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Erguer outra vez o Vazio foi como cruzar um pântano de agonia, mas enfim viu-se rodeado daquele nada, tentando tocar saidin… apenas para encontrar Lews Therin na mesma prontidão, dois pares de mãos tentando agarrar uma luz que apenas um deles conseguiria segurar.

Que o queime!, rosnou Rand, na própria cabeça. Que o queime! Se pelo menos você trabalhasse ao meu lado uma vez na vida, em vez de ficar contra mim!

Trabalhe você comigo!, vociferou Lews Therin, em resposta.

Rand quase perdeu o Vazio, de tão chocado. Era inegáveclass="underline" Lews Therin tinha ouvido e respondido. Podemos trabalhar juntos, Lews Therin. Não queria trabalhar junto com ele, queria que o homem saísse de sua cabeça — mas precisava pensar em Min. E sabe-se lá quantos dias ainda teriam até Tar Valon. Tinha a certeza de que, se elas conseguissem botá-lo dentro da Torre, não haveria mais chances. Nunca mais.

A resposta veio na forma de uma risada apreensiva e indecisa. Juntos? Outra risada, completamente transtornada. Juntos. Seja lá quem você for. E a voz e a presença desapareceram.

Rand estremeceu. Ajoelhado ali, acrescentando suor à poça onde sua cabeça repousava, ele estremeceu.

Tentou tocar saidin outra vez, aos poucos… e deu de cara com a blindagem, claro. Bem, era ela que estava procurando, afinal. Bem devagar, com toda a delicadeza, tateou toda a extensão daquela barreira invisível, até onde o plano rígido se transformava em pontos macios.

Macios, declarou Lews Therin, ofegante. Porque elas ainda estão aqui, sustentando a tessitura. Fica mais rígido quando elas amarram os fluxos. Não há o que fazer quando os pontos ainda estão assim, macios, mas consigo desfazer o nó se elas atarem os fluxos. Com algum tempo. A voz ficou em silêncio por tanto tempo que Rand achou que tivesse ido embora outra vez. Você é real?, sussurrou por fim. Então foi embora de vez.

Aos poucos, com todo o cuidado, Rand foi tateando pela blindagem até chegar aos pontos macios. As seis Aes Sedai. Com algum tempo? Isso se atassem os fluxos, o que ainda não acontecera em… o quê? Seis dias? Sete? Oito? Não importava. Não podia se dar ao luxo de esperar tanto. Chegava mais perto de Tar Valon a cada dia. No dia seguinte tentaria romper a blindagem outra vez — tinha sido como esmurrar um bloco de pedra, mas esmurrara com toda a força. No dia seguinte, quando Erian o açoitasse — tinha certeza de que seria ela —, abriria outro sorriso. Então, quando a dor aumentasse, ele se permitiria gritar. No outro dia, não faria mais do que triscar a barreira, talvez com força suficiente para elas sentirem, porém não mais que isso, e só repetiria a tentativa depois de ver se seria ou não punido. Talvez implorasse por água. Tinha bebido um pouco ao anoitecer, mas estava com sede outra vez. Mesmo que o deixassem beber mais de uma vez ao dia, implorar seria adequado. Se ainda estivesse no baú, talvez implorasse também para ser solto. Achava que estaria — não eram grandes as chances de que o libertassem por muito tempo sem ter certeza de que ele aprendera a lição. Seus músculos se contorciam em câimbras diante da ideia de mais dois ou três dias enfiado ali. Não havia espaço para se mexer, mas o corpo tentava. Mais dois ou três dias, e as Aes Sedai teriam certeza de que ele fora subjugado. Pareceria assustado e evitaria olhar as pessoas nos olhos, como um pobre coitado que poderia ficar fora do baú sem oferecer riscos. Mais importante: um pobre coitado que elas não precisariam vigiar tão de perto. Então, talvez, elas decidissem que não precisavam de seis para manter a blindagem, ou que podiam simplesmente atar a trama ou… qualquer coisa. Precisava de alguma brecha. Qualquer coisa!

Era um plano desesperado. Percebeu que ria — ria e não conseguia parar. Também não conseguia parar de tatear a barreira, feito um cego desesperado deslizando os dedos por um pedaço de vidro liso.

Galina franziu o cenho depois que as Aiel foram embora, avançando até o topo de uma montanha e desaparecendo do outro lado do cume. Cada uma daquelas mulheres, tirando a própria Sevanna, conseguia canalizar, e muitas tinham força considerável. Sevanna decerto se sentira mais segura rodeada por aquela dezena de bravias — que engraçado. Aquele bando de selvagens não era nada confiável. Dentro de poucos dias teria mais alguma serventia para elas, na segunda parte do “acordo” com Sevanna. A triste morte de Gawyn Trakand e a melhor parte da Jovem Guarda.

De volta ao centro do acampamento, encontrou Erian ainda vigiando o baú de al’Thor.

— No caso, Galina, ele está mesmo chorando — comentou a mulher, a voz feroz. — Está ouvindo? Ele está sim… — De repente, lágrimas começaram a correr pelo rosto de Erian. Ela ficou ali, parada, soluçando baixinho, agarrando as saias com os punhos cerrados.

— Vamos para a minha tenda — chamou Galina, em um tom tranquilizador. — Tenho um bom chá de mirtilo e posso colocar um pano gelado e úmido na sua testa.

Erian sorriu em meio às lágrimas.

— Obrigada, Galina, mas é melhor eu ir. Rashan e Bartol estão me esperando. Eles estão sofrendo mais do que eu, no caso. Além de sentirem meu sofrimento, eles sofrem porque sabem que eu sofro. Preciso consolar os dois. — Apertando a mão de Galina de leve, agradecida, a Verde foi embora.

Galina franziu o cenho, encarando o baú. Al’Thor de fato parecia chorar — ou isso, ou estava rindo, o que ela duvidava bastante. Olhou para Erian, que desaparecia no interior da tenda de seus Guardiões. Ah, al’Thor ia chorar. Tinham pelo menos mais duas semanas até Tar Valon e a entrada triunfal que Elaida planejara. Sim, pelo menos mais vinte dias. Dali para a frente, Rand seria punido todos os dias, ao amanhecer e ao anoitecer, não importava se Erian quisesse participar ou não. Quando o conduzisse até a Torre Branca, Rand beijaria o anel de Elaida, só falaria quando se dirigissem a ele e, quando não fosse requisitado, ficaria ajoelhado a um canto. Com o olhar firme, foi beber o chá de mirtilo sozinha.

Quando entraram no bosque imenso, Sevanna virou-se para as outras, pensando em como era impressionante que agora encarasse as árvores com tanta indiferença. Nunca tinha visto tantas árvores juntas, e tão grandes, antes de cruzar a Muralha do Dragão.

— Vocês viram todas os meios que elas usaram para prendê-lo? — perguntou, fazendo soar como se dissesse “todos”, em vez de “todas”.

Therava encarou as outras, que assentiram.

— Sabemos tecer tudo o que elas fizeram — anunciou a mulher.

Assentindo, Sevanna correu os dedos pelo cubinho de pedra com entalhes intrincados em seu bolso — o estranho aguacento que lhe dera aquilo a orientara a usá-lo quando al’Thor estivesse preso. E ela de fato pretendera usar, até que viu al’Thor preso. Naquele momento, decidira jogar o cubo fora. Era viúva de um chefe que fora a Rhuidean e de um homem que fora chamado de chefe sem ter feito essa visita. Agora seria a esposa do próprio Car’a’carn. Cada lança dos Aiel estaria presa a ela. Ainda sentia no dedo o pescoço de al’Thor, onde traçara a linha da coleira que poria nele.

— Está na hora, Desaine — anunciou.

Claro que Desaine apenas piscou, surpresa, e só conseguiu gritar de susto antes que as outras iniciassem o trabalho. A mulher não parava de reclamar a respeito da posição de Sevanna, que decidira que poderia empregar melhor seu tempo do que ter que lidar com a mulher. Exceto por Desaine, todas as outras presentes a seguiam, e outras mais estavam a seu lado.

Sevanna ficou olhando o que as outras Sábias faziam. O Poder Único a fascinava. Tantos feitos milagrosos realizados sem qualquer esforço… E era muito importante que ficasse claro que Desaine fora liquidada com o Poder. Ah, era tão espantoso que um corpo humano pudesse ser despedaçado espirrando tão pouco sangue…