— OK — disse Zaphod. — Por que você não me conta qual é o grande segredo?
Tente-me.
— Zaphod, você sabia quando era Presidente da Galáxia, assim como também sabia Yooden Vranx antes de você, que o Presidente não é nada. Um zero à
esquerda. Em algum lugar nebuloso por trás de tudo há um outro homem, um ser, algo, com poder definitivo. Esse homem, ou ser, ou algo, você tem que descobrir — o homem que controla esta Galáxia, e — suspeitamos — outras. Talvez todo o Universo.
— Porquê?
— Por quê? — exclamou o fantasma pasmo. — Por quê? Olhe à sua volta, rapaz. Parece-lhe que está tudo em boas mãos?
— Está tudo bem.
O velho fantasma lançou-lhe um olhar ameaçador.
— Não vou discutir com você. Você vai pegar esta nave, a nave movida a Improbabilidade Infinita, e vai simplesmente levá-la até onde ela é
necessária. Você vai fazer isso. Não pense que pode escapar de seu propósito. O Campo de Improbabilidade controla você, você está sob seu domínio. O que é isso?
Ele se referia a Eddie, o Computador da Espaçonave, dando tapinhas em um de seus terminais. Zaphod disse isso a ele.
— O que ele está fazendo?
— Está tentando — disse Zaphod, com um maravilhoso autocontrole — fazer chá.
— Ótimo — disse o bisavô —, eu aprovo. Agora, Zaphod — ele virou-se sacudindo um dedo para ele. — Não sei se você é realmente capaz de sair-se bem no seu trabalho. Acho que você não será capaz de evitá-lo. Porém, já
estou morto há muito tempo e estou cansado demais para ficar me preocupando tanto como já me preocupei. O motivo principal de eu ter ajudado vocês é que eu não podia suportar a idéia de você e esses seus amigos moderninhos largados pelos cantos aqui em cima. Entendeu?
— Entendi. Valeu, obrigado.
— Ah, e, Zaphod...
— Que é?
— Se você alguma vez achar que precisa de ajuda novamente, se tiver algum problema, se precisar de uma mão salvadora num momento difícil...
— Sim?
— Por favor, não hesite em se danar.
Dentro do espaço de um segundo um raio de luz atravessou das mãos secas do velho fantasma até o computador, o fantasma desapareceu, a ponte de comando foi tomada por uma nuvem crepitante de fumaça, e a nave Coração de Ouro saltou através de dimensões desconhecidas do tempo e do espaço.
CAPITULO 4
A dez anos-luz dali, o sorriso de Gag Halfrunt abriu-se mais e mais. Vendo a imagem no seu visor, transmitida pelo subéter da ponte de comando da nave vogon, viu os últimos frangalhos do campo de força da nave Coração de Ouro serem destroçados, e a própria nave desaparecer em fumaça.
— Ótimo — pensou.
O fim dos últimos sobreviventes da demolição do planeta Terra que tinha encomendado, pensou.
O
fim
definitivo
dessa
experiência
perigosa
(para
a
profissão
psiquiátrica) e subversiva (também para a profissão psiquiátrica) para descobrir a Pergunta da Questão Fundamental da Vida, do Universo e de Tudo, pensou.
Ia festejar essa noite com os colegas, e amanhã de manhã eles encontrariam novamente seus pacientes desnorteados, infelizes e lucrativos, seguros de que o Sentido da Vida não seria revelado agora de uma vez por todas, pensou.
— Essas coisas de família são sempre embaraçosas,
— disse Ford a Zaphod quando a fumaça começou a desvanecer. Ele parou e deu uma olhada à sua volta.
— Cadê o Zaphod? — disse.
Arthur e Trillian olharam à volta, confusos. Estavam pálidos e atrapalhados e não sabiam onde Zaphod estava.
— Marvin! — disse Ford. — Onde está Zaphod? Um momento mais tarde ele disse:
— Onde está Zaphod?
O canto do robô estava vazio.
A nave estava completamente silenciosa. Flutuava na escuridão do espaço. De vez em quando balançava e oscilava. Todos os instrumentos estavam sem funcionar e todos os visores estavam sem funcionar. Consultaram o computador. Ele disse:
— Lamento, mas estou temporariamente fechado para qualquer comunicação. Por enquanto, fiquem com um pouco de música suave.
Eles desligaram a música suave.
Procuraram em cada canto da nave, cada vez mais atônitos e alarmados. Todos os lugares estavam quietos e silenciosos. Não havia em parte alguma qualquer sinal de Zaphod ou de Marvin. Uma das áreas em que procuraram foi o corredorzinho onde ficava a máquina Nutrimática.
Na bandeja da Sintetizadora Nutrimática de Bebidas estavam três xícaras de porcelana, uma jarra de porcelana de leite, uma chaleira de prata contendo o melhor chá que Arthur já tinha experimentado, e um bilhetinho impresso onde estava escrito: "Sirvam-se".
CAPITULO 5
Beta da Ursa Menor é, segundo alguns, um dos lugares mais estarrecedores do Universo conhecido.
Embora seja torturantemente rica, pavorosamente ensolarada e cheia de pessoas magnificamente interessantes, não deixa de ser significativo o fato de que quando uma edição recente da revista Playbeing publicou um artigo com uma manchete que dizia "Quando você está cansado de Beta da Ursa Menor está
cansado da vida" a taxa de suicídios quadruplicou da noite para o dia. Não que haja noites em Beta da Ursa Menor.
É um planeta da zona ocidental que por um capricho inexplicável e algo suspeito da topografia consiste quase inteiramente de litorais subtropicais. Por um capricho igualmente suspeito do tempo, quase sempre é sábado à tarde pouco antes de fecharem os bares da praia.
Nenhuma explicação adequada para. isso pode ser obtida com as formas de vida dominantes de Beta da Ursa Menor, que passam a maior parte do tempo procurando atingir a iluminação espiritual correndo ao redor das piscinas, ou convidando inspetores do Departamento Geo-Temporal da Galáxia a
"compartilharem da agradável anomalia do dia". Há apenas uma cidade em Beta da Ursa Menor, e só é chamada de cidade porque aí as piscinas ficam mais próximas uma das outras do que nos outros lugares.
Se você chegar à Cidade Luz pelo ar — e não há outro meio de chegar, não há estradas nem instalações portuárias — se você não puder voar eles não querem que você veja a Cidade Luz — você vai entender por que ela tem esse nome. Lá o sol brilha mais, refletindo-se nas piscinas, reluzindo nas calçadas brancas com palmeiras, cintilando nos pontinhos bronzeados e saudáveis que passeiam por elas, fulgurando nas chácaras, nos bares da praia e tudo o mais.
Mais particularmente, ele reluz num prédio, um edifício bonito e alto que consiste de duas torres brancas de trinta andares ligadas por uma ponte na metade da altura.
O edifício é a sede de um livro, e foi construído ali com o dinheiro proveniente de um extraordinário processo judicial de copyright disputado entre os editores do livro e uma companhia de cereais para o café da manhã. O livro é um guia, um livro de viagem.
É um dos mais notáveis, certamente dos mais bem-sucedidos livros já
publicados pelas editoras da Ursa Menor
— mais popular do que A Vida Começa aos Quinhentos e Cinqüenta, mais vendido que A Teoria da Explosão Que Deu Origem ao Universo — Uma Visão Pessoal de T. Eccentrica Gallumbits (a prostituta de três seios de Eroticon Seis) e mais controvertido do que o último livro arrasador de Oolon Colluphid, Tudo o Que Você Nunca Quis Saber Sobre o Sexo Mas Foi Forçado a Descobrir.