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— O coro fica com Jack. Eles podem ser... o que vocês querem que eles sejam?

— Caçadores.

Jack e Ralph sorriram um para o outro com uma apreciação tímida. Os outros começaram a falar ansiosamente.

Jack levantou-se.

— Muito bem, coro. Tirar as túnicas.

Como se as aulas tivessem acabado, os meninos do coro levantaram-se, conversando, e empilharam suas túnicas negras na grama. Jack deixou a sua no tronco próximo a Ralph. Sua calça curta cinzenta estava suada, colada no corpo. Ralph olhou-a, admirado e, quando Jack percebeu o olhar, explicou:

— Tentei subir naquele morro para ver se estávamos cercados por água. Mas sua concha nos chamou.

Ralph sorriu e levantou a concha, pedindo silêncio.

— Ouçam todos. Preciso de tempo para pensar numas coisas. Não posso decidir o que fazer exatamente. Se isto não é uma ilha, não demorarão a nos procurar. Portanto, precisamos saber se isto aqui é uma ilha. Todo mundo deve permanecer aqui. Esperar. Não ir embora. Três de nós — se levarmos mais vai ser uma bagunça e vamos nos perder — três de nós iremos numa expedição e descobriremos se estamos numa ilha. Eu vou, Jack, e, e...

Olhou em torno o círculo de rostos ansiosos. Não faltavam meninos para escolher.

— E Simon.

Os meninos em torno de Simon deram risadinhas e ele se levantou, rindo um pouco. Agora que sumira a palidez do desmaio, era um menino pequeno, magro e vivo, com um olhar que irrompia de sob uma franja de cabelo liso e escorrido, preto e áspero.

Fez que sim para Ralph.

— Eu vou.

— E eu...

Jack tirou de detrás uma faca de bainha de tamanho regular e cravou-a num tronco. O vozerio aumentou e morreu.

Porquinho adiantou-se.

— Eu vou.

Ralph virou-se para ele.

— Você não é bom para essas coisas.

— Não faz mal...

— Não queremos você — disse Jack, diretamente. — Bastam três.

Os óculos de Porquinho brilharam.

— Eu estava com ele quando achamos a concha. Eu estava com ele antes de qualquer um.

Jack e os outros não prestaram atenção. Houve uma debandada geral. Ralph, Jack e Simon pularam da plataforma e andaram pela areia além da “piscina”. Porquinho seguiu-os, resmungando.

— Se Simon andar no meio da gente — disse Ralph —, poderemos conversar por cima da cabeça dele.

Os três continuaram, no mesmo passo. Isso significava que, de vez em quando, Simon tinha de dar um passo duplo para se alinhar com os outros. De repente, Ralph parou e virou-se para Porquinho.

— Vejam.

Jack e Simon fingiram não ver nada. Continuaram andando.

— Você não pode vir.

Os óculos de Porquinho se embaçaram de novo, desta vez de humilhação.

— Você contou pra eles. Depois do que eu disse.

Seu rosto corou, a boca tremeu.

— Depois que eu disse que não queria...

— Mas de que diabo você está falando?

— De ser chamado de Porquinho. Eu disse que não queria ser chamado de Porquinho. E eu disse para você não contar e você falou pra eles...

Acalmaram-se. Olhando para o outro com mais compreensão, Ralph viu que Porquinho estava ferido e desgostoso. Hesitou entre o caminho das desculpas e o de novos insultos.

— Melhor Porquinho que Gordinho — disse afinal, com a franqueza da liderança autêntica —, e, de qualquer modo, desculpe-me por estar magoado. Agora, volte e pergunte os nomes, Porquinho. Esse é o seu trabalho. Até logo.

Virou-se e correu atrás dos outros dois. Porquinho ficou ali e o rubor da indignação diminuiu lentamente nas suas faces. Voltou à plataforma.

Os três meninos andavam vivamente na areia. A maré estava baixa e havia uma faixa de praia salpicada de algas, quase tão firme quanto uma estrada. Uma espécie de encantamento envolvia-os e dominava todo o lugar; eles estavam conscientes desse encantamento e contentes por isso. Viravam-se uns para os outros, rindo, excitados, falando, sem ouvir. O ar estava luminoso. Ralph, ante a tarefa de traduzir tudo isso numa explicação, plantou uma bananeira e caiu. Quando pararam de rir, Simon bateu timidamente no braço de Ralph. E eles riram de novo.

— Vamos — disse Jack —, somos exploradores.

— Iremos até o fim da ilha — disse Ralph — e daremos uma olhada em tudo.

— Se for uma ilha...

Agora, quase no fim da tarde, as miragens já rareavam. Descobriram o fim da ilha, bem nítido e sem qualquer magia na sua forma ou sentido. Havia uma superfície rochosa com a habitual forma quadrada e um grande bloco entrando água adentro. Havia ninhos de pássaros marinhos ali.

— Parece glacê num bolo cor-de-rosa — disse Ralph.

— Não podemos ver do outro lado — disse Jack —, porque não há outro lado. Só uma curva suave... e vocês podem ver, as pedras ficam mais difíceis...

Ralph protegeu os olhos com a sombra de uma das mãos e seguiu a linha recortada dos rochedos até a montanha. Essa parte da praia era mais próxima da montanha que qualquer outra que haviam visto.

— Vamos tentar subir a montanha por aqui — disse ele. — Acho que este é o jeito mais fácil. Há menos mata por aqui e mais pedras rosadas. Vamos.

Os três meninos começaram a subir. Alguma força desconhecida rompera e espalhara esses cubos de pedra, que jaziam obliquamente ou empilhados como numa pirâmide. O aspecto mais comum da rocha era um espigão rosado, encimado por um bloco oblíquo que tinha sobre si um outro e mais um, de modo que a massa rosada se tornava um montão de rochas em equilíbrio, projetando-se através da fantasia enredante dos cipós da floresta. Onde os espigões cor-de-rosa se originavam, havia várias trilhas estreitas seguindo para cima. Podiam segui-las, internados no mundo das plantas, rosto contra a rocha.

— Quem fez esta trilha?

Jack fez uma pausa, enxugou o suor do rosto. Ralph parou ao seu lado, sem fôlego.

— Homens?

Jack sacudiu a cabeça.

— Animais.

Ralph fixou a escuridão sob as árvores. A floresta vibrava levemente.

— Vamos.

A dificuldade não era a subida íngreme pelos contornos da rocha, mas os mergulhos ocasionais na vegetação rasteira, até que se atingia a trilha seguinte. Ali, as raízes e caules das trepadeiras e lianas estavam tão entrelaçados que os meninos tinham de enfiar-se dentre eles, como agulhas flexíveis. Como única orientação, além do chão marrom e esporádicos vislumbres de luz através da folhagem, a tendência da encosta: saber se este buraco, cheio do emaranhado de lianas, era mais alto que o anterior.

Mas avançavam, de qualquer forma.

Murados nessas paredes vegetais, num dos seus momentos mais difíceis, viram Ralph virar-se com os olhos brilhantes.

— Bárbaro!

— Magnífico!

— Sensacional!

A causa daquele prazer não era assim tão evidente: os três estavam acalorados, sujos e exaustos. Ralph arranhara-se para valer. As trepadeiras eram tão grossas quanto as coxas deles e deixavam pouco mais que estreitos túneis para quem quisesse passar. Ralph gritou, para experimentar, e eles ouviram os ecos apagados.