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– Ainda não – respondo.

– Conheço um especialista em fertilidade fabuloso – diz a Audrey. – A Laura foi vê-lo, e olha para ela agora.

A nossa amiga Laura tem agora dois rapazinhos gémeos, que não paravam de gritar da última vez que me cruzei com ela na rua. Retraio-me.

– Deixa estar. Preferimos tentar à moda antiga.

– Sim, mas não vais para nova – lembra-me ela. – Tique-taque, Wendy.

– Tudo bem. Dá-me o nome desse médico.

Gravo o número no meu telemóvel, embora não tenha intenção de ligar. Mas, se o Douglas me perguntar pelo assunto, posso ao menos fingir que estou a fazer alguma coisa.

51

Passo 4: Perceber que Você e o Seu Marido São Completamente Errados Um para o Outro

Um ano antes

O Douglas entra na sala de jantar da nossa casa em Long Island e para bruscamente ao ver os dois lugares à mesa.

– Onde está o resto do nosso jantar? – pergunta. – Na cozinha?

– Não. – Já estou sentada à mesa, com um guardanapo no colo. – É isto o nosso jantar. A Blanca fez-nos uma salada.

O Douglas olha para a taça de verduras como se lhe tivessem servido veneno.

– É isto? É só isto o jantar?

Suspiro. Lembro-me de reparar na papada do Douglas no dia em que o conheci; nessa noite, jurei pô-lo em forma para que desaparecesse. Mas, quando muito, está ainda menos em forma do que nessa noite. Sinceramente, é como se nem se importasse.

– É alface, tomate, pepino e cenoura ralada – indico-lhe. – Comer salada todos os dias é o que me impede de ficar inchada. Devias experimentar.

– Wendy, és um pau de virar tripas – afirma. – Apavora-te a ideia de comer seja o que for que não seja uma folha de alface ou um talo de aipo.

Reteso-me.

– Estou só a manter-me saudável.

– Estou preocupado contigo. – De cenho franzido, senta-se diante da ofensiva salada. – Nunca comes nada. E ontem desmaiaste depois da tua corrida.

– Não desmaiei nada!

– Desmaiaste, sim! Estavas tão pálida, e depois sentaste-te no sofá e eu não te conseguia acordar. Estive quase a chamar uma ambulância.

– Estava cansada. Tinha acabado de fazer uma longa corrida – animo-me. – Por que não vens correr comigo amanhã?

-Jesus, não creio que conseguisse acompanhar-te.

Inclino a cabeça.

– Hum. Qual de nós é pouco saudável, então?

O Douglas coça o cabelo escuro.

– Além disso, talvez seja por seres tão magra que não consegues engravidar. Li que não é bom para a fertilidade.

– Oh, meu Deus – gemo. – Tem sempre de ir dar aí, não é? Já não podemos ter uma conversa em que não me culpes por ainda não ter engravidado?

O Douglas abre a boca para dizer qualquer coisa, mas depois parece mudar de ideias.

– Desculpa, tens razão.

Baixa os olhos para a salada à sua frente. Franze o nariz.

– Há algum molho nisto?

– É um vinagrete sem gordura.

– Não o vejo.

– É incolor.

Enfia o garfo na alface crocante e espeta alguns pedaços. Mete-os na boca e mastiga.

– Tens a certeza de que isto tem molho? Porque parece que estou a comer a relva à porta de nossa casa.

– Disse à Blanca para pôr só um borrifo. Não tem gordura, mas tem calorias.

O Douglas continua a mastigar. A sua maçã-de-adão sobe e desce enquanto engole o bocado de salada. Depois de terminar, arrasta a cadeira para trás no chão e levanta-se.

– Aonde vais? – pergunto-lhe.

– Ao KFC.

– O quê? – Ponho-me de pé. – Vá lá, Douglas. Tu consegues. Vamos fazer isto juntos.

– Por que não vens comigo? – sugere.

– Estás a brincar.

– Costumávamos ir à comida rápida, às vezes, quando namorávamos – relembra-me. É verdade, embora tenha tentado esquecer essas memórias horríveis. – Vá lá. Vamos pelo drive-through. Vai ser divertido. Ouvi dizer que têm uma sanduíche em que o pão é feito de frango frito. Não queres experimentar? Ou ver pelo menos como é?

Os meus dias de comida rápida deviam supostamente ter terminado quando casei com um milionário das tecnologias. Abano a cabeça.

O Douglas lança-me um olhar triste, mas não para. Sai de casa, entra no carro e arranca, provavelmente para comprar uma sanduíche com um pão feito de frango frito.

É nesse momento que sei que não posso continuar a ser fiel ao meu marido, pois já não o respeito.

52

Devido ao desmoronar do meu casamento, decido que se impõe um pouco de terapia de compras. Nomeadamente, precisamos de mobília nova. Espero até estar de volta à cidade, pois não se consegue encontrar nada decente na ilha. Sem que eu soubesse, o Douglas providenciou para que a maior parte da sua mobília fosse transferida do seu apartamento para a nossa penthouse, e toda ela é medonha. Parece o tipo de mobília que se compraria numa loja com as palavras «desconto» ou «armazém» no nome. Mal suporto vê-la.

Tentei explicar ao Douglas que os móveis de uma casa devem combinar, e que peças clássicas e antigas combinariam não só umas com as outras, mas também com a decoração do nosso edifício gótico. O Douglas limitou-se a olhar para mim, perplexo, pois não estava a falar em JavaScript ou Klingon ou seja lá o que for que entende melhor. Finalmente, assentiu e disse-me para comprar o que quisesse.

Estou, pois, prestes a sair em busca de umas belas antiguidades com que decorar o nosso apartamento quando encontro a Marybeth Simonds no átrio do meu prédio.

A Marybeth é rececionista na empresa do Douglas. Cruzei-me com ela algumas vezes e é razoavelmente simpática. Quarenta e poucos anos, cabelo louro a ficar grisalho e um rosto insípido. Usa umas saias foleiras que têm precisamente o comprimento certo para fazer as suas barrigas das pernas parecerem o mais largas possível. Da primeira vez que lhe pus a vista em cima, determinei que não era uma ameaça à fidelidade do meu marido, e nunca mais lhe dediquei outro pensamento.

– Wendy! – exclama. – Oh, ainda bem que a apanhei.

Segura um envelope de papel pardo, provavelmente com alguns documentos incrivelmente desinteressantes destinados ao Douglas. Tem de os ir buscar para ele, pois raras vezes vai ao escritório. Prefere trabalhar em qualquer dos vários cafés espalhados pela cidade, ou então na nossa casa em Long Island.

– O Doug está? – pergunta-me.

– Temo que não. – Olho para o meu relógio. – E não tenho tempo para receber papéis avulsos. Terá de os deixar com o porteiro.

O sorriso da Marybeth vacila ligeiramente, mas ela anui. O Douglas gosta dela devido à sua natureza afável, o que, suspeito, significa que é um capacho.

– Claro, com certeza, Wendy. Para onde vai?

A sua familiaridade surpreende-me, mas lembro-me de como, quando era pobre, o dia a dia dos incrivelmente ricos me costumava fascinar. Costumava ler artigos sobre pessoas como eu.

– Vou só comprar alguns móveis – respondo.

– Móveis? – Os seus olhos iluminam-se. – Sabe, o meu marido, o Russell, é o gerente de uma loja de mobiliário. É uma loja pequena, mas a mobília de lá é incrível. E far-lhe-ia um excelente preço. – Vasculha a sua bolsa, quase deixando cair o envelope de papel pardo, e acaba por retirar um cartão retangular branco com uma pequena mancha de batom. – Aqui tem o cartão dele. Diga-lhe que fui eu que a enviei.

Agarro no cartão com as pontas do indicador e do polegar, relutante em tocar-lhe após ter estado na bolsa mistério da Marybeth.

– Sim. Talvez.

– Bem... – sorri-me alegremente. – Foi bom vê-la, Wendy.

Começa a dirigir-se ao porteiro, mas, antes que o possa fazer, chamo o seu nome.

– Marybeth?

Ela vira-se, o mesmo sorriso simpático plasmado nas feições.

– Sim?

– Preferia que me tratasse por senhora Garrick – digo-lhe. – Não somos amigas, afinal. Sou a mulher do seu chefe.