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O Douglas gosta da casa, ainda assim. Tem cinco quartos, e não parava de falar de forma irritante em todos os filhos com que os íamos encher.

– Não é maior do que o do Orson Dennings – saliento.

A nossa agente imobiliária, a Tammy, acena entusiasticamente com a cabeça.

– É apenas uma penthome de nível médio.

O Douglas ergue o olhar para as claraboias, pestanejando.

– Não percebo por que precisamos sequer de uma penthouse. Temos uma casa inteira!

Só percebi o quanto o meu marido é sovina quando começámos a procurar um apartamento. Qualquer coisa com mais de quatro quartos é «demasiado grande». E está sempre a falar da casa na ilha, como se alguém fosse passar todo o seu tempo em Longisland. Por favor.

– Estava a guardar o apartamento para o caso de precisar de vir à cidade para reuniões – lembra-me. – Mas não é lá que vamos viver. É na casa que vamos viver.

– Por que só podemos viver num lugar?

– Porque não somos loucos!

– Muitas pessoas mantêm uma residência nos subúrbios e outra na cidade – intervém a Tammy.

– Nós já temos uma residência na cidade! – argumenta o Douglas.

Está a ficar frustrado. O Douglas cresceu com uma mãe solteira num apartamento em Staten Island. Andou numa escola pública especial na baixa para miúdos supercromos e conseguiu formar-se no MIT através de uma combinação de bolsas, trabalhar enquanto estudava e empréstimos. Não está habituado a ter dinheiro. Não sabe o que lhe fazer.

Devia aprender comigo. O meu pai nunca conduziu nada a não ser carros usados e a minha mãe recortava cupões. Nenhuma peça de roupa comprada para a minha irmã mais velha era deitada fora até as outras três terem tido oportunidade de a usar também. Cada peça de roupa era usada até estar por um fio.

Odiava viver assim. Costumava ficar acordada na cama a fantasiar sobre como seria ser rica um dia. E, agora que o somos, por que não haveríamos de obter tudo o que sempre sonhámos?

Após termos passado as nossas infâncias a ser pobres, temos ambos dinheiro. E vamos agir como tal, raios.

– Douglas – passo-lhe um dedo pelo braço. – Sei que parece um pouco extravagante, mas é o meu apartamento de sonho. Já me apaixonei por ele.

– E – acrescenta a Tammy – o preço foi reduzido.

– Porque ninguém pode pagar este sítio ridículo – resmunga o Douglas, embora consiga perceber que parte da sua combatividade se esvaiu.

– Por favor, querido – pestanejo-lhe. – Será tão bom ter um sítio onde passar a noite quando trouxermos os meninos à cidade.

Resulta sempre. Sempre que quero levar a minha avante, tudo o que tenho de fazer é evocar os nossos potenciais e fictícios filhos. O Douglas quer quatro, mas não é ele quem tem de os parir.

– Está bem. – O seu olhar suaviza-se. – Porque não? Suponho que pode ser, tipo, uma dedução fiscal ou assim.

– Claro! – chilreia a Tammy, que é uma verdadeira tretas.

– Obrigada, querido. – Inclino-me para dar um beijo ao meu marido. Enquanto me envolve nos braços, não posso deixar de reparar que está um pouco mais flácido do que quando nos conhecemos, o que é o sentido oposto àquele em que devia ir. É algo em que terá de trabalhar mais, entre outras coisas. O Douglas ainda é verdadeiramente uma obra em curso.

50

Adoro almoçar com a minha amiga Audrey. Tem sempre os melhores mexericos.

Sempre sonhei ter uma vida assim. Em que estou livre a meio do dia para almoçar com uma amiga num dos restaurantes mais caros da cidade. Às vezes, quero beliscar-me para ter a certeza de que não é um sonho.

E, depois, há outras vezes em que estou com o Douglas e toda a minha energia é sugada. Às vezes, quero beliscá-lo a ele.

A Audrey parece estar prestes a rebentar com algum excelente mexerico. É casada com um homem bastante rico (e bastante mais velho do que ela), mas não tão rico como o Douglas. Jamais poderia pagar um apartamento como o que nós temos.

– Adivinha só – diz-me a Audrey, limpando os seus lábios cor de framboesa. É sempre o começo de algum mexerico espantoso. Não sei como ouve todas estas coisas. Eu jamais lhe contaria quaisquer segredos sobre mim. – O divórcio da Ginger Howell foi finalizado.

– Oh! – digo. – Esse foi difícil.

O marido da Ginger, Cárter, é o oposto do Douglas. É um tipo superpossessivo que nunca tirava os olhos dela sempre que estávamos numa festa. Quando saía connosco, a Ginger tinha sempre de lhe dizer exatamente quando ia sair, o que ia fazer e quando voltaria. Estou certa de que era esgotante para ela, mas havia também algo na forma como o marido a comandava que me parecia sensual. O Cárter é também devastadoramente atraente

e mantém-se em bastante boa forma, ao contrário do meu marido.

– Bem – diz a Audrey, mordiscando uma folha de alface. – Teve ajuda da Millie.

– Millie? Quem é essa?

A Audrey olha para mim, espantada, e eu sinto as maçãs do rosto corar. Será a Millie alguém importante no nosso círculo social de quem eu me esqueci, de algum modo? Mas, então, a Audrey responde:

– É uma empregada de limpeza.

– Certo...

– Mas tem uma reputação... – A Audrey baixa ligeiramente a voz, o que significa que está prestes a contar-me um mexerico realmente bom. – Ajuda as mulheres que têm problemas com os maridos. Trata do assunto por elas.

– Problemas?

Mentalmente, percorro a lista de maus hábitos do Douglas. Quando vai à casa de banho, usa sempre metade do rolo de papel higiénico. Come diretamente dos recipientes no frigorífico, apesar de eu lhe ter pedido repetidamente para não o fazer. Quando vamos a um restaurante fino, não se dá ao trabalho de aprender que garfo utilizar em que altura, e mesmo quando eu lho saliento ao início da refeição, continua a errar metade das vezes, o que me leva a pensar que está apenas a adivinhar.

Costumava pensar que podia mudar o Douglas. Que, com a minha ajuda, poderia tornar-se uma pessoa melhor, como eu. Mas só parece estar a piorar.

– Problemas graves – esclarece a Audrey. – Tipo, o marido da Ginger era abusivo. Batia-lhe. Chegou mesmo a partir-lhe o braço.

– Oh! – arquejo. Não posso dizer que tenha esse problema. O Douglas jamais me encostaria um dedo. Ficaria horrorizado com a ideia. – Que horror.

Ela assente sobriamente.

– Então, essa tal Millie dá uma ajuda. Diz às mulheres o que dizer e fazer. Arranja-lhes os recursos certos. Arranjou um excelente advogado à Ginger. E até ouvi dizer que ajudou algumas mulheres a desaparecer quando era essa a única opção.

– Uau.

– E não é tudo. – A Audrey mastiga uma das suas folhas de alface, limpando em seguida os lábios com o guardanapo. – Ouvi dizer que, num par de situações em que não havia saída, a Millie... enfim, despachou o tipo.

Tapo a boca.

– Não...

– Sim! – A Audrey parece encantada por estar a partilhar esta revelação. – É dura, acredita. É perigosa. Se achar que um tipo anda a fazer mal a uma mulher, fará basicamente tudo para o parar. Foi para a prisão por arrear porrada num tipo que estava a tentar violar a amiga. Matou-o.

– Céus...

A Audrey come outra garfada da sua salada e afasta-a.

– Estou tão cheia – anuncia, apesar de mal ter comido metade e de ser apenas uma pequena salada verde para entrada. – Wendy, de certeza que não queres comer nada?

Bebo um gole da minha mimosa.

– Tomei um pequeno-almoço enorme.

Ela semicerra os olhos na minha direção, possivelmente porque não pedi qualquer comida durante os nossos três últimos almoços juntas. Mas tomo sempre uma bebida.

– Suponho que não estejas a ter sorte com a questão do bebé – observa.

Amaldiçoo o facto de, há alguns meses, ter referido casualmente que o Douglas estava entusiasmado pela ideia de ter filhos em breve. Simplesmente escapou-me. Há já cerca de um ano que andamos a tentar ter um bebé. Não tem corrido bem – ou seja, não estou grávida.