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― Eu próprio gosto imenso daquela rapariga, como bem sabes ― respondeu o sr. Pryor. ― Uma autêntica mafiosa. Vais voltar à Sicília?

― Não ― respondeu Astorre. v Temos assuntos mais importantes a tratar.

Capítulo 13

Depois de ter encomendado, Nicole centrou a sua atenção em Marriano Rubio. Tinha duas mensagens importantes a entregar naquele dia, e queria certificar-se de que não cometia erros em qualquer delas.

Rubio escolhera o restaurante, um bistro francês de luxo onde os empregados andavam nervosamente de mesa em mesa transportando altos moinhos de pimenta de madeira envernizada e compridas cestas de verga cheias de pães acabados de sair do forno. Não gostava particularmente da comida, mas conhecia o maitre, o que lhe garantia sempre uma boa mesa num canto sossegado. Levava frequentemente ali as suas conquistas.

― Hoje estás mais calada que de costume ― disse, estendendo a mão por cima da mesa para agarrar a dela. Nicole sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. Compreendeu que o odiava por ter aquele poder sobre ela, e retirou a mão.

― Sentes-te bem?

― Foi um dia dificil.

― Ah! ― exclamou ele, com um suspiro. ― É o preço de trabalhar com serpentes. ― Rubio não tinha a menor consideração pela firma de advogados de Nicole. ― Por que é que os aturas? Por que não deixas que em vez disso seja eu a tomar conta de ti?

Nicole perguntou a si mesma quantas mulheres teriam já ido naquela conversa e deitado janela fora as suas carreiras para estarem com ele.

― Não me tentes ― disse, coquetamente.

A resposta surpreendeu Rubio, que a sabia dedicada à carreira. Mas era aquela por que esperara.

― Deixa-me tomar conta de ti ― repetiu. ― Além disso, quantas mais empresas achas que consegues processar?

Um dos empregados abriu uma garrafa de vinho branco gelado, deu a rolha a cheirar a Rubio e verteu uma pequena quantidade num elegante copo de cristal. Rubio provou-o e assentiu com a cabeça. Depois voltou a dedicar a sua atenção a Nicole.

― Por mim, desistia já ― disse ela ―, mas há alguns casos pro bono que quero levar até ao fim. ― Bebeu um pequeno gole de vinho. ― Ultimamente, tenho andado a pensar na banca.

Rubio semicerrou os olhos.

― Bem, felizmente para ti, os bancos são hereditários na família.

― Pois são ― concordou ela. ― Mas, infelizmente, o meu pai não julgava as mulheres capazes de geri-los. Por isso sou obrigada a ficar a ver o maluco do meu primo dar cabo de tudo. ― Ergueu a cabeça para olhar para ele e acrescentou: ― A propósito, o Astorre acha que tu andas a tentar liquidá-lo.

Rubio tentou parecer divertido.

― A sério? E como conseguiria eu uma coisa dessas?

― Oh, não faço idéia! ― respondeu ela, aborrecida. ― Não esqueças que estamos a falar de alguém que ganha a vida a vender macarrão. Tem farinha no lugar do cérebro. Diz que queres os bancos para branquear dinheiro e não sei que mais. Até quis convencer-me de que tinhas tentado raptar-me. ― Nicole sabia que tinha de ser muito cuidadosa naquele ponto. ― Mas eu não acredito. Penso que é ele que está por detrás de tudo o que tem acontecido. Sabe que eu e os meus irmãos queremos controlar os bancos, por isso anda a tentar tornar-nos paranóicos. Mas nós estamos fartos de o ouvir.

Rubio estudou-lhe o rosto. Orgulhava-se da sua capacidade de distinguir a verdade da ficção. Ao longo dos seus anos como diplomata, ouvira mentiras da boca de alguns dos mais respeitados estadistas do mundo. E naquele momento, olhando Nicole no fundo dos olhos, decidiu que ela estava a dizer-lhe a verdade absoluta.

― Fartos a que ponto? ― perguntou.

― Estamos todos exaustos ― disse Nicole.

Vários empregados surgiram do nada e afadigaram-se à volta da mesa durante longos minutos para lhes servirem o prato principal. Quando finalmente se retiraram, Nicole inclinou-se para Rubio e sussurrou-lhe:

― Quase todas as noites o meu primo trabalha até tarde no armazém.

― O que é que estás a sugerir? ― perguntou Rubio.

Ela pegou na faca e começou a cortar o prato principaclass="underline" escuros medalhões de pato a nadar num leve molho de laranja.

― Não estou a sugerir coisa nenhuma ― disse. ― Mas como é que o accionista maioritário de um banco internacional passa a maior parte do seu tempo num armazém de macarrão? Se eu tivesse o controle, estaria constantemente no banco, a fazer o possível para que os meus sócios recebessem o melhor retorno possível do seu investimento. ― Dito isto, provou o pato. Sorriu a Rubio. ― Delicioso - afirmou.

Além de todas as suas outras qualidades, Georgette Cilke era uma mulher muito organizada. Todas as terças-feiras à tarde passava exatamente duas horas na sede nacional da Campanha Contra a Pena de Morte, onde ajudava a atender os telefones e revia as petições dos advogados a favor de presos nas celas da morte. Por isso Nicole sabia exatamente onde entregar a sua segunda mensagem importante desse dia.

Quando Georgette viu Nicole entrar no gabinete, o rosto iluminou-se-lhe. Levantou-se para beijar a amiga.

― Graças a Deus ― disse. ― Tem sido um dia horrível. Ainda bem que vieste. Bem preciso de um pouco de apoio moral.

― Não sei se vou ser de grande ajuda ― respondeu Nicole. ― Há uma coisa que me está a perturbar e que quero discutir contigo.

Durante todos aqueles anos a trabalharem juntas, nunca Nicole fizera confidências a Georgette, embora mantivessem um caloroso relacionamento profissional. Georgette nunca discutia o trabalho do marido fosse com quem fosse. E Nicole nunca vira a vantagem de falar a respeito dos seus amantes com mulheres casadas, que se sentiam sempre na obrigação de dar conselhos sobre a melhor maneira de levar um homem ao altar, que era pecisamente o que ela não queria. Nicole peferia conversar a respeito de sexo, mas notara que o tema deixava normalmente as mulheres casadas pouco à-vontade. Talvez, pensava Nicole, não gostassem de ouvir falar a respeito daquilo que não tinham.

Georgette perguntou a Nicole se queria conversar em privado, e quando ela assentiu, encontraram um pequeno gabinete vazio ao fundo de um corredor.

― Nunca falei disto com ninguém ― começou Nicole ―, mas deves saber que o meu pai era Raymonde Aprile... conhecido como o Don. Alguma vez ouviste falar dele?

Georgette pôs-se de pé.

― Não me parece que deva ter esta conversa contigo...

― Senta-te, por favor ― interrompeu-a Nicole. ― Precisas de ouvir o que tenho para te dizer.

Georgette pareceu pouco à-vontade, mas fez o que Nicole lhe pedia. Na realidade, sempre tivera curiosidade em relação à família da amiga, mas sabia que não podia abordar o assunto. Como muitas outras pessoas, assumia que Nicole tentava, através do seu trabalho pro bono, compensar os  pecados do pai. Que infância terrível devia ter sido a dela, crescendo à sombra de criminosos. E que embaraçante. Georgette imaginou a própria filha a ter vergonha de ser vista em público com qualquer dos pais. Perguntou a si mesma como teria Nicole sobrevivido àqueles anos.

Nicole sabia que Georgette nunca trairia o marido fosse de que maneira fosse, mas também sabia que era uma mulher cheia de compaixão e com um espírito aberto. Alguém que dedicava o seu tempo livre a defender assassinos condenados à morte. Pousou nela um olhar firme e disse: ― O meu pai foi morto por homens que têm uma relação muito próxima com o teu marido. E eu e os meus irmãos temos provas de que o teu marido recebeu subornos desses homens.