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— O quê? — disse ele ao telefone. — Sim, eu passei seu recado para o Sr. Zarniwoop, mas creio que ele está desocupado demais para vê-lo no momento. Está num cruzeiro intergaláctico.

Acenou com um tentáculo petulante para uma das pessoas encardidas, que estava desesperadamente tentando chamar sua atenção. O tentáculo petulante era para mandar a pessoa desesperada olhar para um aviso na parede à sua esquerda e não interromper um telefonema importante.

— Sim — disse o inseto —, ele está em seu escritório, mas está num cruzeiro intergaláctico. Muito obrigado por ter telefonado. — Bateu o telefone.

— Leia o aviso — disse ele ao homem desesperado e furioso que estava tentando fazer uma reclamação a respeito de uma das mais absurdas e perigosas das informações incorretas contidas no livro.

O Guia da Galáxia para Caronas é um companheiro indispensável para todos aqueles que estão interessados em dar sentido à vida num Universo infinitamente complexo e confuso, pois apesar de não ter esperanças de ser útil e informativo em todas as questões, ele pelo menos traz a alegação tranqüilizadora

de

que

onde

ele

está

incorreto,

está

pelo

menos

definitivamente incorreto. Em casos de maior discrepância, é sempre a realidade que está errada.

Era esse o âmago do que dizia o aviso. Ele dizia: "O Guia é definitivo. A realidade é frequentemente incorreta".

Isso tem levado a conseqüências interessantes. Por exemplo, quando os editores do Guia foram processados pelas famílias daqueles que tinham morrido em resultado de terem tomado literalmente o verbete sobre o planeta Traal (dizia: "As Feras Vorazes Paponas frequentemente fazem uma boa refeição para os turistas visitantes" em vez de "As Feras Vorazes Paponas frequentemente fazem uma boa refeição dos turistas visitantes"), eles alegaram que a primeira versão da frase era esteticamente mais agradável, intimaram um poeta qualificado para declarar sob juramento que beleza é

verdade e verdade é beleza e esperaram assim provar que a parte culpada no caso era a própria Vida por deixar de ser tanto bela quanto verdadeira. Os juizes concordaram, e num discurso comovente sustentaram que a própria Vida era um desacato àquele tribunal e confiscaram-na prontamente de todos os presentes antes de saírem para uma agradável partida de ultragolfe ao cair da noite.

Zaphod Beeblebrox entrou no saguão. Dirigiu-se a passos largos ao inseto recepcionista.

— OK — disse ele. — Onde está Zarniwoop? Leve-me até Zarniwoop.

— Perdão, cavalheiro? — disse o inseto friamente. Não gostava que se dirigissem a ele dessa maneira.

— Zarniwoop. Chame-o, entendeu? Chame-o já.

— Bem, cavalheiro — falou asperamente a frágil criatura —, se o senhor ficar frio...

— Olha aqui — disse Zaphod. — Eu estou por aqui de frio, entendeu? Estou tão fantasticamente frio que você poderia conservar um pedaço de carne dentro de mim durante um mês. Agora, quer se mexer antes que eu estoure?

— Bem, se o senhor me deixar explicar, cavalheiro — disse o inseto batendo na mesa com o mais petulante dos tentáculos à sua disposição —, lamento, mas não será possível no momento, pois o Sr. Zarniwoop está num cruzeiro intergaláctico.

Inferno, pensou Zaphod.

— Quando ele volta? — perguntou.

— Quando volta? Ele está em seu escritório. Zaphod parou para tentar arrumar essa idéia em sua mente. Não conseguiu.

— Esse cara está num cruzeiro intergaláctico... no escritório dele? —

exclamou inclinando-se e agarrando o tentáculo que batia na mesa. — Escuta, três olhos — disse —, não tente me enrolar, eu tomo coisas mais estranhas do que você pode imaginar no meu café da manhã.

— Bem, quem você pensa que é, querido? — estrebuchou o inseto batendo as asas com furor. — Zaphod Beeblebrox ou algo assim?

— Conte as cabeças — disse Zaphod num tom áspero. O inseto piscou para ele. Piscou novamente.

— Você é Zaphod Beeblebrox? — guinchou.

— Sou — disse Zaphod —, mas fala baixo senão todo mundo vai querer.

— Aquele Zaphod Beeblebrox?!

— Não apenas um Zaphod Beeblebrox, você não sabia que eu venho em seis embalagens?

O inseto chacoalhava os tentáculos agitado.

— Mas, senhor — gritou —, eu acabo de ouvir uma notícia no rádio subéter. Dizia que você estava morto...

— É, é verdade — disse Zaphod —, só que eu ainda não parei de me mexer. Agora, onde é que eu encontro Zarniwoop?

— Bem, senhor, o escritório dele fica no décimo quinto andar, mas...

— Mas ele está num cruzeiro intergaláctico, tá bom, mas como eu faço para encontrá-lo?

— Os Transportadores Verticais de Pessoas da Companhia Cibernética de Sírius ficam naquele canto, senhor. Mas, senhor...

Zaphod já ia se virando para lá. Voltou-se para o inseto.

— O que é?

— Posso lhe perguntar por que o senhor deseja ver o Sr. Zarniwoop?

— Pode — respondeu Zaphod, que também não tinha clareza quanto a esse ponto. — É que eu disse para mim mesmo que eu tinha que fazer isso.

— Como, senhor?

Zaphod inclinou-se para ele, como quem conspira.

— Acabo de me materializar a partir de ar rarefeito em um de seus cafés —

disse — como resultado de uma discussão com o fantasma do meu bisavô. Mal eu cheguei ali, o antigo eu, o que operou meu cérebro, apareceu na minha cabeça e disse: "Vai ver o Zarniwoop". Nunca tinha ouvido falar nesse cara. Isso é

tudo o que eu sei. Isso e o fato de que eu tenho que encontrar o homem que rege o Universo.

Deu uma piscada.

— Senhor Beeblebrox — disse o inseto com reverência — o senhor é tão esquisito que devia estar no cinema.

— É — disse Zaphod dando um tapinha na reluzente asa cor-de-rosa da criatura —, e você, menino, devia estar na vida real.

O inseto fez uma pausa momentânea para recuperar-se da agitação e então estendeu um tentáculo para atender um telefone que estava tocando. Uma mão metálica o conteve. — Perdão — disse o dono da mão metálica com uma voz que teria feito um inseto mais sentimental cair em lágrimas. Este não era um inseto desse tipo, e ele não tolerava robôs.

— Pois não, senhor — disse, rispidamente —, posso ajudá-lo?

— Duvido — disse Marvin.

— Bem, nesse caso, se o senhor me der licença... — Seis telefones estavam tocando agora. Um milhão de coisas esperavam a atenção do inseto.

— Ninguém pode me ajudar — entoou Marvin.

— Sim, cavalheiro, bem...

— Não que alguém tenha tentado, é claro. — Marvin deixou cair lentamente a mão de metal. Inclinou a cabeça para a frente, ligeiramente.

— Ah, é? — disse acidamente o inseto.

— Não vale muito a pena ajudar um robô desprezível, né?

— Lamento, senhor, mas...

— Quero dizer, qual é a vantagem em ajudar um robô se ele não tem circuitos de gratidão?

— E o senhor não tem? — disse o inseto, que não parecia capaz de escapar da conversa.

— Nunca tive oportunidade de descobrir — informou Marvin.

— Escuta, seu monte de metal desajustado...