— Mas...
Mas nesse instante a porta se abriu. Zaphod voltou-se para ver o homem que o perseguira. Estava carregando uma grande mala. Estava vestido com elegância e tinha os cabelos curtos. Não tinha barba nem unhas compridas.
— Zaphod Beeblebrox — disse ele. — Meu nome é Zarniwoop. Creio que você
estava querendo me ver.
Zaphod Beeblebrox estremeceu. Suas bocas diziam frases desconexas. Caiu sentado numa cadeira.
— Cara, cara, de onde você apareceu, cara? — disse ele.
— Eu estava aqui a sua espera — disse, num tom de homem de negócios. Largou a mala e sentou-se em outra cadeira.
— Estou contente que tenha seguido as instruções — prosseguiu. — Estava um pouco preocupado que você tivesse saído de meu escritório pela porta e não pela janela. Nesse caso você teria entrado numa enrascada. Zaphod sacudiu as cabeças e balbuciou.
— Quando você entrou pela porta de meu escritório você penetrou em meu Universo sintetizado eletronicamente — explicou. — Se tivesse saído pela porta teria voltado ao real. O artificial é controlado daqui. Deu uns tapinhas na mala.
Zaphod o observou com ressentimento e aversão.
— Qual é a diferença? — murmurou.
— Nenhuma — disse Zarniwoop —, são idênticos. Oh, exceto que os Lutadores Astrossapos são cinza-claro no Universo real, se não me engano.
— O que está acontecendo? — bradou Zaphod.
— Simples — disse Zarniwoop. Sua autoconfiança e presunção faziam Zaphod ferver.
— Muito simples — repetiu Zarniwoop —, descobri as coordenadas onde esse homem pode ser encontrado — o homem que rege o Universo — e descobri que seu planeta está protegido por um Campo de Improbabilidade. Para proteger meu segredo — e a mim — retirei-me à segurança deste Universo totalmente artificial e me escondi numa linha esquecida de cruzeiro. Estava em segurança. Enquanto isso, você e eu...
— Você e eu? — disse Zaphod furioso. — Quer dizer que eu te conhecia?
— Conhecia — disse Zarniwoop. — Nós nos conhecíamos bem.
— Eu não tinha bom gosto — disse Zaphod, e assumiu um silêncio emburrado.
— Enquanto isso, eu e você combinamos que você roubaria a nave movida a Improbabilidade Infinita — a única que poderia alcançar o mundo do regente do Universo — e a traria a mim aqui. Isto você fez agora, acredito, e lhe dou meus parabéns. — Dirigiu-lhe um sorriso firme que Zaphod gostaria de ter acertado com um tijolo.
— Ah, e caso você esteja querendo saber — acrescentou Zarniwoop —, este Universo foi criado especificamente para que você viesse a ele. Você é
portanto a pessoa mais importante deste Universo. Você jamais — prosseguiu com um sorriso ainda mais tijolável — teria sobrevivido ao Vórtice de Perspectiva Total no Universo real. Vamos?
— Aonde? — disse Zaphod, emburrado. Sentia-se demolido.
— Ã sua nave. Coração de Ouro. Acredito que você a trouxe, não?
— Não.
— Onde está o seu paletó? Zaphod o encarou, misticamente.
— Meu paletó? Eu o tirei, está lá fora.
Zarniwoop levantou-se e fez um gesto para que Zaphod o acompanhasse. Na câmara de entrada, puderam ouvir os gritos dos passageiros sendo alimentados com café e biscoitos.
— Não vinha sendo uma experiência muito agradável esperar por você —
disse Zarniwoop.
— Não muito agradável para você! — berrou Zaphod. — O que você acha... Zarniwoop levantou um dedo pedindo silêncio enquanto abria a porta que dava para o exterior. A poucos metros dali acharam o paletó de Zaphod sobre os escombros.
— Uma nave muito notável e poderosa — disse Zarniwoop. — Observe. Enquanto observavam, o bolso do paletó inchou subitamente. Rasgou-se e rompeu-se. O pequeno modelo de metal do Coração de Ouro que Zaphod intrigara-se de achar no seu bolso estava crescendo.
Crescia, continuava a crescer. Após alguns minutos atingiu seu tamanho natural.
— A um Nível de Improbabilidade de... — disse Zarniwoop — de... ah, sei lá, mas algo muito alto.
Zaphod balançava.
— Quer dizer que eu a tinha comigo o tempo todo? Zarniwoop sorriu. Pegou sua mala e abriu.
Girou um único botão dentro dela.
— Adeus, Universo artificial — disse. — Olá. Universo real. O cenário diante deles desvaneceu vagamente c reapareceu exatamente como estava antes.
— Viu? — disse Zarniwoop. — Exatamente igual.
— Quer dizer — repetiu Zaphod por extenso — que eu a tinha comigo o tempo todo?
— Ah, sim — disse Zarniwoop —, claro. Essa era toda a questão.
— É o seguinte — disse Zaphod —, eu estou fora, daqui pra frente não conte comigo. Já tive o que queria com isso. Você brinque como quiser.
— Lamento, mas você não pode sair — disse Zarniwoop —, você está
entrelaçado no Campo de Improbabilidade. Você não pode escapar. Sorriu aquele sorriso que Zaphod desejara acertar e que desta vez acertou.
CAPITULO 13
Ford Prefect saltou para a ponte de comando do Coração de Ouro.
— Trillian! Arthur! — gritou. — Está funcionando! A nave foi reativada!
Trillian e Arthur estavam dormindo no chão.
— Venham, vocês, estamos indo, estamos saindo — disse, chutando-os para acordá-los.
— Oi, gente — gorjeou o computador —, é muito legal estar mais uma vez com vocês, puxa vida, e eu só queria dizer que...
— Cala a boca — disse Ford —, diga-nos apenas em que inferno a gente está.
— Planeta Astrossapo B, e, cara, é um monturo! — disse Zaphod, correndo para a ponte. — Oi, turma, vocês devem estar tão maravilhosamente felizes de me ver que não conseguem encontrar palavras para exprimir o quanto eu sou supimpa.
— O quanto é o quê? — disse Arthur, de olhos turvos, erguendo-se do chão e sem entender nada.
— Sei como vocês se sentem — disse Zaphod. — Sou tão sensacional que às vezes até eu fico sem palavras quando falo comigo mesmo. Ei, prazer em vêlos, Trillian, Ford, Homem-macaco. Ei, ahn, computador...?
— Oi, gente, sr. Beeblebrox, é realmente uma grande honra...
— Cale a boca e tire-nos daqui, rapidinho.
— Pra já, amigão, pra onde você quer ir?
— Qualquer lugar, não importa — gritou Zaphod. — Quer dizer, importa sim!
— disse de novo. — A gente quer ir para o lugar mais perto onde se possa comer!
— Pra já! — disse o computador feliz e uma massiva explosão chacoalhou a ponte.
Quando Zarniwoop entrou um minuto mais tarde, com um olho roxo, observou os quatro filetes de fumaça com interesse.
CAPITULO 14
Quatro
corpos
inertes
afundavam
num
redemoinho
de
escuridão.
A
consciência estava morta, o frio esquecimento arrastava os corpos para as profundezas do não ser. O troar do silêncio ecoava lugubremente a seu redor e eles afundaram por fim num mar escuro e amargo de um vermelho movediço que lentamente os engolfou, aparentemente para sempre.
Após o que pareceu uma eternidade o mar recuou e os deixou estendidos numa praia dura e fria, despojos da correnteza da Vida, do Universo e de Tudo.
Espasmos frios os sacudiam, luzes dançavam nauseantemente à sua frente. A praia dura e fria tombava e girava e então parava. Tinha um brilho escuro —