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Os olhos de Bond fixaram-se nos dois homens que estavam em pé na popa. Eram negros de pele pálida, envergando roupas caqui de marinheiro, com largos cinturões e chapéus de palha com longas palas. Estavam um ao lado do outro, equilibrando-se sob a lenta elevação da massa líquida. Um deles segurava um alto-falante e o outro manejava uma metralhadora instalada num tripé. Bond teve a impressão de que era uma metralhadora “Spandau”.

O homem com o alto-falante deixou que este caísse, e ele ficou oscilando numa tira, que lhe dava volta ao pescoço. Apanhou um binóculo e começou a vasculhar metro a metro da praia. Indistintos comentários chegavam aos ouvidos de Bond, por entre o ruído dos motores.

Bond percebeu que os olhos do binóculo começavam pelo promontório e depois percorriam a areia. As lentes detiveram-se entre as rochas e continuaram o seu passeio. Depois, voltaram. O murmúrio do comentário elevou-se ganhando animação. O homem passou o binóculo para o metralhador, que observou rapidamente, devolvendo-o logo ao dono. O observador gritou alguma coisa para o timoneiro. A lancha começou a se aproximar da praia. Agora estavam justamente diante dos recifes, em frente a Bond e à jovem. O observador ergueu novamente o binóculo, apontando-o para as rochas onde se encontrava escondida a canoa da jovem. Novamente a fala excitada chegou aos ouvidos de Bond, por sobre as águas. Mais uma vez o binóculo foi passado ao metralhador, que levou algum tempo observando. Dessa vez, ele fez um sinal de assentimento com a cabeça.

Bond pensou: agora vamos ter coisa; esses homens conhecem o ofício. Em seguida, viu que o metralhador se ocupava em carregar a arma. O duplo estalido metálico chegou aos seus ouvidos, por entre o matraquear do motor.

O observador ergueu o alto-falante e ligou-o. O eco produzido pelo amplificador chegou até Bond, conduzido pela superfície da água. A voz do homem ribombou pela baía:

— Alô, pessoal! Saiam daí e não serão feridos. Era uma voz educada, com sotaque americano.

— Agora, pessoal — trovejou a voz — depressa! Nós vimos quando vocês desembarcaram. Já descobrimos o bote sob os paus. Não somos tolos e não estamos brincando. Saiam daí com os braços levantados e não lhes acontecerá nada!

Não se ouviu nenhuma resposta. Apenas as ondas quebravam docemente na praia. Bond podia ouvir a respiração da jovem. Os guinchos agudos dos corvos marinhos chegavam-lhes de uma milha de distância, sobre o mar. O cano de escapamento dos motores diesel produzia um ruído desigual e gorgulhante, quando o intumescimento do mar cobria o orifício de descarga.

Silenciosamente Bond tocou o braço da jovem e disse-lhe:

— Fique mais perto. Alvo menor.

Ele sentiu o calor da jovem mais próximo de seu corpo, e o rosto de Honey raspou pelo seu braço. Bond sussurrou:

— Enterre-se na areia. Encolha-se. Cada polegada a menos ajudará.

Ele começou a se encolher cuidadosamente na depressão que tinham escavado para se abrigarem, e sentiu que ela fazia o mesmo.

O homem estava erguendo o seu alto-falante. A voz ribombou novamente.

— Muito bem, pessoal! Vocês irão ver que isso aqui não é para brincadeira. — Depois, levantou o polegar. O metralhador experimentou a arma fazendo alguns disparos para a copa dos mangues situados por trás da praia. Bond ouviu o rápido matraquear, tão seu conhecido, e do qual se despedira pela última vez diante das linhas alemãs, nas Ardenas. As balas produziam o velho som de pombos assustados, assobiando sobre sua cabeça. Depois fez-se silêncio.

À distância, Bond via a nuvem negra de corvos marinhos elevar-se, começando a fazer os seus amplos círculos. Seus olhos voltaram para a embarcação. O metralhador estava apalpando o cano da metralhadora, para ver se já estava aquecido. Os dois homens trocaram algumas palavras. O observador apanhou novamente o porta-voz.

— Está bem, pessoal. Vocês foram avisados.

Bond viu o cano da “Spandau” levantar-se e abaixar-se. O homem estava querendo começar com a canoa, entre as rochas. Bond sussurrou para a jovem: — Muito bem, Honey. Agüente firme. Mantenha-se abaixada. Não vai durar muito.

Ele sentiu que a mão da jovem apertava o seu braço, e pensou: “Coitada; ela está metida nisso por minha causa.” Ele inclinou-se para a direita a fim de cobrir a cabeça de Honey e afundou o rosto na areia.

Dessa vez o matraquear foi terrível. Balas ricocheteavam no flanco do promontório. Fragmentos de pedra saltavam para todos os lados, sobre a praia. Outras balas ricocheteavam e iam perder-se dentro da mata. Simultaneamente com todo aquele barulho ouvia-se o martelar contínuo da metralhadora.

Houve uma pausa. Nova carga, pensou Bond. Agora será para nós. Pôde sentir a jovem agarrando-se a ele. Seu corpo tremia todo, encostado ao seu flanco. Bond apanhou uma arma e apertou-a de encontro ao corpo. O matraquear da metralhadora recomeçou. As balas vinham zunindo, da linha de maré, em direção a eles. Ouviu-se uma sucessão de rápidas batidas. O tufo, acima deles, estava sendo reduzido a pedaços. “Zuip Zuip Zuip”. Era como se um chicote de aço estivesse retalhando os arbustos. Pedaços de lenha caíam sobre eles, cobrindo-os lentamente. Bond respirou um ar mais fresco, o que significava que eles agora estavam ao ar-livre. Estariam eles escondidos pelas folhas o pelos destroços? As balas continuaram deslocando-se ao longo da linha da costa. Em menos de um minuto a metralhadora parou.

O silêncio tornou a reinar. A jovem lamuriou-se docemente. Bond fê-la calar-se e apertou-a mais forte.

O alto-falante apregoou:

— Está bem, pessoal. Se vocês ainda têm ouvidos, saibam que voltaremos logo para recolher-lhes os pedaços. Vamos trazer os cães. Até à vista, por enquanto.

O ritmo do motor se acelerou, e através das folhas Bond pôde ver a popa da lancha afundar-se mais na água, enquanto a embarcação rumava rapidamente para oeste. Dentro de minutos já não se ouvia mais nada.

Bond ergueu a cabeça cautelosamente. A baía estava serena, e tudo como antes, exceto o cheiro de cordite e as rochas quebradas.

Bond fez a jovem levantar-se. Havia marcas de lágrimas em seu rosto. Ela olhou-o aterrada, e disse:

— Isso foi terrível. Por que eles o fizeram? Podíamos ter sido mortos.

Bond pensou naquela jovem que sempre abrira caminho, na vida, por si mesma, mas apenas contra a natureza. Conhecia o mundo dos animais, dos insetos e dos peixes, e tirava todo o partido desse conhecimento. Mas aquele era um pequeno mundo, limitado pelo sol, pela lua e pelas estações. Ela não conhecia o grande mundo das salas cheias de fumo, dos corredores de negócios, dos corredores e antecâmaras governamentais, dos cautelosos encontros em bancos de praças — numa palavra: ela nada conhecia da luta pelo poder e pelo dinheiro, travada por homens poderosos.

Bond disse:

— É isso mesmo, Honey, eles não passam de uma quadrilha de bandidos assustados conosco. Podemos enfrentá-los.

Bond colocou o braço à volta de seus ombros e continuou:

— E você esteve maravilhosa, brava como ninguém. Agora, vamos ao encontro de Quarrel para traçar os nossos planos. De qualquer forma, já é tempo de comermos alguma coisa. O que é que você costuma comer nessas expedições?

Deram meia-volta e seguiram pela praia em direção ao promontório. Depois de um minuto, ela disse com voz bem controlada:

— Oh, há uma porção de coisas por aí que se podem comer. Ouriços do mar principalmente, mas também bananas silvestres e outras coisas. Eu como e durmo durante dois dias, antes de vir aqui. Não preciso de nada.

Bond apertou-a mais fortemente, mas deixou cair o braço, assim que Quarrel apareceu ao longe. Quarrel vinha saltando sobre as rochas, e, em determinado momento, parou, olhando para baixo. Bond e Honey se aproximaram dele. A canoa da jovem estava cortada ao meio pelas balas. Honey deixou escapar um grito, olhando desesperadamente para Bond: