Chega. Eu tentara dar lições de sexo para me proteger, ele fazia o mesmo, e por mais que nossas palavras fossem sábias - já que um sempre queria impressionar 0 outro ; isso era tão estúpido, tão indigno de nossa relação! Eu o puxe i até mim porque - independentemente do que ele tinha para dizer, ou do que eu pensasse a respeito de mim mesma - a vida já me ensinara muita coisa. No início dos tempos, tudo era amor, era entrega. Mas logo em seguida, a serpente aparece para Eva e diz: o que você entregou, você irá perder. Assiras foi comigo - fui expulsa do paraíso ainda na escola, e desde então procurei uma maneira de dizer à serpente que ela estava errada, que viver era mais importante do que guardar para si.
Mas a serpente estava certa, e eu estava errada.
Me ajoelhei, tirei aos poucos suas roupas, e vi que seu sexo estava ali, dormente, sem reagir. Ele parecia não se incomodar com isso, e eu beijei a parte interior de suas pernas, começando dos pés. O sexo começou a reagir lentamente, e eu o toquei, depois o coloquei em minha boca, e - sem pressa, sem que ele interpretasse isso como "vamos, prepare-se para agir!" - beijei-o com o carinho de quem não espera nada, e justamente por isso, consegui tudo. Vi que ficava excitado, e começou a tocar o bico de meus seios, girando-os como naquela noite de total escuridão, me deixando com vontade de tê- lo de novo entre minhas pernas, ou em minha boca, ou como desejasse ou quisesse me possuir.
Ele não retirou meu casaco; fez com que eu me inclinasse de bruços sobre a mesa, com as pernas ainda
apoiadas no chão. Penetrou-me lentamente, desta vez sem ansiedade, sem medo de me perder - porque no fundo também ele já tinha entendido que aquilo era um sonho, e ia permanecer para sempre como um sonho, jamais como realidade.
Ao mesmo tempo em que sentia seu sexo dentro de mim, sentia também sua mão nos seios, nas nádegas, e tocando- me como só uma mulher sabe fazer. Então entendi que éramos feitos um para o outro, porque ele conseguia ser mulher como agora, e eu conseguia ser homem como quando conversamos ou nos iniciamos mutuamente no encontro das duas almas perdidas, dos dois fragmentos que faltavam para completar o universo.
À medida que ele me penetrava e me tocava ao mesmo tempo, senti que não estava fazendo isso apenas a mim, mas a todo o universo. Tínhamos tempo, ternura e conhecimento um do outro. Sim, tinha sido ótimo chegar com duas malas, o desejo de partir, ser imediatamente jogada no chão e penetrada com violência e medo; mas também era bom saber que a noite não acabaria nunca, e agora ali, na mesa da cozinha, o orgasmo não era o fim em si, mas o início deste encontro.
Seu sexo ficou imóvel dentro de mim, enquanto seus dedos moviam-se rapidamente, e eu tive o primeiro, depois o segundo, e o terceiro orgasmo seguidos. Tinha vontade de empurrá-lo, a dor do prazer é tão grande que machuca, mas agüentei firme, aceitei que era assim, que eu podia agüentar mais um orgasmo, ou mais dois, ou mais ...
... e de repente, uma espécie de luz explodiu dentro de mire. Não era mais eu mesma, mas um ser infinitamente superior a tudo que eu conhecia. Quando sua mão me levou ao quarto orgasmo, entrei em um lugar onde tudo parecia em paz, e no meu quinto orgasmo conheci Deus. Então senti que ele recomeçava a mexer o seu sexo dentro do meu, embora sua mão não tivesse parado, e disse "meu Deus", me entreguei a qualquer coisa, o inferno ou o paraíso.
Mas era o paraíso. Eu era a terra, as montanhas, os tigres, os rios que corriam até os lagos, os lagos que se transformavam em mar. Ele se movia cada vez mais rapidamente, e a dor se misturava com prazer, eu podia dizer "não agüento mais", mas não seria justo -
porque a esta altura, eu e ele éramos a mesma pessoa.
Deixei que me penetrasse pelo tempo que fosse necessário, suas unhas agora estavam cravadas nas minhas nádegas, e eu ali de bruços, na mesa da cozinha, pensando que não existia melhor lugar no mundo para fazer amor. De novo o barulho da mesa, a respiração cada vez mais rápida, as unhas machucando, e o meu sexo batendo com força no sexo dele, carne com carne, osso com osso, eu ia de novo para um orgasmo, ele ia também, e nada disso - nada disso era MENTIRA!
- Vamos!
Ele sabia o que estava falando, e eu sabia que era o momento, senti que meu corpo todo se afrouxava, eu deixava de ser eu mesma - já não escutava, via, provava o gosto de nada - apenas sentia.
- Vamos!
E eu fui, junto com ele. Não foram onze minutos, mas uma eternidade, era como se os dois saíssemos do corpo e caminhássemos, em profunda alegria, compreensão e amizade, pelos jardins do paraíso. Eu era mulher e homem, ele era homem e mulher. Não sei quanto tempo durou, mas tudo parecia estar em silêncio, em oração, como se o universo e a vida deixassem de existir e se transformassem em algo sagrado, sem nome, sem tempo.
Mas logo o tempo voltou, eu escutei seus gritos e gritei com ele, os pés da mesa batiam com força no chão, e a nenhum de nós dois ocorreu perguntar ou saber o que o resto do mundo estava pensando.
E ele saiu de mim sem nenhum aviso, e ria, senti meu sexo se contrair, me virei para ele e ria também, nos abraçamos como se fosse a primeira vez que tivéssemos feito amor em nossa vida.
- Abençoe- me - pediu.
Eu o abençoei, sem saber o que estava fazendo. Pedi que fizesse o mesmo, e ele fez, dizendo "abençoada seja esta mulher, que muito amou". Suas palavras eram lindas, tornamos a nos abraçar e ali ficamos, sem entender como onze minutos podem levar um homem e uma mulher a tudo isso.
Nenhum dos dois estava cansado. Fomos até a sala, ele colocou um disco, e fez exatamente o que eu estava esperando: acendeu a lareira e serviu- me vinho.
Em seguida abriu um livro e leu:
"Tempo de nascer, tempo de morrer tempo de plantar, tempo de arrancar a planta tempo de matar, tempo de curar tempo de destruir, tempo de construir tempo de chorar, tempo de rir tempo de gemer, tempo de bailar tempo de atirar pedras, tempo de recolher pedras tempo de abraçar, tempo de separar tempo de buscar, tempo de perder tempo de guardar, tempo de jogar fora tempo de rasgar, tempo de costurar tempo de calar, tempo de falar tempo de amar, tempo de odiar tempo de guerra, tempo de paz."
Aquilo soava como uma despedida. Mas era a mais linda de todas que eu podia experimentar em minha vida.
Eu o abracei, ele me abraçou, deitamos no tapete ao lado da la reira. A sensação de plenitude ainda continuava, como se eu sempre tivesse sido uma mulher sábia, feliz, realizada na vida.
- Como é que você pode se apaixonar por uma prostituta?
- Na época, não entendi. Mas hoje, pensando um pouco, acredito que ao saber que seu corpo jamais seria apenas meu, eu podia me concentrar em conquistar sua alma.
- E o ciúme?
- Não se pode dizer para a primavera: "Tomara que chegue logo e que dure bastante."
Pode-se apenas dizer: "venha, me abençoe com sua esperança, e fique o máximo de tempo que puder."
Palavras soltas ao vento. Mas eu precisava escutar, e ele precisava dizer. Dormi sem saber exatamente quando. Sonhei, não com uma situação ou com uma pessoa, mas com um perfume, que inundava tudo.
Quando Maria abriu os olhos, alguns raios de sol já começavam a entrar pelas persianas abertas.
"Fiz duas vezes amor com ele", pensou, olhando para o homem adormecido ao seu lado. "E, no entanto, parece que sempre estivemos juntos, e que ele sempre conheceu minha vida, minha alma, meu corpo, minha luz, minha dor."
Levantou-se para ir até a cozinha e fazer um café. Foi então que viu as duas malas no corredor e lembrou-se de tudo: da promessa, da oração na igreja, da sua vida, do sonho que insiste em transformar-se em realidade e perder seu encanto, do homem perfeito, do amor em que corpo e alma eram a mesma coisa, e prazer e orgasmo eram coisas diferentes.
Podia ficar; não tinha nada mais a perder na vida, apenas mais uma ilusão. Lembrou-se do poema: tempo de chorar, tempo de rir.