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Como acontece com as histórias, o caso se espalhou por toda Cairhien, pelo norte e pelo sul com os comboios de mercadores, os mascates solitários e por meio das fofocas de estalagens. Como acontece com as histórias, a cada conto aumentava-se um ponto. Os Aiel haviam se voltado contra o Dragão Renascido e o matado, nos Poços de Dumai ou algum outro lugar. Não, as Aes Sedai tinham salvado Rand al’Thor. Foram as Aes Sedai que o haviam matado… não, amansado… não, tinham-no levado a Tar Valon à força, onde ele apodreceu em uma masmorra da Torre Branca. Ou onde o próprio Trono de Amyrlin ficou de joelhos diante dele. Excepcionalmente, em se tratando de histórias, algo muito próximo da verdade era no que se acreditava com mais frequência.

Em um dia de fogo e de sangue, um estandarte esfarrapado se agitou acima dos Poços de Dumai, exibindo o antigo símbolo das Aes Sedai.

Em um dia de fogo, de sangue e do Poder Único, conforme a profecia sugerira, a torre imaculada, dividida, ajoelhou-se perante o símbolo esquecido.

As primeiras nove Aes Sedai juraram fidelidade ao Dragão Renascido, e o mundo mudou para sempre.

EPÍLOGO

A resposta

O homem só parou por tempo suficiente para repousar a mão na porta da liteira e, assim que Falion pegou o bilhete entre seus dedos, afastou-se. A pancada seca da mulher colocou os dois carregadores em movimento antes mesmo que o sujeito trajando o uniforme do Palácio Tarasin sumisse em meio à multidão na praça.

Só havia uma palavra no quadradinho de papeclass="underline" Sumiram. Ela o amassou no punho. De algum modo, elas tinham escapado de novo sem que o seu pessoal lá dentro visse. Meses de buscas infrutíferas haviam-na convencido de que não existia nenhum angreal escondido, a despeito do que Moghedien acreditasse. Ela chegara até a considerar interrogar uma ou duas Mulheres Sábias. Uma delas talvez soubesse seu paradeiro, se o tal angreal existisse. Era o mesmo que esperar que cavalos voassem. Entretanto, ela se mantinha naquela cidade deplorável porque quando um dos Escolhidos dava uma ordem, obedecia-se até que essa ordem fosse modificada. Qualquer outra atitude era um caminho bem curto para uma morte dolorosa. Mas se Elayne e Nynaeve estavam ali… Elas haviam arruinado os planos sobre Tanchico. Fossem elas ou não irmãs completas de fato — por mais impossível que tal coisa parecesse —, Falion não encararia a presença delas como mera coincidência. Talvez existisse mesmo um esconderijo. Era a primeira vez que ela ficava contente por Moghedien tê-la ignorado desde que dera suas ordens tantos meses antes em Amadícia. O que fora sentido como um abandono ainda poderia se mostrar uma chance de subir no conceito da Escolhida. Aquelas duas talvez ainda a conduzissem ao esconderijo, e, mesmo se não existisse esconderijo nenhum… Moghedien parecera demonstrar interesse em Elayne e Nynaeve. Entregá-las à Escolhida com certeza seria melhor do que um angreal que nem existia.

Ela se recostou no assento e deixou o balanço da cadeira relaxá-la. Odiava mesmo aquela cidade — em seus tempos de noviça, chegara até ali como fugitiva —, mas podia ser que aquela visita, afinal, terminasse de forma agradável.

Sentado em seu gabinete, Herid espiava dentro do cachimbo e se perguntava se tinha em mãos os meios para acendê-lo quando o gholam se espremeu por baixo da porta. Claro que, mesmo que Fel estivesse prestando atenção, não teria acreditado, e, depois que o gholam entrou no aposento, poucos homens teriam tido alguma chance.

Quando Idrien mais tarde foi ao gabinete de Fel, ficou olhando para algo empilhado de maneira nada organizada no chão, ao lado da mesa. Ela levou uns instantes para compreender o que era e, quando o fez, desmaiou antes de conseguir gritar. Embora já tivesse ouvido falar de esquartejamentos, era muito diferente ver os resultados de um diante de si.

No topo da colina, o homem deu meia-volta com seu cavalo para uma última olhada em Ebou Dar, branca sob o sol brilhante. Uma bela cidade para se pilhar, e, pelo que ele aprenderia sobre o povo local, as pessoas resistiriam, de forma que o Sangue permitiria pilhagens. Elas iriam resistir, mas ele torcia para que os outros olhos estivessem trazendo relatos da desunião que ele testemunhara. A resistência não duraria muito num local em que uma suposta rainha governava um pedaço diminuto de chão, e isso sugeria as melhores possibilidades. Ele cavalgou para o oeste. Não havia como saber. Talvez o comentário daquele sujeito tivesse sido profético. Talvez o Retorno não tardasse, e, com ele, viria a Filha das Nove Luas. Aquele seria, certamente, o maior presságio de uma vitória.

Deitada para dormir, Moghedien olhava para o teto da minúscula tenda que tinham lhe permitido como uma das criadas da Amyrlin. De tempos em tempos, seus dentes rilhavam, mas, tão logo se dava conta disso, ela tornava a se acalmar, bastante consciente do colar do a’dam em torno do pescoço. A tal Egwene al’Vere era mais dura do que Elayne e Nynaeve. Tolerava menos e exigia mais. E quando passava o bracelete para Siuan ou Leane, especialmente Siuan… Moghedien estremeceu. Se Birgitte pudesse usar o bracelete, deveria ser igual.

A aba da tenda se moveu para o lado, deixando a luz do luar penetrar só o suficiente para ela identificar uma mulher se agachando para entrar.

— Quem é você? — perguntou Moghedien com aspereza. Quando mandavam ir buscá-la à noite, quem quer que viesse sempre trazia uma lanterna.

— Me chame de Aran’gar, Moghedien — respondeu uma voz bem-humorada, e uma luzinha se fez dentro da tenda.

Ouvir o próprio nome fez a língua de Moghedien grudar no céu da boca. Ali, aquele nome significava morte. Ela estava com dificuldades para falar, para dizer que seu nome era Marigan, quando, de repente, reparou na luz. Uma pequena bola branca cintilante, pálida, pairando no ar próxima da cabeça dela. Estando com o a’dam, não podia fazer mais do que pensar em saidar sem permissão, mas ainda era capaz de senti-la sendo canalizada, de ver os fluxos sendo tecidos. Desta vez, não sentiu nada, não viu nada. Só uma minúscula bolinha de pura luz.

Ela ficou encarando a mulher que se apresentara como Aran’gar, finalmente a reconhecendo. Halima, ela achava. Secretária de uma das Votantes, talvez. Com certeza, contudo, uma mulher, ainda que uma que parecesse ter sido desenhada por um homem. Uma mulher. Mas aquela bola de luz tinha que ser resultado de saidin!

— Quem é você? — Sua voz estava apenas um pouco trêmula, e ela se surpreendeu por soar tão firme.

A mulher sorriu — um sorriso bastante divertido — enquanto se colocou ao lado do catre.

— Já falei, Moghedien. Eu me chamo Aran’gar. Você vai aprender esse nome no futuro, se tiver sorte. Agora me escute bem e não pergunte mais nada. Eu vou lhe dizer o que você precisa saber. Daqui a pouco, vou tirar esse seu lindo colar. Em seguida, você vai desaparecer com a mesma rapidez e discrição de Logain. Se não me obedecer, vai morrer aqui mesmo. E isso seria uma pena, porque você foi convocada até Shayol Ghul nesta mesmíssima noite.

Moghedien umedeceu os lábios. Convocada até Shayol Ghul. Isso poderia significar a eternidade no Poço da Perdição, a imortalidade governando o mundo, ou qualquer coisa entre os dois extremos. Havia pouca chance de ela ser nomeada Nae’blis, não se o Grande Senhor soubesse o suficiente a respeito de como ela havia passado os meses anteriores a ponto de mandar alguém vir libertá-la. Ainda assim, tratava-se de uma convocação que ela não podia ignorar. E, pelo menos, estaria livre do a’dam.

— Sim. Tire. Eu vou imediatamente. — De todo modo, não havia motivos para protelar. Ela era mais forte que qualquer mulher naquele acampamento, mas não pretendia dar a um círculo de treze mulheres nenhuma chance de enfrentá-la.