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— Para o Planeta Astrossapo — disse Roosta —, o lugar mais completamente maligno do Universo.

— Eles têm comida lá? — disse Zaphod.

— Comida? Você está indo para o Astrossapo e está preocupado se eles têm comida?

— Sem comida eu não vou para o Astrossapo.

Pela janela eles não viam nada além da luz tremulante dos raios de força, e vagas formas esverdeadas que deviam ser as imagens distorcidas dos Lutadores Astrossapos. A essa velocidade o espaço em si era invisível e de fato irreal.

— Tome, chupe — disse Roosta, oferecendo sua toalha a Zaphod. Zaphod o encarou como se esperasse que um cuco saltasse de sua testa, preso a uma mola.

— Está encharcada de nutrientes — explicou Roosta.

— Que espécie de cara é você, um comedor de porcaria ou coisa assim? —

disse Zaphod.

— As listas amarelas são ricas em proteínas, as verdes contêm vitaminas C

e complexo B, as florezinhas cor-de-rosa contêm extrato de germe de trigo. Zaphod pegou e observou, maravilhado.

— E essas manchas marrons? — perguntou.

— Molho de churrasco — disse Roosta —, para quando eu enjoar de germe de trigo.

Zaphod cheirou, desconfiado.

Mais desconfiado ainda, chupou um dos cantos. Cuspiu fora.

— Argh — declarou.

— Ê — disse Roosta —, quando eu chupo esse canto eu sempre tenho que chupar um pouquinho do outro canto também.

— Por que — perguntou Zaphod, cheio de suspeita —, o que tem?

— Antidepressivos — disse Roosta.

— Não quero saber dessa toalha — disse Zaphod, devolvendo-a. Roosta a pegou de volta, pulou da mesa, deu a volta e sentou na cadeira, levantando os pés.

— Beeblebrox — disse, colocando os braços atrás da cabeça —, você tem alguma idéia do que vai te acontecer no Planeta Astrossapo?

— Eles vão me dar de comer — arriscou Zaphod, esperançoso.

— Eles vão te dar de comer — disse Roosta — ao Vórtice de Perspectiva Total!

Zaphod nunca tinha ouvido falar nisso. Ele acreditava já ter ouvido falar de todas as coisas divertidas da Galáxia, de forma que calculou que o Vórtice de Perspectiva Total não devia ser divertido. Perguntou a Roosta o que era.

— Apenas — disse Roosta — a mais selvagem das torturas psíquicas a que se pode submeter um ser consciente.

Zaphod balançou a cabeça resignado.

— Quer dizer então — disse ele — que não tem comida, né?

— Ouça! — disse Roosta insistentemente — Você pode matar um homem, destruir seu corpo, quebrar seu espírito, mas apenas o Vórtice de Perspectiva Total pode aniquilar a alma de um homem! O tratamento dura alguns segundos, mas os efeitos duram o resto da vida!

— Você já tomou uma Dinamite Pangaláctica? — perguntou Zaphod vivamente.

— É pior.

— Urras!"— admitiu Zaphod, muito impressionado.

— Tem alguma idéia de por que esses caras estão querendo fazer isso comigo? — acrescentou um momento mais tarde.

— Eles acreditam que essa é a melhor maneira de destruir você para sempre. Eles sabem do que você está atrás.

— Será que eles não podiam me dar um toque e me deixar saber também?

— Você sabe, Beeblebrox — disse Roosta —, você sabe. Você quer encontrar o homem que rege o Universo.

— Ele sabe cozinhar? — disse Zaphod. Refletindo um pouco, acrescentou:

— Duvido. Se ele soubesse preparar uma boa refeição por que iria importar-se com o resto do Universo? Eu quero encontrar um cozinheiro. Roosta suspirou pesadamente.

— O que você está fazendo aqui, de qualquer forma? — perguntou Zaphod. —

O que você tem a ver com tudo isso?

— Sou apenas um dos que planejaram a coisa, junto com Zarniwoop, junto com Yooden Vranx, junto com seu bisavô, junto com você, Beeblebrox.

— Comigo?

— É, com você. Me disseram que você tinha mudado, eu não imaginava quanto.

— Mas...

— Estou aqui para fazer uma coisa. Vou fazer antes de deixar você.

— Que coisa, cara? Do que você está falando?

— Vou fazer antes de deixar você.

Roosta mergulhou num silêncio impenetrável. Zaphod ficou contentíssimo.

CAPITULO 9

O ar em torno do segundo planeta do sistema Astros-sapo era viciado e insalubre.

Os ventos úmidos que varriam constantemente sua superfície sopravam sobre pântanos salgados, charcos ressequidos, um emaranhado de vegetação putrefata e ruínas de cidades desmoronadas. Nenhuma forma de vida movia-se sobre sua superfície. O solo, como o de muitos planetas dessa região da Galáxia, estava deserto há muito tempo.

O uivo do vento era bastante desolador quando cortava as velhas casas decadentes das cidades; era ainda mais desolador quando dava lufadas nas bases das altas torres negras que oscilavam aqui e ali pela superfície desse mundo. No topo dessas torres viviam colônias de grandes aves descarnadas que cheiravam mal, os únicos sobreviventes da civilização que outrora vivera ali.

O uivo do vento era mais desolador do que nunca porém, quando passava sobre um lugarzinho de nada no meio de uma ampla planície cinzenta nos arredores da maior das cidades abandonadas.

Esse lugarzinho de nada era o que tinha dado a esse planeta a reputação de ser o lugar mais totalmente maligno da Galáxia. De fora era apenas um domo de aço de cerca do quinze metros de diâmetro. Por dentro era algo mais monstruoso do que a mente possa compreender.

A uns cento e cinqüenta metros dali, separado por uma faixa crestada e bexiguenta da terra mais infecunda que se possa imaginar, ficava o que talvez pudesse ser descrito como um sofrível campo de pouso. Isso para dizer que espalhados por uma área ampla estavam as carcaças desajeitadas de duas ou três dúzias de edifícios que tinham sofrido uma aterrissagem forçada. Uma mente esvoaçava em torno desses edifícios, uma mente que estava à

espera de alguma coisa.

A mente dirigiu sua atenção para o espaço, e dentro de pouco tempo surgiu um pontinho na distância rodeado por um anel de pontinhos menores. O pontinho maior era a torre esquerda do edifício de escritórios do Guia da Galáxia para Caronas penetrando na estratosfera do Planeta Astrossapo B. Enquanto ele descia, Roosta subitamente quebrou o longo e desconfortável silêncio que tinha crescido entre os dois.

Levantou-se e enfiou sua toalha numa mala. Disse:

— Beeblebrox, agora eu vou fazer a coisa para a qual eu fui mandado. Zaphod olhou para ele de onde estava, sentado num canto trocando idéias não enunciadas com Marvin.

— Ah, é? — disse ele.

— O edifício vai aterrissar em breve. Quando você for sair, não saia pela porta — disse Roosta —, saia pela janela.

— Boa-sorte — acrescentou, e saiu pela porta, desaparecendo da vida de Zaphod tão misteriosamente quanto tinha entrado.

Zaphod pulou e tentou abrir a porta, mas Roosta já a tinha trancado. Deu de ombros e voltou para o seu canto.

Dois minutos mais tarde o prédio espatifou-se no chão no meio dos outros destroços. A escolta de Lutadores Astrossapos desativou os raios de força e elevou-se no ar novamente, rumo ao Planeta Astrossapo A, um lugar completamente mais agradável. Eles nunca pousaram no Planeta Astrossapo B. Ninguém jamais pousava. Ninguém jamais andava por sua superfície a não ser as futuras vítimas do Vórtice de Perspectiva Total.

Zaphod ficou muito abalado com o choque da aterrissagem. Ficou deitado por um tempo no silencioso monturo de poeira a que se tinha reduzido a maior parte da sala. Sentiu que estava na fase mais decadente de sua vida. Sentiase desnorteado, sentia-se só, sentia-se sem amor. Por fim sentia que devia passar por cima do que quer que fosse.