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“Na verdade, se deixam guiar por seus agentes, que estimulam a vaidade a todo momento. Elas são o sonho das donas de casa, das adolescentes, dos jovens artistas que não têm dinheiro sequer para viajar até a cidade vizinha, mas que a consideram uma amiga, alguém que está vivendo o que eles gostariam de experimentar. Continuam fazendo fi lmes, ganham um pouco melhor, mesmo que os assessores de imprensa divulguem salários altíssimos; tudo uma mentira, que 1 9 5

nem mesmo os jornalistas acreditam, mas que publicam porque sabem que o público gosta de notícia, não de informação.”

— E qual é a diferença? — pergunta um Igor cada vez mais relaxado, mas sem deixar de prestar atenção à sua volta.

— Vamos dizer que você comprou um computador folheado a ouro em um leilão em Dubai, e resolveu escrever um novo livro usando essa maravilha tecnológica. O jornalista, quando souber disso, vai telefonar perguntando: “E como é seu computador de ouro?”

Isso é notícia. A verdadeira informação, que é o que está escrevendo, não tem a menor importância.

“Será que Ewa está recebendo notícias em vez de informação?”

Jamais havia pensado nisso.

— Continue.

— O tempo passa. Melhor dizendo, sete ou oito anos passam. De repente, já não há mais convites para fi lmes. Os eventos e o dinheiro de anúncios começam a escassear. O agente parece mais ocupado que antes — não atende com a mesma freqüência seus telefonemas.

A grande estrela se revolta: como é que podem fazer isso com ela, o grande símbolo sexual, o maior ícone do glamour? Primeiro culpa o agente, decide mudar a pessoa que a representa, e — para sua surpresa — nota que ele não se incomoda. Pelo contrário, pede para que assine um papel dizendo que tudo correu bem durante o tempo que es tiveram juntos, deseja-lhe boa sorte, e ponto fi nal da relação.

Maureen correu os olhos pelo local, para ver se encontrava algum exemplo do que estava dizendo. Gente que ainda é famosa, mas que desapareceu por completo do cenário, e hoje em dia procura desesperadamente uma nova oportunidade. Ainda se comportam como grandes divas, ainda têm o mesmo ar distante de antes, mas o coração está cheio de amargura, a pele repleta de botox e de cicatrizes invisíveis de operações plásticas. Viu botox, viu operações plásticas, mas nenhuma das celebridades da década passada estava ali. Talvez já não tivessem nem mais dinheiro para vir a um festival como aquele; neste momen-1 9 6

to animavam bailes do interior, festas de produtos como chocolate e cerveja, sempre se comportando como se ainda fossem quem tinham sido certa vez, mas sabendo que já não eram mais.

— Você falou de dois tipos de pessoas.

— Sim. O segundo grupo de atrizes encontra exatamente o mesmo problema. Com uma única diferença — de novo sua voz aumentou de tom, porque agora as moças da mesa ao lado estavam visivelmente interessadas nela, alguém que conhecia o meio. — Elas sabem que a beleza é passageira. Não são tão vistas em anúncios ou capas de revista, porque estão ocupadas em aprimorar sua arte.

Continuam estudando, fazendo contatos que serão importantes para o futuro, emprestando seu nome e sua aparência a determinados produtos — não na condição de modelo, mas de sócias. Ganham menos, claro. Mas ganham pelo resto da vida.

“E aí aparece alguém como eu. Que tenho um roteiro bom, dinheiro sufi ciente, e gostaria que estivessem em meu fi lme. Elas aceitam; têm talento o bastante para desempenhar os papéis que lhes são confi ados, e inteligência sufi ciente para saber que mesmo que o fi lme termine não sendo um grande sucesso, pelo menos continuam nas telas, podem ser vistas trabalhando em suas idades maduras, e quem sabe um novo produtor se interesse de novo pelo que fazem.”

Igor também nota que as moças estão escutando a conversa.

— Talvez fosse bom caminharmos um pouco — diz em voz baixa.

— Aqui neste bar não temos privacidade. Conheço um lugar mais isolado, onde podemos assistir ao pôr-do-sol, é um lindo espetáculo.

Aquilo era tudo que precisava ouvir no momento; um convite para passear! Para ver o pôr-do-sol, embora ainda faltasse muito tempo para que o sol se escondesse! Nada de vulgaridades como “vamos subir para o meu quarto porque preciso trocar de sapatos”, e “não vai acontecer nada, prometo”, mas lá em cima começa com a mesma conversa de que “eu tenho meus contatos, e sei exatamente de quem precisa”, enquanto tenta agarrá-la para dar o primeiro beijo.

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Honestamente, não se incomodaria de ser beijada por aquela pessoa que parecia encantadora, e sobre a qual não sabia absolutamente nada. Mas a elegância com que a seduzia era algo que não esqueceria tão cedo.

Levantam-se, na saída ele pede que debitem a conta no seu quarto (então, estava hospedado no Martinez!). Ao chegar na Croisette, ele sugere que virem à esquerda.

— É mais isolado. Além do mais, imagino que a vista seja mais bonita, porque o sol desce sobre as colinas que fi carão diante dos nossos olhos.

— Igor, quem é você?

— Boa pergunta — respondeu. — Gostaria também de ter a resposta.

Mais um ponto positivo. Nada de começar a dizer como era rico, inteligente, capaz disso e daquilo. Estava apenas interessado em ver o entardecer com ela, e isso bastava. Caminharam em silêncio até o fi nal da praia, cruzando com todo tipo de gente — de casais mais velhos que pareciam viver em um mundo diferente, completamente alheios ao festival, a jovens que passavam de patins, as roupas justas, os iPods nos ouvidos. De vendedores ambulantes com suas mercadorias expostas em um tapete cujas pontas estavam atadas a cordas, de modo que ao primeiro sinal de fi scais podiam transformar as “vitrines” em bolsas, até um local que parecia ter sido isolado pela polícia, por alguma razão desconhecida — afi nal era simplesmente um banco de praça. Nota que seu companheiro olha duas ou três vezes para trás, como se estivesse esperando alguém. Mas não se trata disso — talvez tenha visto um conhecido.

Entram por um píer onde barcos cobrem um pouco a vista da praia, mas terminam encontrando um lugar isolado. Sentam-se em um banco confortável, com apoio para as costas. Estão completamente sozinhos — ninguém vinha até aquele lugar, porque ali não acontece absolutamente nada. Está de ótimo humor.

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— Que paisagem! Você sabe por que Deus resolveu descansar no sétimo dia?

Igor não entende a pergunta, mas ela continua:

— Porque no sexto dia, antes que acabasse o trabalho e deixasse um mundo perfeito para o ser humano, um grupo de produtores de Hollywood se aproximou Dele: “Não se preocupe com o resto! Nós nos encarregaremos do pôr-do-sol em tecnicolor, efeitos especiais para as tempestades, iluminação perfeita, equipamento sonoro que sempre que o homem escutar as ondas vai achar que é o mar de verdade!”

Ri sozinha. O homem ao seu lado adotara um ar mais grave.

— Você me perguntou quem sou eu — disse o homem.

— Não sei quem é, mas sei que conhece bem a cidade. E posso acrescentar; foi uma bênção encontrá-lo. Em um único dia vivi a esperança, o desespero, a solidão e o prazer de ter uma companhia.

Muitas emoções juntas.

Ele retira um objeto do bolso — parece um tubo de madeira de menos de quinze centímetros.

— O mundo é perigoso — diz. — Não importa onde você esteja, sempre está arriscado a ser abordado por pessoas que não têm o menor escrúpulo em assaltar, destruir, matar. E ninguém, absolutamente ninguém, aprende a se defender. Estamos todos nas mãos dos mais poderosos.

— Tem razão. Portanto, imagino que este tubo de madeira seja uma maneira de não deixar que façam mal a você.