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Com o passar dos anos, porém, descobri que era uma bênção. Vi tantas das minhas amigas amarradas aos filhos, e como a prole de uma pessoa lhe pode secar as contas bancárias. Dei-me conta que era uma sorte não ter filhos. Na realidade, aquela infeção foi a melhor coisa que alguma vez me aconteceu.

O Douglas abana a cabeça.

– Não compreendo. Estás a dizer que, durante todo este tempo, sabias que jamais poderias engravidar?

– Isso mesmo.

Deixa-se cair no sofá confortável, com uma expressão vidrada nos olhos.

– Andamos a tentar há anos. Nunca disseste sequer uma palavra. Não posso acreditar que me mentiste dessa maneira.

Perturbei-o, mas é melhor assim. Como disse, o penso rápido precisava de ser arrancado.

– Sabia que não era o que querias ouvir.

Ergue os olhos para mim, ligeiramente húmidos.

– Bem, e quanto à adoção? Ou...

Oh, Senhor, a última coisa que eu quero é cuidar dos fedelhos de outra pessoa.

– Eu não quero filhos, Douglas. Nunca quis. O que quero é sair deste casamento.

– Mas... – Treme-lhe o maxilar inferior. Ainda tem aquela papada. Em todo o nosso casamento, não fiz quaisquer avanços no sentido de o ajudar a livrar-se dela. Acreditava que era uma obra em curso, mas nunca fiz verdadeiros progressos. – Eu amo-te, Wendy. Não me amas?

-Já não – respondo. É mais amável do que dizer-lhe que nunca o amei. – Já não quero estar contigo. Não te respeito e queremos coisas diferentes. É melhor seguirmos caminhos separados.

Quando tiver os meus dez milhões de dólares, não terei de me voltar a preocupar que cancele o meu estúpido cartão de crédito. Serei independente. O Russell pode deixar a mulher e poderemos fazer o que quisermos.

– Tudo bem. – Com esforço, o Douglas levanta-se. –Queres sair deste casamento? Assim seja. Mas não vais receber nem um cêntimo do meu dinheiro.

Infelizmente, não depende dele. Quer castigar-me, mas conheço os meus direitos.

– O acordo pré-nupcial dá-me dez milhões de dólares. Não pedirei mais do que isso.

– Certo. – A expressão vidrada desapareceu dos seus olhos castanhos, que se tornaram agora incisivos e se focam no meu rosto como um laser. – Recebes dez milhões de dólares se nos divorciarmos. Mas o acordo pré-nupcial diz que, se eu tiver provas de que me traíste, não recebes nada.

Lembro-me do grosso documento que o Joe me entregou antes do casamento. Tinha ponderado levá-lo a um advogado, mas podia ver, preto no branco, que dizia que eu recebia dez milhões em caso de divórcio. Não queria desperdiçar milhares de dólares que não tinha a contratar um advogado.

– Terei todo o gosto em mostrar-te a cláusula onde diz isso. – Um sorriso dança-lhe nos lábios. – Está logo na página cento e setenta e oito. Não sei como te escapou.

Cerro os punhos.

– O Joe enganou-me. Estava sempre tão decidido a fazer-te desconfiar de mim.

– Não, o acordo pré-nupcial foi ideia minha. Tal como a cláusula da infidelidade. – O Douglas desaperta o botão de cima do seu colarinho. – Disse-lhe para agir como se fosse ideia dele para que não te zangasses comigo. Queria que confiasses em mim. Apesar de eu não confiar em ti.

Com fúria crescente, olho para o meu marido.

– Não podes simplesmente pôr lá coisas sem me dizeres. Isso é... é enganar-me.

Arqueia as sobrancelhas.

– Oh, como quando te abstiveste de me contar que jamais poderias engravidar, queres tu dizer?

Sinto um aperto no peito. Torna-se um pouco difícil respirar. O Douglas estava sempre a falar em como o ar é muito melhor aqui, mas eu não o noto.

– Tudo bem. Mas boa sorte a provar que eu te fui infiel.

Ainda que me mate, não poderei ver o Russell por algum tempo. Não posso dar ao Douglas qualquer oportunidade de provar a minha infidelidade.

– Oh, não te preocupes. Já tenho fotografias, vídeos... é só escolher.

Arquejo.

– Contrataste um detetive para me espiar?

Fulmina-me com um olhar venenoso.

– Tudo o que tive de fazer foi instalar algumas câmaras ocultas no nosso próprio apartamento. Subtil, não?

Raios. Nunca devíamos ter sido tão descuidados. Se eu soubesse...

– Talvez possas recuperar o teu antigo emprego – observa o Douglas, pensativo. – Qual era mesmo? Não costumavas trabalhar num balcão da Macytf Parece divertido.

Odeio este homem. Senti muitas emoções por ele ao longo dos últimos três anos, mas nunca senti este tipo de ódio por ninguém na minha vida. Sim, não fui inteiramente honesta, mas deixar-me na penúria? É verdadeiramente um sádico.

– Não me divorcio de ti, então – digo. – Não assino os papéis. Não me tirarás da tua vida.

– Tudo bem – responde, com uma calma exasperante. –Mas não vais recuperar os teus cartões de crédito. E todas as contas bancárias estão em meu nome. Vou cortar-te o acesso.

Não sabia que o Douglas tinha isto em si. Mas suponho que não se chega a diretor-executivo de uma empresa tão grande sem se ter um par de tomates.

– Podes continuar no apartamento – acrescenta. – Por enquanto. Mas, daqui a uns meses, vou pô-lo no mercado. Assim, podes decidir o que queres fazer.

Dito isto, dá meia-volta e encaminha-se para fora da sala de estar. A sua gravata ainda está caída no sofá, e parte de mim sente-se tentada a agarrar nela, enrolar-lha à volta do pescoço e espremer-lhe a vida.

Não o faço, claro, mas é uma ideia incrivelmente apelativa.

Pois, se o Douglas se divorciar de mim com provas do meu adultério, não recebo nada. Mas, se morrer, segundo o seu testamento, fico com tudo.

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Passo 6: Descobrir como Transformar o Seu Marido num Homem que Merece Morrer

Quatro meses antes

– O Douglas anda a ameaçar pôr o apartamento no mercado em breve – digo ao Russell. – Não sei o que fazer.

Estamos deitados juntos na gigantesca cama kingsize do quarto principal. Sentia pânico de cá voltar após ter sabido das câmaras que o Douglas tinha instalado, por isso contratei um especialista para as encontrar e desmantelar. Não ficar neste apartamento não era uma opção –afinal, é tão meu como do Douglas. Fui eu que escolhi esta cama, embora possa provavelmente contar pelos dedos das mãos o número de vezes que o Douglas dormiu nela. Nunca gostou deste apartamento. O Russell, por outro lado, está completamente apaixonado por ele. Aprecia-o tanto como eu.

Mas, ainda que recebesse os dez milhões de dólares, não poderia ficar aqui. E, sem esse dinheiro, é um sonho ridículo.

– Não o fará. – O Russell passa os dedos pela minha barriga nua. – Se vender o apartamento, terão de viver juntos. E ele não quer isso.

Dá-me vontade de deitar as mãos à cabeça.

– Sabe-se lá o que ele quer! Está só a tentar castigar-me. – Toda a minha mentira sobre tentar engravidar levou-o claramente para lá dos limites. Quer que sofra pelos meus pecados. – Mas o que posso eu fazer?

– Podias divorciar-te dele na mesma – sugere. – E ficar comigo. Eu deixo a Marybeth.

– Mas ficaremos na miséria!

– Não ficaremos, não. – Parece ofendido com essa sugestão. – Tenho a minha loja. E tu também podias arranjar algo. Não ficaremos na penúria.

Às vezes, sinto que eu e o Russell fomos feitos um para o outro, mas outras vezes diz coisas assim.

Por agora, vou esperando. Quando o Douglas e eu nos divorciarmos, acabou-se – não tenho direito algum ao seu dinheiro. Por isso, todos os dias torço para que, ao descer a rua, seja atropelado por um autocarro. Acontece constantemente na cidade. Por que não pode acontecer ao meu marido, por uma vez?

– Se ao menos morresse – digo. – Seria de esperar, com a quantidade de comida gordurosa que consome, que já tivesse caído fulminado por um ataque cardíaco.

– Só tem quarenta e dois anos.

– Há muitos homens a morrer de ataque cardíaco na casa dos quarenta – saliento. – O Douglas até toma medicamentos para o coração. Podia acontecer.