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“Adio, Signore!”

“O que diabo fez você?”, perguntou Tomás, escandalizado

com o que acabara de ver.

“Destruiu o ADN de Jesus?!”

Valentina suspirou.

“Era essa a minha missão, lembra-se?”, recordou-lhe.

“Agora abra esta maldita porta! E depressa!”

Percebendo que o tempo se esgotava, que o calor se

tornara sufocante e que só teria menos de um minuto

antes de o fogo os devorar a todos, Tomás virou-se para

a porta e destapou a placa que ocultava o teclado onde

era inserida a senha. Depois passou os olhos pelo poema

estampado no vidro da janela circular que se encontrava

a meio da porta.

XlBer aflen ©ípfeín íst Xuí), ín aíTen TOípfefn spürest

5u Raum eínen íòaucfj;

Me X)ògefeín sclycoeígen ím Tüafôe. tDarte nur, Bafôe.

?lul}est 5u aucí).

“O Arkan disse que a palavra de código que destranca a

porta está relacionada com este poema que serve de

motto à fundação”, murmurou, falando mais para si

próprio do que para a italiana.

“Mandou colar o poema ao vidro para nunca se esquecer

da senha. Quando a inseriu no teclado para entrarmos

aqui, as teclas fizeram um barulho, o que me permitiu

contar o número de letras. Eram seis.”

Olhou para Valentina.

“Que palavra de seis letras tem relação com este

poema?”

Os olhos horrorizados da italiana estavam presos às

chamas a uns meros dois metros deles, e nem sequer o

ouviu. Ou se ouviu não entendeu.

“Despache-se!”

“Goethe”, disse Tomás, respondendo à sua própria

pergunta.

“É Goethe o autor do poema e o seu nome tem seis

letras.”

Premiu as letras no teclado. G-O-E-

T-H-E.

Depois aguardou que a porta destrancasse.

“Depressa!”, gritou Valentina, já tomada de pânico.

“Abra a porta! Por amor de Deus, abra a porta!”

Nada aconteceu.

A porta não abriu.

Tentou outra vez e o resultado foi o mesmo.

O desânimo apossou-se de Tomás.

Tinha de se render à evidência. Enganara-se. Goetbe não

era a senha.

O calor tornara-se infernal e Valentina começou a

chorar.

Se

dispusesse

de

mais

dez

minutos,

o

historiador estava convencido de que seria capaz de

chegar à palavra de código. Assim não. As condições

eram demasiado aflitivas e o tempo excessivamente

curto.

Restavam alguns segundos.

O fogo envolvia já o corpo de Grossman e a todo o

instante iria engoli-los a todos.

“Abra a porta!”

Pensa, Tomás.

Que palavra com seis letras tem relação com o poema?

O historiador fechou os olhos e fez um esforço sobre-

-humano para se concentrar.

Regressemos ao ponto de partida, raciocinou, tentando

manter a calma.

Qual o tema do poema?

‘“Por todos estes montes reina a paz’”, recitou em voz

baixa, “‘em todas estas frondes a custo sentirás sequer

a brisa leve; em todo o bosque não ouves nem uma ave.

Ora espera, suave. Paz vais ter em breve.’”

Paz.

Seria essa a palavra-chave? O coração de Tomás deu um

salto. Peace! Era peace! Só podia ser peace! Contou

mentalmente as letras. Um-dois-três-quatro-cinco.

Cinco.

“Merda!”

Cinco letras! Era uma letra a menos!

A porra de uma letra a menos!

Abanou a cabeça. Não era peace.

Valentina estava lavada em lágrimas, no desespero de

quem se sabia perdida, e as labaredas começavam a

lambê-los, queimando-lhes a pele.

“Abra!”, implorou aos soluços, as duas mãos coladas

numa prece. “Per favore, abra! Dio mio!”

Se não era peace, que palavra poderia ser? Tomás voltou

a concentrar-se. A Fundação Arkan era uma organização

israelita, com sede em Jerusalém e o centro de pesquisa

a funcionar em Nazaré. Que língua seria natural que

usasse? O inglês? Não, claro que não. O hebraico! O

coração de Tomás deu um novo salto. Como se diz paz em

hebraico?

Era a derradeira tentativa. O historiador agarrou-se ao

teclado com sofreguidão e, a mão a tremer quase descon-

troladamente, digitou a palavra de seis letras. S-H-A-

L-O-M.

Bip.

A porta abriu-se.

Epílogo

Os raios do Sol jorravam pela janela como uma cortina

translúcida de luz quando a mulher de bata branca

entrou no quarto e atirou um sorriso profissional na

direcção do paciente. Ao peito, junto ao estetoscópio

que tinha pendurado ao pescoço, trazia uma faixa com um

nome bordado a linha azul-escura a identificar Lesley

Koshet, M. D.

“Bom dia!”, cumprimentou com jovialidade.

“Então como se sente o nosso herói esta manhã?”

Um grunhido dorido foi a resposta relutante de Tomás.

“Já tive dias melhores...”

A médica israelita sorriu.

“Quer outro analgésico ou já se acha capaz de aguentar

a dor?”

O paciente fez uma careta.

“Mais um analgesicozinho não caía nada mal, não senhor.

Será que mo poderia dar?”

Lesley esboçou uma careta.

“Creio que não”, respondeu ela.

“Está na hora de desmamar dessas drogas. O senhor já

tem idade para aguentar uma dorzinha sem choramingar,

não tem?”

Tomás endireitou-se na cama e inclinou-se para a

frente, de modo a poder espreitar o espelho pregado na

parede e mirar o seu rosto.

“Olhe para a minha cara, doutora”, lamuriou-se. “Já viu

isto? Não acha que mereço mais um analgésico?”

A imagem reflectida no espelho mostrava uma cabeça

quase toda envolta em ligaduras brancas. A parte

esquerda da face estava completamente tapada, com as

ligaduras a protegerem o malar esfacelado e o olho

inchado.

A seguir o historiador levantou as duas mãos e exibiu

os curativos. A mão direita apresentava-se mergulhada

numa bola de gesso enquanto a esquerda tinha o dedo

mindinho envolvido por ligaduras. E havia ainda, claro,

o penso no pescoço.

“Parece uma múmia”, gracejou ela. “Ramsés II!”

“Oh, não brinque!...”

“Vá lá, não seja mariquinhas!”, repreendeu-o a médica.

Pegou no boletim clínico aos pés da cama e consultou-o.

“Mais um bocado e põe-se a choramingar!...”

“Goze, goze!”, protestou Tomás, fazendo beicinho.

“Isto não é brincadeira nenhuma! Vou ficar com a cara

cheia de cicatrizes, já viu?”

“Não recomece...”

“Sabe que alcunha os meus alunos na faculdade me vão

dar? Scarface! Vão-se rir de mim e chamar-me Scarface!

Ou então Frankenstein! Oh, já os estou a ver!...”

A atitude melodramática arrancou uma risada a Lesley.

“E sabe qual é a minha alcunha aqui no hospital?”,