Выбрать главу

— Eu sei onde fica — comentou o motorista. — E logo antes de Park Crescent.

— Isso mesmo — concordou Fat Charlie. Ele estava adormecendo no banco de trás.

— Acho que peguei a rua errada — disse o motorista. Parecia irritado. — Vou desligar o taxímetro, ok? Vamos deixar por cinco.

— Claro — assentiu Fat Charlie, aconchegando-se no banco de trás do táxi. Adormeceu. O táxi rodava pela noite tentando simplesmente virar a esquina.

A detetive day, atualmente encarregada de uma missão com duração de um ano pelo Batalhão da Fraude, chegou ao escritório da Agência Grahame Coats às 9h30 da manhã. Grahame Coats a esperava na recepção e a acompanhou até seu escritório.

— Gostaria de tomar um café? Chá?

— Não, obrigada.

Ela pegou um caderninho de anotações e sentou-se, olhando para ele, esperando.

— Bom, não sei como deixar ainda mais claro que a discrição deve ser a essência da sua investigação. A Agência Grahame Coats tem uma reputação de integridade e justiça. Aqui o dinheiro de um cliente é sacrossanto. Devo dizer a você que, quando comecei a suspeitar de Charles Nancy, logo tirei aqueles pensamentos da cabeça. Não iria desconfiar de um homem decente e trabalhador dessa maneira. Se você me perguntasse há uma semana o que eu achava de Charles Nancy, eu lhe diria que ele é uma pessoa de caráter admirável.

— Estou certa disso. Então... Quando o senhor se deu conta de que havia dinheiro sendo desviado das contas dos clientes?

— Bom. Não tenho muita certeza ainda. Hesito em lançar uma suposição assim ao léu. Ou jogar a primeira pedra. Não julgueis, para que não sejais julgados.

“Na televisão”, pensou Daisy, “eles sempre dizem algo como ‘limite-se aos fatos’.” Ela queria dizer isso, mas não conseguia. Não gostava daquele homem.

— Eu imprimi todas as transações anômalas aqui — disse ele. — Como você pode ver, todas foram feitas do computador de Nancy. Devo ressaltar mais uma vez que a discrição é fundamentaclass="underline" entre os clientes da Grahame Coats, estão vários figurões públicos e, como informei ao seu superior, considero um favor pessoal se esse assunto for tratado da maneira mais discreta possível. A discrição deve ser sua palavra de ordem. Se por acaso pudermos persuadir o sr. Nancy a simplesmente devolver o dinheiro roubado, ficarei perfeitamente satisfeito em fazer o assunto morrer aí. Não tenho nenhum interesse em processá-lo.

— Farei o possível, mas, no final de tudo, nós recolhemos toda a informação e a repassamos ao Serviço Jurídico da Coroa. — Ela ficou imaginando quanta influência ele tinha sobre o chefão. — O que levou o senhor a suspeitar dele?

— Ah, sim. Francamente, com toda a honestidade, foram certas peculiaridades no comportamento. Coisinhas. O cachorro que deixou de latir à noite, o quanto a salsa afundava na manteiga do prato. Nós, detetives, encontramos sentido nas menores coisas, não é, senhorita Day?

— Ahm, o nome é detetive Day, na verdade. Bom, se o senhor puder me passar os arquivos impressos e outros documentos, como extratos bancários e coisas assim.... Talvez nós precisemos pegar o computador dele para ver o disco rígido.

— Absolutotalmente — concordou ele. O telefone na mesa tocou. — Com licença. — Atendeu e ouviu. — Ah, é? Nossa, diga a ele para me esperar na recepção. Irei vê-lo num instante.

Grahame desligou o telefone e disse a Daisy:

— Isso é o que se poderia chamar, no âmbito policial, de entregar-se de bandeja.

Daisy ergueu uma sobrancelha.

— E o próprio Charles que está aí para me ver. Vamos lá encontrá-lo? Se você precisar, pode usar meu escritório como sala de interrogatório. Acho que até tenho um gravador aí que você pode usar.

Daisy respondeu:

— Não será necessário. A primeira coisa a fazer é examinar a documentação.

— Certo, certo. Que tolo eu sou. Ahm.. você., gostaria de conhecê-lo?

— Não sei no que isso ajudaria.

— Ah, mas eu não diria que você o estaria investigando — assegurou Grahame Coats. — Do contrário, ele já estaria longe da costa-del-crime antes de termos tempo de pronunciar as palavras “provaprimafacie”. Para ser sincero, gosto de acreditar que sou uma pessoa que compreende perfeitamente os problemas da investigação policial hoje em dia.

Daisy pegou-se pensando que qualquer pessoa que roubasse dinheiro desse homem não poderia ser de todo má, o que, ela sabia, não era o jeito certo de um policial pensar.

— Eu a acompanho até a porta.

Na sala de espera, havia um homem sentado. Tinha a aparência de alguém que dormira com as roupas que estava usando. Não tinha feito a barba e parecia meio confuso. Grahame Coats deu uma cutucadinha em Daisy e inclinou a cabeça na direção do homem. Bem alto, disse:

— Charles! Deus do céu, homem, olha só o seu estado. Você está horrível.

Fat Charlie olhou para ele com olhos embaçados.

— Não consegui chegar em casa ontem à noite. Um problema com o táxi.

— Charles, essa é a detetive Day, da Polícia Metropolitana. Ela está aqui fazendo uma investigação de rotina.

Fat Charlie percebeu que havia mais uma pessoa ali. Tentou focalizar o olhar e viu roupas austeras, que mais pareciam um uniforme. Então viu o rosto. E murmurou:

— Ahm...

— Bom dia — cumprimentou Daisy. Isso foi o que a boca dela disse. Mas, em sua mente, só dizia drogadrogadrogadrogadrogadroga repetidas vezes.

— Prazer em conhecê-la — respondeu Fat Charlie. Confuso, fez algo que nunca fizera antes: imaginou a policial sem roupa e percebeu que sua imaginação lhe dera uma imagem precisa da jovem com a qual acordou na manhã antes do sonho com o pai. As roupas sérias a tornavam um pouco mais velha, mais séria e muito mais assustadora. Mas era ela, sem dúvida nenhuma.

Como todos os seres conscientes, Fat Charlie tinha um limite para a esquisitice. Nos últimos dias, o esquisitômetro estava batendo no vermelho, às vezes quase no limite. Agora havia explodido. A partir desse momento, ele suspeitou, nada o deixaria surpreso. Não haveria mais nenhuma maneira de fazê-lo achar algo esquisito. Era o limite.

Ele estava errado, é claro.

Fat Charlie observou enquanto Daisy ia embora e seguiu Grahame Coats até o escritório dele.

Grahame Coats fechou a porta. Apoiou o traseiro na mesa e sorriu como uma doninha que acabava de descobrir que ficaria acidentalmente presa a noite toda dentro de um galinheiro.

— Vamos logo ao assunto. Vamos pôr as cartas na mesa. Nada de enrolação. Vamos pôr tudo em pratos limpos.

— Tudo bem — disse Fat Charlie. — Vamos lá. Você disse que tinha uns papéis para eu assinar?

— Não é mais isso. Esqueça isso. Vamos discutir algo que você falou comigo alguns dias atrás. Você me alertou a respeito de algumas transações suspeitas que estavam acontecendo aqui.

— Alertei?

— Quando um não quer, Charles, dois não brigam. Naturalmente o meu primeiro impulso foi investigar. Por isso tivemos a visita da detetive Day hoje de manhã. E o que eu descobri, imagino, não o deixará nem um pouco surpreso.

— Não?

— Certamente não. Existem, como você mesmo disse, indicadores de que definitivamente houve alguma irregularidade nas finanças. Mas, o que é uma pena, o caprichoso dedo da suspeita aponta sem dúvida para apenas uma direção.

— Uma direção?

— Uma direção.

Fat Charlie estava completamente perdido.

— Para onde?

Grahame Coats tentou parecer preocupado, ou pelo menos parecer que tentava parecer preocupado. Ele fez uma cara que, nos bebês, sempre indica que precisam arrotar.

— Para você, Charles. A polícia considera você o principal suspeito.

— Sim. Mas é claro. Combina com o resto do dia.

E Fat Charlie foi para casa.

Spider abriu a porta da frente. Fat Charlie estava ali, na chuva, de pé, amarrotado e molhado.

— Então, não tenho permissão para entrar na minha casa, é isso?