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Quando Barzini acabou de falar houve um silêncio. As linhas agora estavam traçadas, não se podia voltar ao status quo anterior. O mais importante era que Barzini, ao falar, dissera que, se a paz não fosse feita, ele abertamente se uniria aos Tattaglia na sua guerra contra os Corleone. E assinalara um ponto de distinção. A vida e a fortuna deles dependiam de que se prestassem serviços uns aos outros, e a negação de um favor pedido por um amigo era um ato de agressão. Favores não eram pedidos levianamente e assim não podiam ser levianamente recusados.

Don Corleone, finalmente, tomou a palavra para responder:

— Meus amigos — começou.— não recuso por despeito. Todos vocês me conhecem. Quando foi que já recusei um ajuste de negócio? Isso simplesmente não está em minha natureza. Mas tive de recusar desta vez. Por quê? Por que penso que esse negócio de entorpecentes nos destruirá nos próximos anos. Há um retraimento muito forte contra tal tráfico neste país. Não é como uísque, jogo ou mesmo mulheres, que a maior parte das pessoas quer e os pezzonovanti da Igreja e do governo os proíbem. Mas os entorpecentes são perigosos para toda pessoa ligada a eles. Pode comprometer todos os outros negócios. E deixem-me dizer que me sinto lisonjeado pela crença de que sou tão poderoso com os juízes e os funcionários da justiça; eu queria que isso fosse verdade. Tenho realmente alguma influência, mas muita gente que respeita meu conselho pode perder esse respeito se os entorpecentes se meterem nessa relação. Tem medo de se ver envolvida em tal negócio e tem fortes ressentimentos contra ele. Mesmo muitos policiais que nos ajudam na jogatina e em outras coisas se recusariam a nos ajudar em entorpecentes. Portanto, pedir-me que preste um serviço nessa questão é pedir-me que preste um desserviço a mim mesmo. Mas estou disposto a fazer até mesmo isso se todos vocês acharem conveniente a fim de se acertarem outras coisas.

Quando Don Corleone acabou de falar, a sala ficou muito menos tensa, com mais sussurros e conversações. Ele recuara no ponto principal. Oferecia sua proteção a qualquer empreendimento organizado para o tráfico de entorpecentes. Don Corleone estava, com efeito, concordando quase inteiramente com a proposta original de Sollozzo, desde que ela fosse endossada por todo o grupo ali reunido. Compreendia-se que ele jamais participaria da fase operacional, tampouco investiria seu dinheiro. Simplesmente usaria sua influência protetora junto ao aparelho legal. Mas isso era uma concessão formidável.

O Don de Los Angeles, Frank Falcone, tomou a palavra para responder.

— Não há meio de impedir que a nossa gente entre nesse negócio. Ela entra por sua própria conta e se complica. Há muito dinheiro nisso e é difícil resistir. Assim, é mais perigoso se não entrarmos nele. Pelo menos se o controlarmos podemos protegê-lo melhor, organizá-lo melhor, assegurar que ele cause menos complicação. Estar nesse negócio não é tão mau assim, deve haver controle, deve haver proteção, deve haver organização, não podemos permitir que todo mundo viva correndo e faça o que bem entenda como se pertencesse a um grupo de anarquistas.

O Don de Detroit, mais amigo de Corleone que qualquer dos outros, também falou agora contra a posição do amigo, no interesse do bom senso.

— Não acredito em entorpecentes — começou ele. — Por anos paguei ao meu pessoal um pouco mais para que ele não se metesse nesse tipo de negócio. Mas isso não adiantou, não ajudou. Alguém se aproxima dos meus homens e diz: “Tenho uns pozinhos, e se vocês colocarem o investimento de três, ou quatro mil dólares, podemos fazer uma distribuição de cinqüenta mil.” Quem pode resistir a tal lucro? E passam a ficar tão ocupados com o seu biscatezinho que se esquecem de fazer o trabalho pelo qual pago a eles. Ganham muito mais nos entorpecentes. O negócio cresce a cada momento. Não há meio de pará-lo, portanto temos de controlar o negócio e mantê-lo respeitável. Não o quero perto das escolas, não o quero vendido a crianças. Isso é uma infamita. Em minha cidade eu tentaria manter tal tráfico com a gente de cor, com os pretos. São os melhores fregueses, os que trazem menos complicações e de qualquer maneira eles são animais. Não têm respeito por suas mulheres, suas famílias ou por si mesmos. Que percam a alma com entorpecentes. Mas alguma coisa deve ser feita, pois não podemos deixar que cada um faça o que bem entenda e arranje complicação para todo mundo.

Esse discurso do Don de Detroit foi recebido com altos murmúrios de aprovação. Ele tinha acertado na mosca. Não se podia nem mesmo pagar ao pessoal para ficar fora do tráfico de entorpecentes. Quanto às suas observações sobre as crianças, isso se devia à sua bem conhecida sensibilidade, á sua ternura. Afinal de contas, quem venderia entorpecentes às crianças? Onde elas conseguiriam o dinheiro? Quanto às suas observações sobre os homens de cor, isso nem foi ouvido. Os negros eram considerados como não tendo qualquer importância, qualquer força. O fato de terem permitido que a sociedade os reduzisse a pó provava que eles não tinham importância, e o fato de Zaluchi mencioná-los de qualquer modo provava que o Don de Detroit tinha o espírito sempre voltado para coisas descabidas.

Todos os Dons falaram. Todos deploraram o tráfico de entorpecentes como um coisa má que causaria complicação, mas concordaram que não havia meio de controlá-lo. Havia, simplesmente, muito dinheiro a ser ganho no negócio, portanto concluía-se que haveria homens que fariam tudo para dedicar- se a ele. Assim era a natureza humana.

Finalmente chegou-se a um acordo. O tráfico de entorpecentes seria permitido e Don Corleone deveria dar-lhe alguma proteção legal no Leste. Ficou entendido que as Famílias Barzini e Tattaglia fariam a maior parte das operações em grande escala. Com isso já resolvido, a conferência podia prosseguir para tratar de outras questões de interesse mais amplo. Havia muitos problemas complexos a serem resolvidos. Concordou-se que Las Vegas e Miami seriam consideradas cidades livres, onde qualquer das Famílias poderia operar. Todos eles reconheciam que essas eram as cidades do futuro. Concordou-se também que não seria permitida qualquer violência nessas cidades, e os pequenos criminosos de todos os tipos deveriam ser desencorajados. Concordou-se que nos negócios importantes, nas execuções que eram necessárias, mas poderiam causar um grande clamor público, deveria haver aprovação daquele conselho. Concordou-se que os capangas e outros soldados deveriam ser impedidos de cometer crimes violentos e atos de vingança, uns contra os outros, por questões policiais. Concordou-se que as Famílias prestariam serviços umas às outras, tais como fornecer executores, assistência técnica para a realização de certas ações, como subornar jurados, que em alguns casos poderiam ser vitais. Essas discussões, informais, coloquiais e de alto nível, tomaram tempo e foram interrompidas para almoço e bebidas fornecidas pelo bar.

— Isso é toda a questão, então — disse finalmente Don Barzini. — Estabelecemos a paz e quero apresentar os meus respeitos a Don Corleone, a quem todos nós conhecemos no decorrer dos anos como um homem de palavra. Se surgirem novas divergências, poderemos encontrar-nos novamente, não devemos bancar os tolos outra vez. De minha parte, a estrada é nova e agradável. Estou satisfeito por ver tudo isso resolvido.