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A Milton Security contava com trezentos e oitenta funcionários trabalhando em tempo integral e com mais de trezentos freelancers, remunerados por tarefa. Uma pequena empresa, portanto, se comparada com a Falck ou com a Svensk Bevakningstjänts, o Serviço de Proteção Sueco. Quando Armanskij entrou na empresa, ela ainda se chamava Companhia de Vigilância Geral Johan Fredrik Milton e sua clientela era formada por centros comerciais que tinham necessidade de controladores e seguranças musculosos. Sob sua direção, a empresa passou a se chamar Milton Security, nome mais propício para um ambiente internacional, e investiu em tecnologia de ponta. Houve uma renovação de pessoal; guardas-noturnos em fim de carreira, fetichistas do uniforme e estudantes apenas interessados em bicos foram substituídos por pessoas mais competentes. Armanskij contratou ex-policiais já de uma certa idade como chefes de operações, cientistas políticos especializados em terrorismo internacional, em proteção pessoal e em espionagem industrial e, principalmente, técnicos em telecomunicações e informática. A empresa deixou Solna e a periferia para se instalar em prédios mais prestigiosos do Slussen, no centro de Estocolmo.

No começo dos anos 1990, a Milton Security estava pronta para oferecer um novo tipo de sistema de segurança a um círculo exclusivo de clientes, sobretudo empresas de médio porte com volume de negócios extremamente elevado, e novos-ricos — astros do rock em evidência, investidores da Bolsa e chefes de empresas "pontocom". Grande parte da atividade estava centrada na oferta de proteção pessoal e soluções de segurança para empresas suecas no exterior, sobretudo no Oriente Médio. Essas atividades representavam atualmente cerca de setenta por cento do volume de negócios. Durante o reinado de Armanskij, o volume de negócios passou de quarenta milhões de coroas para cerca de dois bilhões. Vender segurança era um ramo extremamente lucrativo.

A atividade estava distribuída em três áreas principais: consultoria em segurança, que consistia na identificação de perigos possíveis ou imaginados; medidas preventivas, que em geral consistiam na instalação de câmeras de vigilância custosas, alarmes contra roubo ou incêndio, sistemas eletrônicos de bloqueio e equipamentos de informática; e, por fim, a proteção pessoal de indivíduos ou empresas que se julgavam vítimas de ameaças, reais ou imaginárias. Este último mercado mais que quadruplicara na última década, e nos últimos anos surgira um novo tipo de clientela: mulheres ricas querendo proteger-se de um ex-namorado ou marido, ou de molestadores desconhecidos que as teriam visto na televisão e se teriam fixado em sua blusa colante ou no batom de seus lábios. Além disso, a Milton Security trabalhava em parceria com empresas que gozavam da mesma boa reputação que ela em outros países europeus e nos Estados Unidos, encarregando-se da segurança de personalidades internacionais em visita à Suécia, como uma célebre atriz americana em filmagem durante dois meses em Trollhättan, cujo agente achou que seu status exigia que ela estivesse acompanhada de seguranças em seus raríssimos passeios em volta do hotel.

Uma quarta área, bem mais restrita, que ocupava apenas alguns funcionários de tempo em tempo, era constituída pelas chamadas IP, isto é, as investigações pessoais. Armanskij não era um adepto incondicional desse setor de atividade. Além de ser menos lucrativo, era um ramo delicado, que exigia do funcionário mais discernimento e habilidade do que conhecimento em técnica de telecomunicações ou em instalação discreta de aparelhos de vigilância. As investigações pessoais eram aceitáveis quando se tratava de simples informações sobre a solvência de alguém, de verificar o currículo de um futuro colaborador ou a conduta de um empregado suspeito de deixar vazar informações sobre sua empresa ou de se entregar a uma atividade criminosa.

Nesses casos, as IP caíam no âmbito operativo.

Mas a toda hora os clientes vinham lhe apresentar problemas de ordem pessoal que tendiam a trazer consequências indesejadas. Quero saber quem é o vagabundo com quem minha filha está saindo... Acho que minha mulher está me traindo... O rapaz é legal, mas está se envolvendo com más companhias... Estão me chantageando... Na maioria das vezes, Armanskij respondia com um não categórico. Se a filha era maior de idade, ela tinha o direito de sair com o vagabundo que quisesse, e na sua opinião a infidelidade devia ser resolvida entre os cônjuges. Por trás de todas essas demandas, havia armadilhas dissimuladas que podiam potencialmente conduzir a escândalos e causar problemas jurídicos para a Milton Security, razão pela qual Dragan Armanskij exercia um controle rigoroso sobre essas missões, que, além do mais, só geravam rendimentos modestos no volume total de negócios da empresa.

O assunto desta manhã, por azar, era justamente uma investigação pessoal, e Dragan Armanskij arrumou o vinco da calça antes de se inclinar para trás na sua confortável poltrona do escritório. Com ceticismo, contemplou Lisbeth Salander, sua colaboradora trinta e dois anos mais jovem, e pela milésima vez constatou que ninguém parecia mais mal instalada que ela numa prestigiosa empresa de segurança. Seu ceticismo era ao mesmo tempo refletido e irracional. Aos olhos de Armanskij, Lisbeth Salander era indiscutivelmente a researcher mais competente que ele encontrara em todos os seus anos naquele ramo. Durante os quatro anos em que trabalhava para ele, Lisbeth Salander não havia falhado em uma única missão nem produzido um só relatório medíocre.

Ao contrário, o que ela realizava podia ser classificado como fora de série. Armanskij estava convencido de que Lisbeth Salander possuía um dom único. Qualquer um era capaz de obter informações bancárias ou efetuar um controle fiscal, mas Salander tinha imaginação e trazia sempre algo mais do que era esperado. Ele realmente nunca entendeu como ela conseguia; às vezes sua capacidade de obter informações parecia magia pura. Familiarizada ao extremo com os arquivos administrativos, ela sabia desencavar as informações mais obscuras. Tinha sobretudo a capacidade de se infiltrar na pele da pessoa investigada. Se houvesse merda a revelar, atingia o alvo como um míssil programado.

Sem dúvida, ela possuía o dom.

Seus relatórios podiam se revelar uma verdadeira catástrofe para a pessoa detectada por seu radar. Armanskij nunca se esqueceu de uma missão que uma vez lhe dera, uma investigação de rotina sobre um pesquisador da indústria farmacêutica que estava prestes a se associar a uma empresa. O trabalho, que devia durar uma semana, prolongava-se. Depois de quatro semanas de silêncio e de várias chamadas que ela ignorou, Salander apareceu com um relatório especificando que o objeto da pesquisa era a pedofilia. Duas vezes, pelo menos, o sujeito recorrera a uma prostituta de treze anos em Tallinn, e havia indícios de que estava interessado na filha menor de idade da companheira com quem vivia.

Salander tinha qualidades que em alguns momentos levavam Armanskij à beira do desespero. Quando descobriu que o homem era pedófilo, ela não telefonou para avisar Armanskij, não correu até seu escritório para terem uma conversa. Ao contrário: sem indicar por uma palavra sequer que o relatório continha informações explosivas de proporções quase nucleares, colocou-o certa noite sobre a mesa, no momento em que Armanskij se preparava para deixar o escritório e voltar para casa. Ele levou consigo o relatório e só o abriu mais tarde, no momento em que, finalmente descontraído, dividia uma garrafa de vinho com a mulher diante da tevê, na sua casa de campo em Lidingö.