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Jon Snow foi o primeiro a pôr-se em pé.

— Erguei-vos agora como homens da Patrulha da Noite. — Estendeu ao Cavalo uma mão para o puxar para cima.

O vento estava a aumentar. Era altura de partir.

A viagem de regresso demorou muito mais tempo do que a viagem até ao bosque. O andamento do gigante era laborioso, apesar do comprimento e amplidão daquelas pernas, e ele andava sempre a parar para fazer cair neve de ramos baixos com o malho. A mulher seguia montada com Rory, o filho dela com Tom Barleycorn, os velhos com o Cavalo e o Cetim.

Mas o Thenn tinha medo dos cavalos, e preferiu acompanhá-los a coxear, apesar dos seus ferimentos. O homem de Cornopé não se conseguia sentar numa sela, e teve de ser amarrado à garupa de um garrano como uma saca de cereais; o mesmo fora feito à velha pálida com membros magros como paus, que não tinham conseguido despertar.

Fizeram o mesmo com os dois cadáveres, para confusão do Emmett de Ferro.

— Só vão abrandar o nosso avanço, senhor — disse ele a Jon. — Devíamos cortá-los e queimá-los.

— Não — disse Jon. — Trá-los. Tenho uso a dar-lhes.

Não tinham Lua para os guiar para casa, e só de vez em quando viam uma mancha de estrelas. O mundo era preto e branco e imóvel. Foi uma viagem longa, lenta e infindável. A neve agarrava-se-lhes às botas e bragas e o vento matraqueava nos pinheiros e fazia-lhes os mantos esvoaçar e torcer-se. Jon vislumbrou o vagabundo vermelho lá no alto, a observá-los através dos ramos sem folhas das grandes árvores enquanto iam abrindo caminho por baixo deles. O Ladrão, como lhe chamava o povo livre. Ygritte sempre afirmara que a melhor altura para raptar uma mulher era quando o Ladrão estava na Donzela de Lua. Nunca falara da melhor altura para raptar um gigante. Ou dois mortos.

Era quase alvorada quando voltaram a ver a Muralha.

Um corno de sentinela saudou-os quando se aproximaram, ressoando do alto como o grito de uma qualquer ave enorme e de profunda garganta, um sopro único e longo que significava patrulheiros de regresso. O Grande Liddle desprendeu o seu corno da sela e deu-lhe resposta. Ao portão, tiveram de esperar alguns momentos até que Edd Tollett apareceu para fazer deslizar as trancas e abrir as barras de ferro. Quando Edd viu o esfarrapado bando de selvagens, espetou os lábios e deitou um longo olhar ao gigante.

— Sou capaz de precisar de um bocado de manteiga para fazer esse deslizar pelo túnel, senhor. Devo mandar alguém à despensa?

— Oh, acho que ele vai caber. Sem manteiga.

E coube… apoiado nas mãos e nos joelhos, gatinhando. Um moço grande, este. Quatro metros e trinta, pelo menos. Ainda é maior do que Mag, o Poderoso. Mag morrera sob aquele mesmo gelo, preso numa luta de morte com Donal Noye. Um bom homem. A Patrulha perdeu demasiados bons homens. Jon chamou o Couros de parte.

— Encarrega-te dele. Falas a sua língua. Assegura-te de que é alimentado e arranja-lhe um sítio quente junto ao fogo. Fica com ele. Assegura-te de que ninguém o provoca.

— Certo. — Couros hesitou. — senhor.

Jon mandou os selvagens vivos tratar dos ferimentos e das queimaduras do frio. Um pouco de comida e roupa quentes recuperaria alguns deles, esperava, se bem que fosse provável que o homem de Cornopé perdesse ambos os pés. Quanto aos cadáveres, deixou-os ao cuidado das celas de gelo.

Ao pendurar o manto na cavilha, ao lado da porta, Jon reparou que Clydas viera e fora-se embora. Fora deixada uma carta na mesa do seu aposento privado. Atalaialeste ou Torre Sombria, presumiu à primeira vista. Mas a cera era dourada, não preta. O selo mostrava uma cabeça de veado no interior de um coração flamejante. Stannis. Jon quebrou a cera endurecida, alisou o rolo de pergaminho, leu. Uma letra de meistre, mas as palavras do rei.

Stannis tomara Bosque Profundo, e os clãs da montanha tinham-se-lhe juntado. Flint, Norrey, Wull, Liddle, todos.

E tivemos outro auxílio, inesperado mas muito bem-vindo, de uma filha da Ilha dos Ursos. Alysane Mormont, a quem os homens chamam A Ursa, escondeu combatentes num grupo de chalupas de pesca e apanhou os homens de ferro desprevenidos onde eles estavam, ao largo da praia. Os dracares Greyjoy foram queimados ou capturados, as tripulações foram mortas ou renderam-se. Iremos pedir resgate ou dar outro uso aos capitães, cavaleiros, guerreiros notáveis e outros homens de nascimento elevado, os outros tenciono enforcar…

A Patrulha da Noite jurava não tomar partido nas querelas e conflitos do reino. Apesar disso, Jon Snow não pôde evitar sentir uma certa satisfação. Continuou a ler.

… mais nortenhos aparecem à medida que se vai espalhando a notícia da nossa vitória. Pescadores, cavaleiros livres, homens da montanha, pequenos caseiros das profundezas da mata de lobos e aldeãos que fugiram das suas casas ao longo da costa pedregosa para escapar aos homens de ferro, sobreviventes da batalha aos portões de Winterfell, homens em tempos ajuramentados aos Hornwood, aos Cerwyn e aos Tallhart. Somos cinco mil no momento em que escrevo, e os nossos números expandem-se todos os dias. E chegou-nos notícia de que Roose Bolton avança na direção de Winterfell com todo o seu poder, para aí casar o seu bastardo com a vossa meia-irmã. Não se pode permitir que ele devolva ao castelo a sua antiga força. Marchamos contra ele. Arnolf Karstark e Mors Umber irão juntar-se-nos. Salvarei a vossa irmã se puder, e arranjarei para ela um partido melhor do que Ramsay Snow. Vós e os vossos irmãos tereis de defender a Muralha até que eu possa regressar.

Vinha assinado numa letra diferente:

Feito à Luz do Senhor, sob o símbolo e selo de Stannis da Casa Baratheon, o Primeiro do Seu Nome, Rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Senhor dos Sete Reinos e Protetor do Território.

No momento em que Jon pôs a carta de parte, o pergaminho voltou a enrolar-se, como se estivesse ansioso por proteger os seus segredos. Não estava nem um pouco seguro de como se sentia a respeito do que acabara de ler. Já antes se tinham travado batalhas em Winterfell, mas nunca se travara alguma sem um Stark de um lado ou de outro.

— O castelo é um esqueleto — disse — não é Winterfell, mas o fantasma de Winterfell. — Só pensar nisso era doloroso, dizer as palavras em voz alta era-o mais ainda. Mesmo assim…

Perguntou a si próprio quantos homens o velho Papa-Corvos traria para a refrega, e quantas espadas Arnolf Karstark seria capaz de fazer aparecer. Metade dos Umber estariam do outro lado do campo de batalha com o Terror-das-Rameiras, combatendo sob o homem esfolado do Forte do Pavor, e a maior parte da força de ambas as casas partira para sul com Robb, para nunca regressar. Mesmo arruinado, o castelo de Winterfell conferiria uma vantagem considerável a quem quer que o controlasse. Robert Baratheon teria compreendido isso de imediato e avançaria rapidamente para se apoderar do castelo, com as marchas forçadas e cavalgadas noturnas pelas quais fora famoso. Seria o irmão igualmente ousado?

É pouco provável. Stannis era um comandante ponderado, e a sua hoste era um guisado semidigerido de homens dos clãs, cavaleiros do sul, homens do rei e homens da rainha, temperados com uns quantos senhores do norte. Ele devia avançar rapidamente contra Winterfell, ou não avançar de todo, pensou Jon. Não lhe cabia aconselhar o rei, mas…

Voltou a deitar um relance à carta. Salvarei a vossa irmã se puder. Um sentimento surpreendentemente terno para Stannis, apesar de minado por aquele brutal se puder final e pela adenda e arranjarei para ela um partido melhor do que Ramsay Snow. Mas e se Arya não estivesse lá para ser salva?

E se as chamas da Senhora Melisandre tivessem dito a verdade? Poderia realmente a irmã ter escapado a tais captores? Como faria ela tal coisa? Arya sempre foi rápida e esperta mas no fim de contas não passa de uma rapariguinha, e Roose Bolton não é o tipo de homem que seria descuidado com uma presa de tanto valor.

E se Bolton nunca tivesse tido a irmã de Jon em seu poder? Aquele casamento podia perfeitamente não passar de um estratagema para atrair Stannis a uma armadilha. Eddard Stark nunca tivera motivos para se queixar do Senhor do Forte do Pavor, tanto quanto Jon soubesse, mas mesmo assim nunca confiara nele, com aquela voz sussurrada e os seus olhos tão, tão claros.