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Capítulo 5

Marriano Rubio era um homem que distribuíra os seus ovos, todos eles do mais puro ouro, por uma dúzia de cestos. Desempenhava o cargo de cônsul-geral do Peru, embora passasse a maior parte do seu tempo em Nova Iorque. Além disso, representava grandes interesses comerciais de vários países da América do Sul, e também da China comunista. E era também amigo pessoal de Inzio Tulippa, o chefe do maior cartel de droga colombiano.

Rubio era tão feliz na sua vida pessoal como nos negócios. Com quarenta e cinco anos, solteiro, gozava a fama, e o proveito, de ser um mulherengo do tipo respeitável. Nunca tinha mais de uma amante de cada vez, e a todas mantinha num adequado e generoso conforto quando as substituía por uma beldade mais jovem. Era um homem atraente, um conversador interessante, um excelente dançarino. Tinha uma cave de vinhos verdadeiramente magnífica e um autêntico chef de três estrelas.

No entanto, como tantos homens a quem a sorte sorri, Rubio gostava de desafiá-la. Excitava-o participar em jogos perigosos com gente perigosa. Precisava do risco para temperar o prato exótico que era a sua vida. Estava envolvido na transferência ilegal de tecnologia para a China; estabelecera uma linha de comunicação com os mais altos níveis dos barões da droga; aliciava dentistas americanos para emigrarem para a América do Sul. Tinha até negócios com Timmona Portella, um homem tão excentricamente perigoso como Inzio Tullipa.

0Como todos os jogadores de alto vôo, Rubio orgulhava-se de ter sempre um ás na manga. Estava a salvo de qualquer ameaça legal graças à sua imunidade diplomática, mas sabia que havia outros perigos, e nessas áreas mostrava-se cauteloso.

Ganhava rios de dinheiro, e gastava como um príncipe. Dava-lhe uma sensação tão grande de poder ter a possibilidade de comprar tudo o que quisesse, incluindo o amor das mulheres!

Gostava de manter numa vida de luxo antigas amantes, que continuavam a ser boas amigas. Era um patrão generoso e valorizava inteligentemente a fidelidade das pessoas que dependiam dele.

Naquela noite, no apartamento que ocupava em Nova Iorque, e que fazia felizmente parte das instalações do consulado peruano, Rubio preparava-se para o seu jantar com Nicole Aprile. O encontro seria, como habitualmente com ele, em parte de negócios, em parte de prazer. Conhecera Nicole em Washington, durante um jantar oferecido por uma das grandes empresas que eram suas clientes. Ao primeiro olhar, sentira-se intrigado pela sua beleza um pouco irregular, pelo seu rosto duro e determinado, os seus olhos inteligentes, a sua boca cheia, o seu corpo pequeno e voluptuoso, mas também pelo fato de ser filha do grande chefe da Máfia Don Raymonde Aprile.

Rubio encantara-a, mas não ao ponto de arrebatá-la, e orgulhava-se dela por isso. Admirava a inteligência romântica numa mulher. Teria de conquistar-lhe o respeito com ações, não com palavras. Começara imediatamente a tratar disso, convidando-a a representar um dos seus clientes num caso particularmente “chorudo”. Sabia que ela fazia um grande volume de trabalho pro bono para abolir a pena de morte e que defendera inclusivamente alguns criminosos notórios, conseguindo adiar as execuções. Para ele, era a mulher moderna ideal ― bonita, com uma carreira profissional notável, e ainda por cima cheia de compreensão. Excetuando a possibilidade de qualquer disfunção sexual, daria uma companheira extremamente agradável por um ou dois anos.

Tudo isto fôra antes da morte de Don Raymonde Aprile.

Agora, o principal objetivo do seu interesse era saber se Nicole e os irmãos poriam os seus bancos à disposição de Portella e Tulippa. Caso contrário, não faria qualquer sentido matar Astorre Viola.

Inzio Tulippa estava farto de esperar. Mais de nove meses depois da morte de Raymonde Aprile, continuava a não haver acordo com os herdeiros dos bancos. Fôra gasta uma quantidade enorme de dinheiro. Entregara milhões de dólares a Timmona Portella para subornar o FBI e a polícia de Nova Iorque, e para garantir os serviços dos irmãos Sturzo, e mesmo assim o assunto não avançava.

Tulippa não era a personificação habitual do grande traficante de droga. Vinha de uma família famosa e rica e chegara inclusivamente a jogar pólo pela equipe da Argentina, seu país natal. De momento, vivia na Costa Rica e tinha um passaporte diplomático colombiano que lhe garantia imunidade legal em qualquer país estrangeiro. Ocupava-se das relações com os cartéis da droga na Colômbia, com os produtores na Turquia, com as refinarias em Itália. Tratava dos aspectos logísticos, como os transporte e os indispensáveis subornos de funcionários a todos os níveis. Organizava os envios de enormes carregamentos para os Estados Unidos. Era também o homem que atraía cientistas nucleares americanos para a América do Sul e fornecia o dinheiro necessário às suas pesquisas. Em todas estas atividades, revelava-se um executivo cuidadoso, competente. E com todas elas amassara uma colossal fortuna.

Era, porém, um revolucionário. Defendia tenazmente a venda de drogas. As drogas eram a salvação do espírito humano, o refúgio daqueles que a pobreza e a doença mental levavam ao desespero. Eram o socorro dos sedentos de amor, das almas perdidas neste mundo espiritualmente tão árido como um deserto. Ao fim e ao cabo, se uma pessoa deixava de acreditar em Deus, na sociedade, no seu próprio valor, que lhe restava fazer? Matar-se? As drogas mantinham as pessoas vivas num mundo de sonhos e de esperança. Só era preciso um pouco de moderação. Ao fim e ao cabo, poder-se-ia dizer que as drogas matavam tanta gente como o álcool e os cigarros, a pobreza e o desespero? Não! No terreno da superioridade moral, Tulippa sentia-se seguro.

Inzio Tulippa tinha uma alcunha em todo o mundo. Era conhecido como o Vacinador. Industriais e investidores estrangeiros com gigantescos interesses na América do Sul ― quer se tratasse de poços de petróleo, fábricas de automóveis ou plantações ― tinham necessariamente de enviar para lá executivos de topo. Muitos deles eram americanos. O grande problema para esses grupos econômicos era o rapto dos seus representantes em solo estrangeiro, pelos quais chegavam a pagar resgates de milhões de dólares.

Inzio Tulippa dirigia uma firma que segurava os ditos executivos contra o risco de rapto, e todos os anos visitava os Estados Unidos para negociar contratos com os referidos grupos econômicos. Fazia-o não só pelo dinheiro, mas também porque precisava de alguns dos recursos industriais e científicos que possuíam. Em suma, realizava um serviço de vacinação. O que era importante para ele.

Tinha, no entanto, uma excentricidade bem mais perigosa. Via a perseguição internacional movida à indústria ilegal de drogas como uma Guerra Santa contra ele próprio, e estava decidido a defender o seu império. Por isso alimentava ambições ridículas. Queria ter capacidade nuclear como meio de pressão caso alguma vez o desastre se abatesse sobre a sua cabeça. Não que pensasse usá-la a não ser como último recurso, mas constituiria sem dúvida um poderoso trunfo negocial. Um desejo que teria parecido risível a toda a gente exceto ao agente especial encarregado da seção do FBI em Nova Iorque, Kurt Cilke.

A certa altura da sua carreira, Kurt Cilke fôra mandado para uma escola anti-terrorista do FBI. O fato de ter sido escolhido para aquele curso de seis meses constituíra uma prova do alto apreço em que o diretor o tinha. Durante esse tempo, tivera acesso (total ou não, não sabia) aos mais secretos memorandos e avaliações de cenários sobre o possível uso de armas nucleares por terroristas baseados em pequenos países. Os dossiês listavam. os países “nucleares”. Do conhecimento público, havia a Rússia, a França e a Inglaterra, talvez a índia e o Paquistão. Assumia-se que Israel possuía armamento nuclear. Kurt lera, fascinado, a descrição de cenários que pormenorizavam como os israelitas usariam essas armas se o bloco árabe estivesse à beira de esmagá-los.