Num gesto extraordinário que não faz sentido tentar descrever, Zaphod Beeblebrox bateu em suas duas cabeças com dois de seus braços e em uma de suas coxas com o outro.
— Ei, caras — disse. — Que louco! Conseguimos! Finalmente chegamos aonde estávamos indo! Aqui é o Milliways!
— Milliways! — disse Ford.
— Sim, senhor — disse o garçom, garimpando paciência —, aqui é o Milliways, o Restaurante do Fim do Universo.
— Fim do quê? — perguntou Arthur.
— Do Universo — repetiu o garçom, com muita clareza e desnecessária distinção.
— Quando ele acabou? — perguntou Arthur.
— Dentro de poucos minutos, senhor. — Respirou fundo. Não precisava fazêlo, uma vez que seu corpo era suprido com a variedade peculiar de gases de que necessitava através de um pequeno dispositivo intravenoso atado a sua perna.
Há momentos, porém, em que não importa que metabolismo se tenha, é
preciso respirar fundo.
— Agora, se os senhores quiserem pedir finalmente seus drinques — disse —
, eu lhes mostrarei sua mesa.
Zaphod arreganhou dois sorrisos maníacos, passeou pelo bar pedindo quase todas as coisas.
CAPÍTULO 15
O Restaurante do Fim do Universo é um dos acontecimentos mais extraordinários em toda a história do abastecimento. Foi construído a partir dos restos fragmentários do... será construído a partir dos restos... ou seja, terá sido construído a essa altura, e de fato foi... Um dos maiores problemas encontrados em viajar no tempo não é vir a se tornar acidentalmente seu pai ou sua mãe. Não há nenhum problema em tornarse seu próprio pai ou mãe com que uma família de mente aberta e bem ajustada não possa lidar. Não há tampouco problema em mudar o curso da história — o curso da história não muda porque todas as peças se juntam como num quebracabeça. Todas as mudanças importantes ocorreram antes das coisas que deveriam mudar e tudo dá na mesma no final.
O problema maior é simplesmente gramatical, e a principal obra a ser consultada sobre esta questão é o tratado do Dr. Dan Streetmentioner, Manual dos 1001 Tempos Gramaticais para o Viajante no Tempo. Ensina, por exemplo, a descrever algo que estava prestes a acontecer com você no passado antes de você evitá-lo pulando no tempo para dois dias depois com a intenção de evitá-lo. O evento é descrito distintamente conforme você esteja referindose a ele do seu ponto natural no tempo, de uma época no futuro posterior ou numa época no passado posterior ao evento e posteriormente vai ficando mais e mais complicado caso você esteja viajando de cá para lá no tempo na tentativa de tornar-se seu próprio pai ou sua própria mãe. A maioria dos leitores chega até o Futuro Semicondicional Subinvertido Plagal do Pretérito Subjuntivo Intencional antes de desistir; e de fato, em edição mais recente desse livro as páginas subseqüentes têm sido deixadas em branco para economizar custos de impressão.
O Guia da Galáxia para Caronas passa por cima desta abstração acadêmica, parando apenas numa nota lembrando que o termo "Futuro Perfeito" foi abandonado assim que se descobriu que não é.
Resumindo:
O Restaurante do Fim do Universo é um dos acontecimentos mais extraordinários em toda a história do abastecimento.
É
construído
a
partir
dos
restos
fragmentários
de
um
planeta
ocasionalmente destruído que é (seraria tendo a ser) fechado numa vasta bolha de tempo e projetado adiante no tempo até o momento preciso do Fim do Universo.
Isto é, diriam muitos, impossível.
Nele, os fregueses tomam (irão ter tomando) seus lugares nas mesas e comem (irão ter comendo) suntuosas refeições contemplando (a estarão tendo contemplarem) toda a criação explodir à sua volta.
Isto é, muitos diriam, igualmente impossível.
Pode-se chegar (irá poder-se ter-se então estado estando-se a chegar) a qualquer mesa que se deseje sem reserva prévia (pós-pré-quanda) porque se pode fazer a reserva retrospectivamente, ao se voltar para sua própria era (poder-se-á ter tido a reserva sendo a ser feita pospectivamente antes de se tivera havido de retorno ao retrolar).
Isto é, muitos agora insistiriam, absolutamente impossível. No Restaurante, pode-se encontrar e acompanhar numa refeição (vir a por ter encontrar-se e jantivera juntos) um fascinante corte transversal de toda a população do espaço e do tempo.
Isto, pode-se explicar pacientemente, também é impossível. Pode-se ir lá quantas vezes se desejar (ir reter ido desejar-se... e por aí afora — para mais informações de correção gramatical, consulte o livro do Dr. Streetmentioner) e se ter a certeza de que não se encontrará consigo próprio, por causa do embaraço que isso costuma ocasionar. Isto, mesmo se o resto fosse verdadeiro, o que não acontece, é
patentemente impossível, dizem os céticos.
Tudo o que você precisa fazer é depositar um centavo numa conta de poupança em sua própria era, e quando chegar ao Fim dos Tempos, o cômputo dos juros significará que o preço fabuloso de sua refeição já estará pago. Isto, alegam muitos, não só é meramente impossível como também claramente insano, e é por isso que os executivos de publicidade do sistema estelar de Bastablon vieram com o slogan: "Se você fez seis coisas impossíveis esta manhã, por que não arredondar com uma refeição no Milliways, o Restaurante do Fim do Universo?".
CAPÍTULO 16
No bar, Zaphod já estava ficando acabado como uma salamandra aquática. Já
estava batendo com uma cabeça na outra e seus sorrisos estavam fora de sincronismo. Estava miseravelmente feliz.
— Zaphod — disse Ford —, enquanto você ainda é capaz de falar, poderia me contar que fóton foi que aconteceu com você? Por onde você andou? Por onde você andou? É um assunto de menor importância, mas eu gostaria de vê-lo esclarecido.
A cabeça esquerda de Zaphod ficou sóbria, deixando a direita afundar na obscuridade da bebida.
— Pois é — disse —, eu estive por aí. Querem que eu encontre o homem que rege o Universo, mas eu não estou nem aí em encontrá-lo. Acho que esse homem não deve saber cozinhar.
Sua cabeça esquerda ficou olhando a direita dizer isso e concordou:
— Ê verdade, está certo, agora bebe mais um pouco. Ford tomou outra Dinamite Pangaláctica, o drinque descrito como o equivalente alcoólico do assalto — caro e faz mal à cabeça. O que quer que tivesse acontecido, Ford decidiu, não interessava tanto assim.
— Escuta, Ford — disse Zaphod —, está tudo em paz, tudo em cima.
— Quer dizer que está tudo sob controle.
— Não — disse Zaphod —, eu não quero dizer que está tudo sob controle. Senão não estaria tudo em cima e em paz. Se você quer saber o que ocorreu, digamos apenas que eu tinha toda a situação em meu bolso, OK?
Ford sacudiu os ombros.
Zaphod riu em cima de sua bebida. Ela despejou, desceu pelo copo e começou a escorrer pelo balcão de mármore.
Um cigano celestial de pele escura aproximou-se tocando violino elétrico para eles até que Zaphod lhe deu bastante dinheiro e ele concordou em h embora.
O cigano aproximou-se de Trillian e Arthur, que estavam sentados num outro ponto do bar.