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No entanto, fez uma pausa a meio, ao notar uma reacção desagradável, devida à ausência de alimento durante tanto tempo, e aproveitou o ensejo para olhar em volta. Nas mesas que o circundavam, pesquisadores discutiam febrilmente o tópico que dominava os espíritos de todos: diamantes. -…Ainda há alguns para os lados de Hopetown, mas o maior filão encontra-se em New Rust1-… Kimberley tem mais habitantes que Jofurg… -… Quanto à descoberta da semana passada em Dutoits -pan, dizem que há mais diamantes ao que um homem pode transportar… -…Descobriu-se um filão em Christiana e tenciono partir para lá amanhã.

Então, sempre era verdade. Havia diamantes por toda a parte! Jamie sentia-se tão excitado que quase não conseguiu terminar a refeição. A conta deixou-o assombrado: duas libras e três xelins por um almoço! “Tenho de ser cauteloso…”, reflectiu, enquanto se encaminhava de novo para a rua.

- Continuas empenhado em enriquecer, McGregor? - proferiu uma voz atrás dele.

Voltou-se e avistou Pederson, o louro que fora seu companheiro de viagem.

- Com certeza - replicou, sem vacilar.

- Então, vamos para onde estão os diamantes - declarou Pederson indicando uma direcção. O rio Vaal fica para aqueles lados.

E começaram a caminhar juntos.

Klipdrift situava-se numa bacia, rodeada por colinas, e até onde a vista alcançava tudo era árido, sem uma folha de relva ou um arbusto. Por outro lado, levantavase constantemente uma poeira vermelha, que dificultava a respiração. O rio Vaal distava quinhentos metros dali e, à medida que eles se aproximavam, o ar tornava-se mais fresco. Centenas de pesquisadores alinhavam-se ao longo das duas margens, uns à procura de diamantes, outros peneirando pequenas pedras e outros ainda procedendo à sua escolha em mesas improvisadas. O equipamento variava de aparelhos de lavar terra científicos a caixas metálicas e pás. Os homens apresentavam-se crestados pelo sol, barbudos e quase andrajosos, sendo notório que o banho não era uma das operações que lhes tomava mais tempo durante o dia.

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Jamie e Pederson acercaram-se da orla da margem e viram um rapaz e um homem mais velho esforçando-se por afastar um rochedo, para poderem explorar a terra em volta. Perto deles, dois outros carregavam com terra um carro de mão, a fim de a peneirarem.

- Parece fácil - comentou Jamie, com um sorriso.

- Não te fies nisso. Conversei com alguns pesquisadores que se encontram aqui há mais tempo. Desconfio que fomos levados.

- Que queres dizer?

- Sabes quantos pesquisadores há nestas redondezas, todos esperançados em enriquecer? Vinte mil! Não existem diamantes que cheguem para todos e, de qualquer modo, duvido que mereça a pena o trabalho. Uma pessoa coze no Inverno, gela no Verão, fica alagado até aos ossos com as malditas donderstorms e, ainda por cima, tem de enfrentar o pó, as moscas e a porcaria. Não se consegue um banho ou uma cama decente e não há esgotos nesta malfadada cidade. Contam-se às dezenas os casos de afogamento no rio Vaal, todas as semanas. Alguns são acidentes, mas confidenciaram-me que, para outros, tratase da única fuga possível a este inferno. Confesso que não compreendo por que motivo esta gente continua aqui.

- Compreendo eu - e Jamie fez uma pausa, fitando o interlocutor com uma expressão enigmática. - Nunca se sabe o que a próxima recolha de terra poderá conter.

Não obstante, enquanto regressavam à cidade, via-se forçado a reconhecer intimamente que Pederson tinha razão. Passavam diante de carcaças de bois, ovelhas e cabras imolados que apodreciam à entrada das tendas, ao lado de trincheiras abertas que serviam de instalações sanitárias. De facto, o local tresandava quase insuportavelmente.

- Que pensas fazer? - inquiriu o louro, que o observava com c uriosidade.

- Comprar alguns apetrechos de prospecção.

No centro da cidade, havia uma loja com uma tabuleta metálica oxidada que indicava: “Salomon van der Merwe - Armazém de Artigos Gerais”. Um negro alto, de idade aproximada à de Jamie, descarregava uma galera diante da porta. Tinha ombros largos, músculos turgentes e o semblante mais

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bem-parecido que Jamie vira até então. Os olhos eram negro-fuligem, o nariz aquilino e o queixo voluntarioso. Levantou um pesado caixote com espingardas, colocou-o ao ombro e, quando se voltou, escorregou numa folha que caíra de um cabaz de hortaliça. Jamie estendeu os braços instintivamente para lhe valer, mas o outro ignorou-o e entrou na loja. Um pesquisador bóer, que engatava uma mula a uma carroça, cuspiu desdenhosamente e disse:

- É Banda, da tribo Barolong, que trabalha para Van der Merwe. Não percebo porque mantém o escarumba ao seu serviço. Esses danados Bantos julgam que a Terra lhes pertence.

No interior da loja, a temperatura era agradável, constituindo um alívio em contraste com a rua quente e ruidosa, impregnada de odores exóticos. Jamie ficou com a impressão de que cada centímetro quadrado de espaço estava superlotado de mercadoria. Havia alfaias agrícolas, latas de cerveja e leite condensado, pacotes de manteiga, sacos de cimento, dinamite e pólvora juntamente com rastilhos, peças de olaria, mobiliário, armas, tintas e vernizes, presunto e fruta seca, artigos de perfumaria, bebidas alcoólicas, papel de carta, açúcar, chá, tabaco, rapé, etc. Umas dez prateleiras achavam-se cheias de camisas de flanela, cobertores, sapatos, bonés, chapéus, alforges e selas. “O dono disto é rico, sem dúvida”, cogitou.

- Em que lhe posso ser útil? - articulou uma voz suave.

Jamie virou-se e deparou-se-lhe uma jovem que não aparentava mais de quinze anos. Tinha um rosto interessante, de traços regulares, em forma de coração, nariz arrebitado e olhos verdes.

- Sou pesquisador - anunciou, por fim. - Queria comprar algum equipamento.

- De que necessita?

Por razões que não conseguia determinar, sentia que precisava de impressionar a rapariga, pelo que replicou, hesitante:

- Bem… o costume.

- Importa-se de explicar o que considera o costume? - insistiu ela, com uma ponta de malícia.

- Uma pá, por exemplo.

- Nada mais?

Compreendendo que pretendia desfrutá-lo, Jamie sorriu e confessou:

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- Para ser franco, não tenho calo disto. Não sei do que necessito…

- Depende de que pretende pesquisar, Mister…?

- McGregor, Jamie McGregor.

- Chamo-me Margaret van der Merwe - esclareceu ela, lanç ando um olhar apreensivo para o fundo da loja.

- Tenho muito prazer em conhecê-la, Miss Van der Merwe.

- Chegou há pouco?

- Ontem. No transporte do correio.

- Deviam tê-lo prevenido, antes de partir - a expressão dela era agora a de uma adulta. - Houve quem morresse durante a viagem - acrescentou, com uma expressão indignada.

- Não me surpreende nada - redarguiu ele, com novo sorriso. - Mas continuo bem vivo, felizmente.

- E disposto a procurar mooi klippe.

- Mooi klippe?

- É a nossa expressão holandesa para diamantes. Pedras bonitas.

- É holandesa?

- A minha família veio da Holanda.

- Eu sou da Escócia.

- Vê-se logo - redarguiu a rapariga olhando de novo para o fundo da loja. - Há por aí muitos diamantes, Mister McGregor, mas deve ter cuidado onde os procura. A maior parte dos pesquisadores anda às voltas, perseguindo a sua própria cauda.

Quando algum faz uma descoberta, os outros exploram os restos. Se pretende enriquecer, deve encontrar um local virgem.

- Como se faz para conseguir isso?

- Meu pai pode ajudá-lo. Conhece todos os truques. Está livre dentro de uma hora.

- Nesse caso, voltarei depois - prometeu Jamie. - Obrigado, Miss van der Merwe.