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— Vá avançando por onde der — disse a Taim. — Ensine o máximo possível no menor tempo possível.

Taim comprimiu os lábios de leve ao ouvir as primeiras palavras de Rand.

— O máximo possível — repetiu, impassível. — Mas o quê? Coisas que possam ser usadas como armas, suponho.

— Armas — concordou Rand. Todos os homens tinham que ser armas, inclusive ele próprio. Será que uma arma poderia ter família? Poderia se permitir ser amada? Ora, de onde ele tirara aquela ideia? — O máximo que puderem aprender, mas principalmente isso.

Havia tão poucos homens. Vinte e sete. E se houvesse pelo menos mais um além de Damer capaz de aprender, Rand agradeceria por ser ta’veren e ter atraído o homem para si. As Aes Sedai apenas capturavam e amansavam homens de fato capazes de canalizar, mas tinham se aprimorado bastante ao longo dos últimos três mil anos. Ao que parecia, algumas acreditavam estar tendo sucesso em algo que jamais pretenderam: apartar da humanidade a habilidade de canalizar através da seleção. A Torre Branca fora construída para abrigar três mil Aes Sedai constantemente — muito mais, se todas fossem convocadas de uma vez, com aposentos para abrigar centenas de meninas em treinamento. Contudo, antes da cisão havia apenas quarenta e tantas noviças na Torre, e menos de cinquenta Aceitas.

— Preciso de mais gente, Taim. Dê um jeito de encontrar mais. Ensine a eles como fazer o teste, antes de qualquer outra coisa.

— Pretende chegar ao número das Aes Sedai, é? — O sujeito parecia impassível, mesmo considerando que aquele poderia mesmo ser o plano de Rand. Seus olhos escuros e oblíquos mantiveram-se firmes.

— Quantas Aes Sedai existem ao todo? Mil?

— Menos que isso, acho — respondeu Taim, cauteloso.

Eliminaram os canalizadores da raça humana. Queimaram todos por serem quem eram, mesmo que com motivo.

— Bom, haverá inimigos suficientes, de todo modo. — O que não faltava eram inimigos. O Tenebroso, os Abandonados, Crias da Sombra, Amigos das Trevas. Os Mantos-brancos, sem dúvida, e muito provavelmente algumas Aes Sedai, as que pertenciam à Ajah Negra e as que queriam controlá-lo. Essas últimas ele contava como inimigas, por mais que elas não se considerassem assim. Decerto haveria Senhores do Medo, bem como ele afirmara. E mais. Inimigos o bastante para destruir todos os seus planos, para destruir tudo. Apertou o cabo entalhado do Cetro do Dragão. O tempo era o maior inimigo, o que ele tinha a menor chance de derrotar. — Eu vou derrotá-los, Taim. Todos eles. Eles acham que podem destruir tudo. É sempre destruindo, nunca construindo! Eu vou construir alguma coisa, vou deixar um legado. Seja lá o que aconteça, isso eu farei! Vou derrotar o Tenebroso. E vou purificar saidin, para que os homens não tenham medo de enlouquecer, para que o mundo não precise temer a canalização dos homens. Eu vou…

A borla verde e branca balançou quando ele sacudiu a lança, nervoso. Era impossível. O calor e a terra zombavam dele. Algumas coisas precisavam ser feitas, mas era tudo impossível. O máximo que qualquer um deles poderia esperar era ganhar e morrer antes de enlouquecer, e nem isso ele sabia como controlar. Só podia continuar tentando. Mas tinha que haver um meio. Se de fato existisse algo parecido com justiça, tinha que haver um meio.

— Purificar saidin — murmurou Taim. — Acho que isso iria requerer mais poder do que você imagina. — Ele fechou os olhos, pensativo. — Ouvi falar de coisas chamadas sa’angreal. Você tem algum que acha que poderia…

— Não importa o que eu tenho ou deixo de ter — retrucou Rand, com rudeza. — Ensine os que forem capazes de aprender, Taim. Depois encontre mais e os ensine também. O Tenebroso não vai esperar. Luz! Não temos tempo, Taim, mas temos que dar um jeito. Nós temos!

— Vou fazer o possível. Só não espere que Damer seja capaz de derrubar as muralhas de uma cidade amanhã de manhã.

Rand hesitou.

— Taim? Fique de olho em qualquer aluno que comece a aprender depressa demais. Me avise imediatamente. Um dos Abandonados pode tentar se infiltrar entre os estudantes.

— Um dos Abandonados! — Saiu quase como um sussurro. Pela segunda vez, Taim parecia abalado, agora de fato bastante surpreso. — Por que é que…?

— Qual é a extensão da sua força? — interrompeu Rand. — Agarre saidin. Agora. O máximo que conseguir.

Por um instante, Taim simplesmente encarou Rand, inexpressivo. Então o Poder fluiu por dentro dele. Não havia brilho, tal como as mulheres viam umas em torno das outras, apenas uma sensação de força e ameaça, mas Rand conseguia senti-la muito bem e avaliá-la. Taim continha o suficiente de saidin para destruir a fazenda e todos ali em questão de segundos, o suficiente para devastar tudo até onde a vista alcançasse. Não era muito menos do que o próprio Rand era capaz de manejar sozinho. Por outro lado, o homem podia estar se contendo. Não aparentava estar se esforçando. Ele talvez não quisesse exibir toda a sua força. Como poderia prever a reação de Rand?

A sensação de saidin se esvaneceu de Taim, e, pela primeira vez, Rand percebeu que ele próprio estava tomado pela metade masculina da Fonte, uma torrente indomável feita de todos os fios que ele conseguia puxar do angreal guardado em seu bolso. Mate-o, murmurou Lews Therin. Mate-o agora mesmo! Por um instante, o choque o arrebatou. O vazio que o rodeava cedeu um pouco, saidin se intensificou e avolumou, e ele quase não conseguiu soltar o Poder antes de ser esmagado junto com o Vazio. Quem agarrara a Fonte, ele ou Lews Therin? Mate-o! Mate-o!

Em um assomo de fúria, Rand deu um berro dentro da própria cabeça: Cale a boca! Para sua própria surpresa, a outra voz desapareceu.

Suor escorria por seu rosto, e ele o limpou com a mão quase trêmula. Ele próprio agarrara a Fonte, só podia ter sido isso. A voz de um homem morto não poderia ter feito uma coisa dessas. Inconscientemente, não confiava em Taim manejando tamanha quantidade de saidin enquanto ele permanecia indefeso. Era isso.

— Só fique de olho em quem aprender depressa demais — murmurou.

Talvez estivesse revelando demais a Taim, mas as pessoas tinham o direito de saber o que poderiam vir a enfrentar. Quanto precisassem saber. Não ousava deixar que Taim ou qualquer um descobrisse onde ele aprendera a maior parte das coisas que sabia. Se alguém descobrisse que ele mantivera um dos Abandonados prisioneiro e permitira que ele fugisse… os rumores jamais mencionariam a parte do prisioneiro. Os Mantos-brancos alegavam que ele era um falso Dragão e muito provavelmente também Amigo das Trevas e diziam o mesmo de qualquer um que tocasse o Poder Único. Se o mundo soubesse a respeito de Asmodean, muita gente mais poderia acreditar nisso. Pouco importava que Rand tivesse precisado de um homem para instruí-lo com saidin. Nenhuma mulher podia fazer isso, não mais do que podiam ver suas tessituras, ou ele as delas. Os homens sempre acreditam no pior, e as mulheres sempre acreditam que o pior esconde algo ainda mais terrível. Era um antigo ditado de Dois Rios. Se Asmodean aparecesse outra vez, Rand lidaria com o homem sozinho.