fora reformada, de modo que o seu quarto de dormir assemelhava-se a um quarto de hospital com todo o equipamento necessário para qualquer emergência. Enfermeiras especialmente selecionadas tinham sido contratadas para cuidar do doente, noite e dia, e o Dr. Kennedy, mediante o pagamento de honorários altos, fora persuadido a se tornar o médico-residente desse hospital particular. Pelo menos, até que Don Corleone necessitasse apenas de cuidados de enfermeiras.

A própria alameda fora transformada num local inexpugnável. Capangas foram instalados nas casas extras, sendo os inquilinos mandados em férias para suas aldeias natais na Itália, com todas as despesas pagas.

Freddie Corleone fora enviado a Las Vegas para recuperar-se e sondar o terreno para as atividades da Família, no complexo cassino e hotel que estava surgindo ali. Las Vegas era parte do império da Costa Oeste ainda neutro, e o Don desse império garantira a segurança de Fred ali. As cinco Famílias de Nova York não desejavam fazer mais inimigos, entrando em Las Vegas depois de Freddie Corleone Estavam às voltas com bastante complicação em Nova York.