Aspinella ouvira falar de Rudolfo durante uma investigação de costumes que, sob disfarce, conduzira nos hotéis mais caros da cidade. Um dos porteiros, preocupado com a possibilidade de ser chamado a depor, dera-lhe, a troco da promessa de que não seria citado, a dica a respeito de Rudolfo. A primeira intenção de Aspinella fora mandá-lo para a cadeia, mas depois de tê-lo conhecido e experimentado uma das suas massagens, pensara que seria um crime ainda maior negar às mulheres o prazer de tão extraordinários talentos.
Passados alguns minutos, Rudolfo bateu à porta e perguntou: ― Posso entrar?
― Estou a contar com isso, boneco ― respondeu ela. Ele entrou e examinou-a dos pés à cabeça.
― Bonita pala ― comentou.
Durante a sua primeira sessão, Aspinella ficara surpreendida ao vê-lo entrar na sala nu, mas ele explicara. “Para quê estar com o trabalho de vestir-me para ter de despir-me logo a seguir?” Rudolfo era um espécime impressionante, alto e forte, com um tigre tatuado no bícepe direito e uma sedosa mata da pêlos louros no peito. Aspinella gostava especialmente daqueles pêlos, que distinguiam Rudolfo desses modelos das revistas, tão cuidadosamente depilados, barbeados e engordurados que se tornava quase impossível saber se eram machos ou fêmeas...
― Como tem passado? ― perguntou ele.
― Isso não te interessa ― respondeu Aspinella. ― Tudo o que precisas de saber é que estou necessitada de um pouco de terapia sexual.
Rudolfo começou pelas costas, carregando com força, concentrando-se nos nós de nervos contraídos. Depois, massajou-lhe suavemente o pescoço antes de voltá-la e massajar ao de leve os seios e o estômago. Quando começou a acariciá-la entre as pernas, já ela estava úmida e a respirar ofegantemente.
― Por que é que os outros homens não me fazem isto? ― exclamou, com um suspiro de êxtase.
Rudolfo preparava-se para iniciar a melhor parte do seu serviço, a massagem de língua, que executava de uma forma particularmente hábil e com notável vigor. Mas a pergunta, que ouvira inúmeras vezes, fê-lo parar. Nunca deixava de surpreendê-lo. A impressão que tinha era de que a cidade estava a explodir de mulheres sexualmente subalimentadas.
― O motivo por que outros homens não o fazem constitui um mistério para mim ― disse. ― O que é que lhe parece?
Aspinella detestava interromper o seu devaneio sexual, mas compreendeu que Rudolfo precisava de um pouco de conversa de almofada antes do “grand finale.”
― Os homens são fracos ― explicou. ― Somos nós que tomamos todas as decisões importantes. Quando casar. Quando ter filhos. Mantemos-lhes a rédea curta e pedimos-lhes contas das coisas que fazem.
Rodolfo sorriu delicadamente.
― Sim, mas o que é que isso tem a ver com sexo?
Aspinella queria que ele voltasse ao trabalho.
― Não sei ― disse. ― É só uma teoria.
Rodolfo recomeçou a massajá-la, lentamente, regularmente, ritmicamente. Parecia nunca se cansar. E de cada vez que ele a levava aos píncaros do prazer, ela imaginava as profundezas de dor a que levaria Astorre Viola e o seu bando de assassinos na noite seguinte.
A Viola Macaroni Company tinha a sua sede num grande armazém de tijolo no Lower East Side de Manhattan. Trabalhavam ali mais de cem pessoas, descarregando grandes sacos de serapilheira de macaroni italiano para uma correia transportadora, que os separava e empacotava automaticamente.
Um ano antes, inspirado pelo artigo de uma revista a respeito de como as pequenas empresas estavam a expandir os seus negócios, Astorre contratara um consultor de gestão recém-licenciado pela Harvard Business School, para recomendar mudanças. O jovem dissera-lhe que dobrasse os preços, mudasse a marca do seu macaroni para Uncle Vitds Homemade Pasta e despedisse metade dos empregados, que poderiam ser substituídos por trabalhadores eventuais a ganhar metade do ordenado. Ao ouvir esta última sugestão, despedira o consultor.
O seu escritório ficava no piso principal, que tinha mais ou menos o tamanho de um campo de futebol e ao longo de cujas paredes se alinhavam reluzentes máquinas de aço inoxidável. As traseiras do edificio davam para um cais de carga e descarga. Havia câmaras de vídeo em todas as portas e espalhadas pelo interior da fábrica, o que lhe permitia manter um olho nos visitantes e na produção a partir do gabinete. Normalmente, o armazém fechava às seis da tarde, mas naquela noite Astorre retivera cinco dos seus empregados mais qualificados e Aldo Monza. Estava à espera.
Quando, na noite anterior, no apartamento de Nicole, lhe explicara o seu plano, ela opusera-se veementemente.
― Não ― dissera, abanando a cabeça. ― Em primeiro lugar, não vai resultar. E em segundo lugar, não quero tornar-me cúmplice de assassínio. ― Eles mataram a tua assistente e tentaram raptar-te ― dissera Astorre, calmamente. ― Estamos todos em perigo, a menos que eu tome medidas.
Nicole pensara em Helene e então recordara as suas muitas discussões à mesa com o pai, que teria sem a mínima dúvida procurado vingança. O pai ter-lhe-ia dito que devia aquilo à memória da amiga, e ter-lhe-ia feito notar que era razoável e necessário tomar medidas para proteger a família. ― Por que não procuramos as autoridades? ― perguntara.
A resposta de Astorre fora seca: ― É demasiado tarde para isso.
Agora estava sentado no seu gabinete, a servir de isca. Graças a Grazziella, sabia que Tulippa e Portella se encontravam na cidade para uma reunião do cartel. Não podia ter a certeza de que a dica dada por Nicole a Rubio os levaria a fazer-lhe uma visita, mas esperava que tentassem uma última vez convencê-lo a vender os bancos antes de recorrerem à violência. Assumiu que o revistariam, de modo que não não tinha qualquer arma consigo, com exceção de um estilete que guardou num bolso especial cosido à manga da camisa.
Estava a vigiar atentamente os monitores de vídeo quando viu meia dúzia de homens entrarem no edifício pelo cais de carga. Dera instruções aos seus próprios homens para que se escondessem e não atacassem antes de ele lhes fazer sinal.
Estudou o monitor e reconheceu Portella e Tulipa entre os seis visitantes. Então, quando as figuras desapareceram do visor, ouviu passos a aproximarem-se do gabinete. Se já tivessem decidido matá-lo, Monza e a sua equipe estavam a postos e poderiam intervir.
Ouviu, no entanto, Portella chamar por ele. Não respondeu.
Segundos depois, Portella e Tulippa apareceram à porta.
― Entrem ― convidou Astorre, com um amplo sorriso. Levantou-se para lhes apertar a mão. ― Que surpresa. Raramente tenho visitas a esta hora. Alguma coisa que possa fazer por vocês?
― Sim ― respondeu Portella, em ar de troça. ― Vamos ter um grande jantar e acabou-se-nos o macaroni.
Astorre agitou magnanimamente uma mão e declarou: ― O meu macaroni é o vosso macaroni.
― E que tal os seus bancos? ― perguntou Tulippa, sombriamente. Astorre estava preparado para aquilo.
― Chegou a altura de falarmos a sério. Chegou a altura de tratar de negócios. Mas primeiro quero mostrar-lhes a fábrica. Orgulho-me muito dela.
Tulippa e Portella trocaram um olhar confuso. Estavam desconfiados. ― OK, mas que seja rápido ― aquiesceu Tulippa, perguntando a si mesmo como fora possível um palhaço daqueles sobreviver tanto tempo. Astorre guiou-os. Os quatro homens que os tinham acompanhado estavam por perto. Astorre cumprimentou-os calorosamente, apertando a mão a cada um deles e elogiando-lhes as roupas.