Anthony Molinari controlava as docas de São Francisco e era uma figura de destaque no império de apostas em jogos esportivos. Descendia de uma linhagem de pescadores italianos e era proprietário do melhor restaurante de produtos do mar de São Francisco, do qual ele se orgulhava tanto que corria a lenda de que perdia dinheiro no empreendimento servindo bastante comida em troca do preço cobrado. Tinha o rosto impassível do jogador profissional e sabia-se que ele tinha alguma ligação com o contrabando de entorpecentes através da fronteira mexicana e dos navios que faziam a rota dos oceanos orientais. Os seus assistentes eram homens jovens, de constituição robusta, obviamente não conselheiros, mas guarda-costas, embora não ousassem portar armas para essa reunião. Era do conhecimento geral que esses guarda-costas sabiam lutar caratê, um fato que divertia os outros Dons, mas não os assustava nem um pouco, era como se os Dons da Califórnia tivessem vindo para a reunião usando amuletos benzidos pelo Papa. Embora se deva notar que alguns desses homens eram religiosos e acreditavam em Deus.
Em seguida, chegou o representante da Família de Boston. Este era o único Don que não tinha o respeito dos colegas. Era conhecido como um homem que não agia bem com o seu “pessoal”, que o trapaceava impiedosamente. Isso podia ser perdoado, cada homem sabe a medida de sua própria ganância. O que não podia ser perdoado era que ele não conseguia manter a ordem em seu império. A área de Boston tinha muitos assassinatos, muitas guerrinhas pelo poder, muitas atividades de franco-atiradores sem qualquer apoio; escarnecia da lei muito descaradamente. Se os membros da Máfia de Chicago eram selvagens, então os de Boston eram gavoones, palermas rústicos; rufiões. O nome do Don de Boston era Domenick Panza. Era baixo, atarracado e, como disse dele um Don, parecia um ladrão.
O sindicato de Cleveland, talvez a mais poderosa das organizações rigorosamente do jogo dos Estados Unidos, era representado por um homem idoso de aspecto sensível com feições sombrias e cabelo branco como neve. Era conhecido, naturalmente não devido ao seu rosto, como “o judeu”, porque se cercava de assistentes judeus e não-sicilianos. Murmurava-se até que ele nomearia um judeu para ser seu consigliori se assim resolvesse. Em todo caso, assim como a Família de Don Corleone era conhecida como a Quadrilha irlandesa devido à presença de Tom Hagen, assim também a Família de Don Vincent Forlenza era conhecida como a Família Judia, com um pouco mais de precisão. Mas ele dirigia uma organização extremamente eficiente e se sabia que jamais havia desmaiado à vista de sangue, apesar de suas feições sensíveis. Ele dominava com mão de ferro, embora usasse luva de veludo.
Os representantes das cinco Famílias de Nova York foram os últimos a chegar, e Tom Hagen ficou impressionado com o aspecto imponente, arrogante, desses cinco homens em comparação com os “forasteiros”, os caipiras. Por algum motivo, os cinco Dons de Nova York estavam dentro da velha tradição siciliana, eram “homens de peito estufado”, significando, figuradamente, homens de poder e coragem; e, literalmente, força física, como se as duas coisas andassem juntas, como na verdade pareciam ter feito na Sicília. Os cinco Dons de Nova York eram homens robustos, corpulentos, com cabeças leoninas maciças, feições grosseiras, narizes carnosos, bocas espessas, faces sisudas, enrugadas. Não estavam muito bem vestidos ou barbeados; tinham o aspecto de homens ocupados com coisas sérias e despidos de vaidade.
Havia Anthony Stracci, que controlava a área de Nova Jersey e o embarque nas docas da Zona Oeste de Manhattan. Dirigia a jogatina em Jersey e era muito forte junto à máquina política democrática. Possuía uma frota de caminhões de carga que lhe rendia uma fortuna, principalmente porque os seus caminhões podiam trafegar com uma enorme sobrecarga, sem serem detidos nem multados pelos fiscais de peso das rodovias. Esses caminhões contribuíam para estragar as estradas e então a sua firma de construção de rodovias, com contratos lucrativos com o Estado, consertava os estragos feitos. Era o tipo da operação financeira que agradava a qualquer homem, o próprio negócio criando mais negócio. Stracci também era antiquado e jamais se metia no ramo da prostituição, mas como o seu negócio era nas docas, era-lhe impossível não envolvê-lo no tráfico de entorpecentes. Das cinco Famílias de Nova York que se opunham aos Corleone, a dele era a menos poderosa, mas a que tinha mais disposição.
A Família que dominava a parte superior do Estado de Nova York, que providenciava a entrada clandestina de imigrantes italianos através do Canadá, controlava a jogatina daquela parte do Estado e exercia o poder do veto na concessão de licença estadual para o funcionamento de hipódromos, era chefiada por Ottilio Cuneo. Este era um homem de espírito conciliatório, com o rosto de um padeiro jovial inteiramente rústico, cuja atividade legítima era uma grande companhia de leite. Cuneo era um desses homens que adorava crianças e levava o bolso cheio de balas, na esperança de poder agradar um de seus inúmeros netos ou a prole de seus sócios. Usava um chapéu de feltro redondo com a aba virada para baixo em toda a volta, como um chapéu de sol de mulher, que alargava o seu rosto já arredondado numa verdadeira máscara de jovialidade. Era um dos poucos Dons que nunca fora preso e cujas atividades verdadeiras jamais haviam sido objeto de suspeita. Tanto que ele servira em comitês cívicos e fora votado como o “Negociante do Ano do Estado de Nova York” pela Câmara de Comércio.
O maior aliado da Família Tattaglia era Don Emilio Barzini. Controlava uma parte da jogatina no Brooklyn e uma parte no Queens. Tinha alguma ligação com a prostituição. Possuía casas de jogo que usavam de falcatruas. Controlava completamente a Staten lsland. Operava um pouco nas apostas em jogos esportivos no Bronx e Westchester. Operava também no ramo dos entorpecentes Tinha fortes ligações com Cleveland e a Costa Oeste; era um dos poucos homens bastante astutos para estar interessado em Las Vegas e Reno as cidades abertas de Nevada. Tinha também interesse em Miami e em Cuba. Depois da Família Corleone, a sua era talvez a mais forte de Nova York e mesmo do pais A sua influencia se estendia ate a Sicília. O seu poder se exercia em toda “boca rica” ilegal. Corria até o boato de que Barzini tinha um pé em Wall Street. Ele apoiara a Família Tattaglia com dinheiro e influência desde o início da guerra Sua ambição era suplantar Don Corleone como o mais poderoso e respeitado líder da Máfia no pais e encampar uma parte do império dos Corleone. Era um homem bem semelhante a Don Corleone, porém mais moderno, menos artificial, mais negociante. Nunca poderia ser chamado de velho antiquado e gozava da confiança dos líderes mais novos, mais jovens e mais ousados em ascensão. Era um homem de grande força pessoal, que agia de modo frio, não tendo nada da vivacidade de Don Corleone, e era talvez nesse momento o homem mais “respeitado” do grupo.
O último a chegar foi Don Phillip Tattaglia, o chefe da Família Tattaglia, que desafiara diretamente o poder dos Corleone, apoiando Sollozzo, e quase conseguira êxito. Contudo, o que bastante curioso, ele era tratado com certo desprezo pelos outros. Por um motivo: sabia-se que se deixara dominar por Sollozzo. Que de fato fora completamente subjugado por aquele finório turco. Era considerado o responsável por toda aquela agitação, aquele barulho que afetara tanto a conduta dos negócios diários das Famílias de Nova York. Além disso, era um almofadinha de sessenta anos e mulherengo. E tinha ampla oportunidade de mostrar sua fraqueza.
Pois a Família Tattaglia operava com mulheres. Seu negócio principal era a prostituição. Controlava também a maior parte dos cabarés dos Estados Unidos e podia pôr qualquer artista em qualquer parte do país. Phillip Tattaglia não tinha escrúpulos em usar da violência para conseguir o controle de cantores e humoristas promissores e entrar à força nas gravadoras de discos. Mas a prostituição era a principal fonte da tenda da Família.