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— Quer dizer que estamos presos aqui nesta nave? — exclamou Ford, perdendo de súbito a paciência com toda a charada. — Quando vocês devem chegar ao planeta que vão colonizar?

— Ah, estamos perto, eu acho — disse o Capitão. — A qualquer segundo, agora. Na verdade já é hora de eu sair desta banheira, provavelmente. Oh, se bem que não sei, por que sair agora que está tão bom?

— Então nós vamos mesmo aterrissar num minuto?— — disse Arthur.

— Bem, não aterrissar exatamente, não tanto aterrissar, mas... ahn...

— Do que você está falando? — perguntou Ford asperamente.

— Bem — disse o Capitão, escolhendo as palavras com cuidado —, acho que se bem me lembro, fomos programados para trombarmos com o planeta.

— Trombar? — gritaram Ford e Arthur.

— Ahn, é — disse o Capitão —, é, faz tudo parte do plano, eu acho. Havia um motivo terrivelmente bom para isso, mas não consigo me lembrar no momento. Era qualquer coisa com... ahn... Ford explodiu:

— Vocês são um bando de malditos malucos inúteis!

— gritou.

— Ah, é, era isso — disse o Capitão com um sorriso radiante —, era esse o motivo.

CAPITULO 25

O Guia da Galáxia para Caronas diz isso a respeito do planeta de Golgafrincham: é um planeta com uma história antiga e misteriosa. Rico em lendas, vermelho, e às vezes verde, com o sangue daqueles que lutaram em tempos idos para conquistá-lo; terra de paisagens áridas e ressequidas, de ar doce e estonteante com o aroma das fontes perfumadas que brincam entre suas pedras quentes e poeirentas e nutrem os liquens escuros abaixo delas; terra de mentes febris e imaginações intoxicadas, particularmente entre os que experimentam esses liquens; terra também de idéias frescas, à sombra, entre os que aprenderam a amaldiçoar os liquens e achar uma árvore para sentar embaixo; terra também de sangue, aço e heroísmo; terra do corpo e do espírito. Esta era sua história.

Em toda esta história antiga e misteriosa, as figuras mais misteriosas eram sem dúvida as dos Grandes Poetas do Círculo de Arium. Estes Poetas do Círculo viviam nos caminhos de montanhas remotas, onde ficavam à espera de pequenos grupos de viajantes incautos para fazer um círculo em torno deles e apedrejá-los.

E quando os viajantes gritavam, perguntando por que eles não iam embora escrever poemas em vez de ficar importunando as pessoas com essa estaria de jogar pedras, eles paravam subitamente e entravam com uma das setecentas e noventa e quatro grandes Canções dos Ciclos de Vassilian. Tais canções eram de extraordinária beleza, e de comprimento ainda mais extraordinário, e todas se encaixavam exatamente no mesmo padrão.

A primeira parte de cada canção narrava como havia deixado a Cidade de Vassilian um grupo de cinco príncipes sábios com quatro cavalos. Os príncipes, que são naturalmente bravos, nobres e judiciosos, viajam a terras distantes, combatem ogres gigantes, seguem filosofias exóticas, tomam chá

com deuses sobrenaturais e salvam lindos monstros de princesas vorazes antes de anunciarem que atingiram a luz e que suas andanças portanto estão con- cluídas.

A segunda parte, muito mais comprida, de cada canção falava sobre todas as brigas para quem ia voltar a pé.

Tudo isso repousava no passado remoto do planeta. Foi, no entanto, um desses excêntricos poetas quem inventou as estarias espúrias sobre uma catástrofe iminente, que permitiram ao povo de Golgafrincham livrar-se de todo um terço inútil de sua população. Os outros dois terços permaneceram firmemente em casa e levaram vidas cheias, ricas e felizes até que foram todos subitamente exterminados por uma doença virulenta contraída de um telefone sujo.

CAPÍTULO 26

Aquela

noite

a

nave

colidiu

com

um

planetinha

azul-esverdeado

completamente insignificante que dava voltas em torno de um pequeno sol amarelo nos confins inexplorados da extremidade do braço espiral ocidental da Galáxia.

Nas

horas

que

antecederam

a

colisão

Ford

Prefect

tinha

lutado

furiosamente, mas em vão, para destravar os controles da nave e tirá-la de sua rota preestabelecida. Tornara-se rapidamente aparente para ele que a nave tinha sido programada para entregar a carga em segurança, ainda que sem muito conforto, ao seu novo lar, mas estraçalhar-se irreparavelmente no processo.

Sua descida em chamas através da atmosfera destruíra a maior parte da superestrutura e da blindagem exterior, e o inglório mergulho de barriga num pântano lodacento deixou à população apenas algumas horas de escuridão para reviver e desembarcar a carga congelada e indesejada, pois a nave começava a afundar, enrijecendo seu corpo vagarosamente na lama estagnada. De vez em quando, durante a noite, sua silhueta aparecia recortada quando meteoros flamejantes — detritos de sua queda — riscavam o céu.

Na luz cinzenta antes do alvorecer, com um ruído obsceno, a nave afundou para sempre nas malcheirosas profundezas.

Quando o sol se levantou aquela manhã, lançou sua luz aguada e rarefeita sobre uma vasta área tomada por cabeleireiros, executivos de relações públicas, pesquisadores de opinião e os demais, todos gemendo e arrastandose desesperadamente para a terra seca. Um sol menos decidido teria provavelmente voltado di-reto para trás, mas este continuou seu caminho céu acima e após um tempo a influência de seus raios quentes começou a ter um efeito restaurador naquelas criaturas rastejantes.

Como não é de surpreender, um número incontável deles perdera-se no pântano durante a noite, e milhões de outros foram engolidos juntos com a nave, mas os que sobreviveram ainda se contavam às centenas de milhares e conforme o dia avançava, arrastavam-se para as terras dos arredores à

procura de alguns metros quadrados de chão firme onde cair e se recuperar do pesadelo.

Duas figuras moveram-se mais para diante. De uma colina próxima Ford Prefect e Arthur Dent assistiram ao horror do qual não se sentiam parte.

— Que golpe imundo de se aplicar — murmurou Arthur.

Ford riscava o chão com uma vareta e sacudiu os ombros.

— Uma solução criativa para um problema, eu diria.

— Por que as pessoas não podem simplesmente aprender a viver juntas em paz e harmonia? — disse Arthur.

Ford deu uma gargalhada muito alta.

— Quarenta e dois! — disse, com um sorriso malicioso. — Não, não serve. Deixa pra lá.