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Fosse como fosse, tinha de ser feito. Por isso, certa noite, o sr. Pryor telefonou a Rosie. Ela ficou encantada por ouvi-lo, sobretudo depois de ele lhe dizer que tinha boas notícias. Quando desligou o telefone, o sr. Pryor soltou um suspiro de pena.

Levou os sobrinhos consigo, como motoristas e guarda-costas. Um ficou no carro, diante do prédio, e o outro acompanhou-o até ao apartamento de Rosie.

Ela recebeu-os correndo para os braços do sr. Pryor, o que sobressaltou o sobrinho e o fez levar a mão ao interior do casaco. Rosie preparou café e serviu um prato de pastéis que, segundo disse, eram especialmente importados de Nápoles. Ao sr. Pryor não souberam a nada que se parecesse, e considerava-se um perito nessas matérias.

― Ah, é tão querida! ― disse a Rosie. E, dirigindo-se ao sobrinho, acrescentou : Prova um.

O sobrinho, porém, recuara para um canto da sala e sentara-se numa cadeira para assistir àquela pequena comédia que o tio representava. Rosie deu uma palmadinha no chapéu que o sr. Pryor pousara a seu lado e disse, risonhamente:

― Gostava mais do seu coco. Naquele tempo não tinha um ar tão empertigado.

― Ah! ― respondeu o sr. Pryor, com bom humor. ― Quando se muda de país, é sempre preciso mudar de chapéu. E, minha querida Rosie, estou aqui para pedir-lhe um grande favor.

Notou a ligeiríssima hesitação dela antes de bater alegremente as mãos. ― Oh, tudo o que quiser! ― exclamou. ― Devo-lhe tanto.

O sr. Pryor sentiu-se enternecido por tanta doçura, mas o que tinha de ser feito tinha de ser feito.

― Rosie ― disse ―, quero que arranje as suas coisas de modo que amanhã possa partir para a Sicilia, só por alguns dias. O Astorre está lá á sua espera e tem de entregar-lhe certos papéis absolutamente secretos. Ele tem saudades suas e quer mostrar-lhe a Sicília.

Rosie corou de prazer. ― Claro, Sr. Pryor ― afirmou.

Na realidade, Astorre estava de regresso da Sicília e chegaria a Nova Iorque na noite seguinte. Ele e Rosie cruzar-se-iam algures sobre o Atlântico, cada qual no seu avião.

Rosie adoptou um ar sério, não isento de uma certa timidez.

― Não posso ir assim tão de repente ― declarou. ― Preciso de reservar o vôo, ir ao banco, tratar de uma porção de pequenas outras coisas.

― Espero que perdoe a presunção ― disse o sr. Pryor ―, mas já tratei de tudo. ― Tirou um sobrescrito branco do bolso do casaco. ― Aqui tem o seu bilhete de avião. Primeira classe. E também dez mil dólares, para qualquer compra de última hora e despesas de viagem. O meu sobrinho, que está ali sentado naquele canto com cara de pateta, virá buscá-la na limusine amanhã de manhã. O Astorre, ou alguém por ele, estará à sua espera em Palermo.

― Não posso ficar mais de uma semana ― anunciou Rosie. ― Tenho de fazer uns exames para a minha licenciatura.

― Não se preocupe ― disse-lhe o sr. Pryor. ― Faltar aos exames não será problema. Prometo. Alguma vez lhe falhei?

Falou num tom docemente paternal. Mas estava a pensar que era na verdade uma pena Rosie nunca mais tornar a ver a América.

Beberam café e comeram pastéis. O sobrinho voltou a recusar ambos, apesar de Rosie ter insistido com o seu sorriso mais encantador. A conversa foi interrompida pelo toque do telefone. Rosie levantou o ascultador.

― Oh, Astorre! ― exclamou. ― Estás a ligar da Sicília? Disse-me o sr. Pryor. Está aqui mesmo ao pé de mim, a beber café.

O sr. Pryor continuou a beber calmamente o seu café, mas o sobrinho levantou-se da cadeira, voltando a sentar-se quando o tio lhe dirigiu um olhar imperioso.

Rosie estava calada, a olhar interrogativamente para o sr. Pryor, que lhe acenou tranquilizadoramente com a cabeça.

― Sim, arranjou as coisas para eu ir passar uma semana à Sicília contigo ― disse Rosie. Fez uma pausa para escutar. ― Sim, claro que estou desapontada. Lamento que tenhas tido de regressar inesperadamente. Queres falar com ele? Não? OK., eu digo-lhe.

E desligou.

― Que pena ― continuou, voltando-se para o sr. Pryor. ― Teve de regressar mais cedo. Mas quer que espere aqui por ele. Disse mais ou menos meia hora. ― É verdade que o Astorre quer ver-me?

O sr. Pryor pegou noutro pastel. ― Com certeza ― disse.

― Diz que explica tudo quando chegar, ― acrescentou Rosie. ― Mais café?

O sr. Pryor assentiu, e depois suspirou.

― Que pena. Havia de gostar de ir à Sicília. ― Imaginou o funeral dela num cemitério siciliano. Teria sido tão triste. ― Vai para baixo e espera no carro ― ordenou ao sobrinho.

O jovem ergueu-se relutantemente, e o sr. Pryor fez um gesto, como que a tranquilizá-lo.

Rosie acompanhou-o até à porta.

O sr. Pryor dirigiu a Rosie um sorriso solícito e perguntou: ― Então, tem sido feliz nestes últimos anos?

Astorre chegara um dia mais cedo e Àldo Monza fora buscá-lo ao pequeno aeroporto de Nova Jersia. Viajara, claro, num jato particular, com um passaporte falso. Fora puramente por impulso que telefonara a Rosie, levado pela vontade de vê-la e de passar uma noite descontraída a seu lado. Quando ela lhe dissera que o sr. Pryor estava no apartamento, os seus instintos tinham dado instantaneamente o alarme. Quanto à ida dela à Sicília, adivinhou de imediato os planos do sr. Pryor. Tentou controlar a sua fúria. O sr. Pryor queria fazer o que achava que devia ser feito de acordo com a sua experiência, mas o preço era demasiado alto.

Pouco depois, Rosie abriu-lhe a porta e lançou-se-lhe nos braços. O sr. Pryor levantou-se da cadeira e Astorre dirigiu-se-lhe e abraçou-o. O sr. Pryor disfarçou a sua surpresa. Não era habitual Astorre mostrar-se tão afetuoso.

Então, para grande estupefação do sr. Pryor, Astorre voltou-se para Rosie e disse: ― Vai amanhã para a Sicília, como planeámos, e eu vou ter contigo dentro de dias. Fazemos umas férias.

― Formidável! ― exclamou Rosie. ― Nunca fui à Sicília.

― Obrigado por ter tratado de tudo ― continuou Astorre, dirigindo-se ao sr. Pryor. ― E então, novamente para Rosie. ― Não posso ficar. Encontramo-nos na Sicília. Esta noite, tenho uns assuntos importantes a tratar com o sr. Pryor. O melhor é ires preparar-te para a viagem. Não leves muita roupa. Podemos fazer compras em Palermo.

― OK. ― disse Rosie. Beijou o sr. Pryor na face e deu a Astorre um longo abraço e um interminável beijo. Depois abriu a porta para ambos saírem.

Uma vez na rua, Astorre disse ao sr. Pryor:

― Vamos no meu carro. Diga aos seus sobrinhos que regressem a casa... Não vai precisar deles esta noite.

Foi só então que o sr. Pryor começou a sentir-se um pouco nervoso.

― Ia fazê-lo para teu bem ― explicou.

No banco traseiro do carro, com Monza ao volante, Astorre voltou-se para o sr. Pryor.

― Ninguém o aprecia mais do que eu ― disse. ― Mas sou o chefe ou não sou?

― Inquestionavelmente ― respondeu o sr. Pryor.

― Era um problema que eu já tencionava abordar. Reconheço o perigo e agradeço ter-me feito agir. Mas preciso dela viva. Por vezes, é preciso correr alguns riscos. Portanto, aqui tem as minhas instruções. Na Sicília, arranje-lhe uma casa de luxo, com criados. Pode inscrever-se na Universidade de Palermo. Terá uma renda muito generosa, e o Bianco apresentá-la-á à melhor sociedade siciliana. Faremos com que se sinta feliz, e o Bianco saberá controlar quaisquer problemas que surjam. Sei que não aprova o meu afeto pela Rosie, mas é algo que não consigo evitar. Julgo que os seus próprios defeitos a ajudarão a ser feliz. Sei que tem um fraquinho por dinheiro e por prazer, mas quem não tem? Torno-o responsável pela segurança dela. Nada de acidentes.