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Aproximou-se do prédio. Ao longo de um dos lados — a frente, ao que tudo indicava, já que dava para um largo pátio de concreto — havia três portas gigantescas, com talvez trinta metros de altura. A mais distante estava aberta e Zaphod entrou por ela.

No interior tudo era escuridão, poeira e confusão. Gigantescas teias de aranha cobriam todas as coisas. Parte da infra-estrutura do prédio tinha desabado, parte da parede dos fundos tinha desmoronado e uma grossa camada de poeira de vários centímetros de espessura cobria o chão. Por entre a escuridão formas enormes erguiam-se envoltas em brumas, cobertas de escombros.

Essas formas eram ora cilíndricas, ora bulbosas, às vezes ovais, ou melhor, em forma de ovos quebrados. A maioria delas estava partida ao meio ou caindo aos pedaços, algumas eram meros esqueletos.

Eram todas naves espaciais abandonadas.

Zaphod perambulou frustrado por entre os destroços. Não havia ali nada que se aproximasse ainda que remotamente do aproveitável. Até uma simples vibração de um passo seu fazia aqueles destroços precários desabarem mais ainda.

Na direção dos fundos do prédio havia uma velha nave, um pouco maior que as demais, e mergulhada sob uma camada ainda mais espessa de pó e teias de aranha. Seu exterior, no entanto, parecia intacto. Zaphod aproximou-se com interesse, e ao fazê-lo, tropeçou numa linha de alimentação. Tentou afastar o fio e, para sua surpresa, descobriu que ainda estava conectado com a nave.

Para seu total assombro, percebeu que a linha de alimentação estava fazendo um leve ruído.

Olhou para a nave, incrédulo, e então para o fio em suas mãos. Arrancou o paletó e jogou fora. Engatinhando, seguiu o fio até o ponto onde ele se conectava com a nave. A conexão estava em bom estado e o som da vibração do fio era mais perceptível.

Seu coração batia acelerado. Limpou um pouco do encardido e encostou o ouvido contra a parede da nave. Ouviu apenas um barulho apagado e indeterminado.

Vasculhou fervorosamente os escombros que estavam no chão à sua volta e encontrou um pequeno pedaço de cano e um copinho de plástico nãobiodegradável. Com isso montou um estetoscópio que colocou contra a parede da nave.

O que ele ouviu fez seus cérebros darem saltos mortais.

A voz dizia:

"As Linhas de Cruzeiro Transestelar gostariam de pedir desculpas aos passageiros pela demora em levantar vôo. Estamos no momento à espera do embarque do nosso suprimento de lencinhos umedecidos de limão para seu conforto, frescor e higiene durante a viagem. Por enquanto agradecemos sua paciência. A tripulação estará brevemente servindo café e biscoitos outra vez".

Zaphod deu um passo para trás olhando embasbacado para a nave. Andou ao redor por alguns instantes, perplexo. Nisso deparou subitamente com uma gigantesca plataforma de embarque ainda suspensa, mas só por um suporte, no teto acima dele. Estava encardida, mas algumas das cifras ainda podiam ser discernidas.

Os olhos de Zaphod investigaram as cifras e fizeram então uns breves cálculos. Arregalou os olhos.

— Novecentos anos... — murmurou para si mesmo. Isso era há quanto tempo a nave estava atrasada.

Dois minutos mais tarde ele estava a bordo.

Assim que passou pela cabine de descompressão o ar que o recebeu era fresco e agradável — o ar-condicionado ainda estava funcionando. As luzes ainda estavam acesas.

Da pequena câmara de entrada saiu num corredor estreito e foi andando por ele nervosamente.

De repente uma porta se abriu e apareceu uma figura diante dele.

— Por favor, retorne ao seu lugar, senhor — disse uma aeromoça andróide, que deu as costas para ele e prosseguiu pelo corredor.

Quando seu coração voltou a bater ele a seguiu. Ela abriu a porta no final do corredor e entrou.

Ele a seguiu porta adentro.

Estavam agora no compartimento de passageiros e o coração de Zaphod parou outra vez por um momento.

Em cada poltrona estava sentado um passageiro, atado a ela. Os cabelos dos passageiros eram longos e despenteados; suas unhas, compridas; os homens tinham barba.

Todos eles estavam claramente vivos — mas dormindo.

Zaphod sentiu calafrios de horror.

Caminhou pelo corredor entre as poltronas como num sonho. Quando ele estava no meio do caminho a aeromoça tinha chegado ao fim. Ela virou e disse:

— Boa-tarde, senhoras e senhores — falou suavemente —, agradecemos pela compreensão desta leve demora. Levantaremos vôo assim que pudermos. Se acordarem agora, servirei café e biscoitos. Houve um breve resmungar. Nesse momento todos os passageiros acordaram. Acordaram berrando e tentando arrancar os cintos e equipamentos de segurança que os mantinham presos às poltronas. Gritaram, berraram e se esganiçaram até Zaphod achar que seus ouvidos iam explodir.

Bufavam e se contorciam enquanto a aeromoça pacientemente vinha pelo corredor colocando uma bandeja de café e biscoitos em frente a cada um deles.

Então um deles ergueu-se de sua poltrona. Virou-se e olhou para Zaphod. A pele de Zaphod parecia querer sair-lhe do corpo. Ele também se virou e saiu correndo da confusão.

Atravessou a porta e voltou ao outro corredor. O homem o perseguiu. Correu num frenesi até o fim do corredor, atravessou a câmara de entrada e foi em frente. Chegou à cabine de comando, bateu e trancou a porta atrás de si. Apoiou-se na porta, ofegante.

Em questão de segundos, alguém começou a bater à porta.

De algum lugar na cabine de comando uma voz metálica o advertia.

— Os passageiros não têm permissão de permanecer na cabine de comando. Por favor, retorne ao seu assento e aguarde a decolagem. Café e biscoitos estão sendo servidos. Aqui quem fala é seu piloto automático. Por favor, retorne ao seu assento.

Zaphod não disse nada. Estava ofegante, atrás dele alguém continuava a bater à porta.

— Por favor, retorne ao seu assento — repetiu o piloto automático. — Os passageiros não têm permissão de permanecer na cabine de comando.

— Eu não sou passageiro — arquejou Zaphod.

— Por favor, retorne ao seu assento.

— Eu não sou passageiro! — gritou Zaphod mais uma vez.

— Por favor, retorne ao seu assento.

— Eu não sou... alô, está me ouvindo?

— Por favor, retorne ao seu assento.

— Você é o piloto automático? — perguntou Zaphod.

— Sou — disse a voz do painel de comando.

— É o encarregado desta nave?

— Sou — disse a voz novamente —, houve um atraso. Os passageiros devem ser mantidos entretidos para seu conforto e conveniência. Serve-se café e biscoitos a cada ano, após o quê os passageiros voltam ao entretenimento para seu conforto e conveniência. Decolaremos assim que os suprimentos de vôo estiverem completos. Pedimos desculpa pela demora.

Zaphod afastou-se da porta, a que tinham parado de bater. Aproximou-se do painel de comando.

— Demora? — gritou. — Você viu o mundo do lado de fora desta nave? É uma terra perdida, um deserto. A civilização apareceu e se foi, cara. Não há

lencinhos umedecidos em limão para chegar de lugar nenhum!

— Ao que indicam as estatísticas — prosseguiu o piloto automático empertigadamente —, outras civilizações hão de se formar. Um dia haverá

lencinhos de papel umedecidos em limão. Até lá teremos uma pequena demora. Por favor, retorne ao seu assento.