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— O que você fez?

— Levantei o joelho — disse Eric com orgulho simples. — Acertei-o no saco. Precisava ver como gritava! Esse também não vai voltar tão cedo. Até que não fizemos um papel feio.

Ralph moveu-se subitamente na escuridão; mas ouviu Eric mexendo na boca.

— Que foi?

— Um dente mole.

Porquinho encolheu as pernas.

— Está bem, Porquinho?

— Pensei que eles queriam a concha.

Ralph correu pela praia pálida e pulou para a plataforma. A concha ainda brilhava junto ao lugar do chefe. Olhou-a por um momento, depois voltou até onde estava Porquinho.

— Não levaram a concha.

— Eu sei. Eles não vieram pela concha. Vieram por outra coisa, Ralph — o que vou fazer?

Bem longe, nos confins da praia, três figuras trotavam rumo ao Castelo de Pedra. Mantinham-se afastadas da floresta e caminhavam junto à água. De vez em quando, cantavam baixinho; de vez em quando, jogavam pedras que saltavam sobre a faixa móvel de fosforescências. O chefe liderava-as, avançando firmemente, exultante na sua vitória. Agora era um chefe de verdade. Golpeou o ar decididamente com a lança. Na sua mão esquerda, estavam os óculos quebrados de Porquinho.

11

Castelo de Pedra

No breve frio da aurora, os quatro meninos se reuniram em volta da massa negra que fora a fogueira, enquanto Ralph se ajoelhava e soprava. Cinzas leves como plumas cinzentas redemoinharam sob seu corpo, mas nenhuma centelha brilhou entre elas. Os gêmeos olhavam ansiosamente e Porquinho sentava-se inexpressivo por trás da luminosa muralha da sua miopia. Ralph continuou a soprar até seus ouvidos retinirem com o esforço, mas então o primeiro vento da manhã assumiu o trabalho e o cegou com as cinzas. Ele recuou, agachado, xingando e esfregando as lágrimas que brotavam dos seus olhos.

— Não adianta.

Eric olhou-o através de uma máscara de sangue seco. Porquinho virou-se para a direção aproximada de Ralph.

— Claro que não adianta, Ralph. Agora não temos fogo.

Ralph aproximou o rosto a meio metro do de Porquinho.

— Você pode me ver?

— Um pouco.

Ralph deixou que a inchação da face lhe fechasse o olho novamente.

— Levaram nosso fogo.

A raiva enchia sua voz.

— Roubaram-no!

— Foram eles — disse Porquinho. — Eles me cegaram. Viram? Foi Jack Merridew. Faça uma assembleia, Ralph, precisamos decidir o que fazer.

— Uma reunião só para nós?

— É tudo que temos. Sam, deixe-me segurar em você.

Subiram para a plataforma.

— Sopre a concha — disse Porquinho. — Sopre o mais alto que puder.

A floresta ecoou, pássaros levantaram voo, gritando das copas, como naquela primeira manhã, há séculos. A praia estava deserta de ambos os lados. Alguns pequenos vieram das cabanas. Ralph sentou-se no tronco polido e os outros três sentaram-se à sua frente. Fez que sim, e Sameeric sentaram-se à direita. Ralph pôs a concha nas mãos de Porquinho. Este segurou cuidadosamente a coisa brilhante e piscou para Ralph.

— Vamos, diga o que quer.

— Eu estou com a concha para dizer isto. Não consigo mais ver e preciso dos meus óculos de volta. Foram feitas coisas terríveis nesta ilha. Votei em você para chefe. Você foi o único que fez alguma coisa. Então, fale agora, Ralph. Diga-nos o que... Ou então...

Porquinho interrompeu-se, choramingando. Ralph pegou a concha, enquanto ele se sentava.

— Apenas uma fogueira comum. Vocês acharam que poderiam fazer isso, não é? Apenas um sinal de fumaça para que fôssemos salvos. Somos selvagens ou o quê? Só que agora não há sinal nenhum. Podem estar passando navios. Lembram-se como ele foi caçar e o fogo apagou quando um navio passou aqui perto? E tudo que pensam é que ele é um chefe melhor. Então houve, houve... foi culpa dele, também. Se não fosse ele, nunca teria acontecido. Agora, Porquinho não enxerga e eles vieram roubar... — Ralph falou mais rápido e mais alto. — ...À noite, no escuro, e roubaram nosso fogo. Roubaram. Nós teríamos dado fogo a eles se pedissem. Mas eles roubaram nosso fogo. Roubaram. Nós teríamos dado fogo a eles se pedissem. Mas eles roubaram e o sinal se apagou, poderemos nunca ser salvos. Não veem o que isso quer dizer? Nós teríamos dado fogo, mas eles roubaram. Eu...

Parou, vacilante, com a cortina caindo na sua mente. Porquinho estendeu as mãos para a concha.

— O que vai fazer, Ralph? Isso é só falatório, sem decidir. Quero meus óculos.

— Estou tentando pensar. Poderíamos ir como éramos, lavados e penteados... afinal, não somos selvagens na verdade e sermos salvos não é um brinquedo...

Tocou a face inchada e olhou para os gêmeos.

— Poderíamos nos arrumar um pouco e ir...

— Devemos levar lanças — disse Sam. — Até Porquinho.

— ...porque podemos precisar delas.

— Você está sem a concha!

Porquinho levantou a concha.

— Podem levar lanças se quiserem, mas eu não. Para quê? De qualquer modo, terei de ser levado, como um cachorro. É, riam. Vamos, riam. Aí estão os que riem de tudo nesta ilha. E o que aconteceu? O que os adultos irão pensar? O menino Simon foi assassinado. E havia aquele outro menino com a marca na cara. Quem o viu desde que chegamos aqui?

— Porquinho! Pare um instante!

— Estou com a concha. Eu vou até aquele Jack Merridew dizer isso. Vou, sim.

— Você vai se machucar.

— O que mais ele pode fazer? Eu lhe direi sobre o que aconteceu aqui. Deixe-me levar a concha, Ralph. Eu lhe mostrarei a única coisa que ele não pegou.

Porquinho parou e olhou em torno para as figuras indistintas. A forma da antiga reunião, marcada na grama, escutava-o.

— Vou até ele com esta concha nas mãos. Irei com ela. Saibam, vou dizer: você é mais forte que eu e não tem asma. Pode ver, com os dois olhos, é o que vou dizer. Mas não estou pedindo meus óculos de volta como um favor. Não peço que você seja um bom amigo, direi, não porque você seja forte, mas porque o que é certo é certo. Dê-me meus óculos. Isso é que eu vou dizer, você precisa dá-los para mim.

Porquinho terminou, corado e trêmulo. Passou rapidamente a concha para as mãos de Ralph, como se quisesse ver-se livre dela e enxugou as lágrimas dos olhos. A luz verde caía suave sobre eles e a concha ficou aos pés de Ralph, frágil e branca. Uma gota que escapou dos dedos de Porquinho brilhava na delicada curva como uma estrela.

Enfim, Ralph sentou-se ereto e puxou o cabelo para trás.

— Muito bem. Quero dizer... pode tentar, se quiser. Iremos com você.

— Ele vai estar pintado — disse Sam, timidamente. — Você sabe como ele...

— Não pensará grande coisa de nós...

— ...se ficar bravo, a coisa pode piorar...

Ralph olhou para Sam, franzindo a testa. Vagamente, lembrou-se de algo que Simon lhe dissera certa vez, nas pedras.

— Não seja bobo — disse. E acrescentou logo. — Vamos!

Deu a concha a Porquinho, que corou, desta vez de orgulho.

— Você deve levá-la.

— Quando estivermos prontos, eu a levarei...