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Naquele momento chegou um caminhão do povoado, com meu tio, Estranges e Breffort. Descarregaram várias caixas.

— Eis aqui as granadas. — Disse Estranges.

Eram formadas por um tubo fundido, armado de um detonador.

— E as espoletas. — disse meu tio — Testamos. Alcance: 3,5Km. Precisão bastante boa. Sua cabeça contém um quilo de resíduos de fundição e a correspondente carga de TNT. Chegará um outro caminhão com os cavaletes de lançamento e mais caixas.

Há 50 espoletas deste modelo. Fabricamos outras mais potentes.

— Nossa artilharia foi lançada! — disse Beauvin.

Naquele momento um homem desceu pela encosta.

— Agitam uma bandeira branca. — disse.

— Estão se rendendo? — perguntei, incrédulo.

— Não. Querem parlamentar.

— Responda. — ordenou Beauvin.

Do bando inimigo se destacou um homem que avançou agitando um lenço. Boru lhe indicou um lugar à meia distância, na «no man's land», e o escoltou. Era Charles Honneger, em pessoa.

— Que quereis? — perguntou Beauvin.

— Falar com vossos chefes.

— Aqui há quatro.

— Para evitar derramamento de sangue inutilmente, propomos o seguinte: vocês dissolverão o Conselho e entregarão as armas, nós tomamos o poder. Nada lhes ocorrerá.

— Exato, quereis reduzi-nos à escravidão. — disse eu — Eis aqui nossa contra-proposta: Devolvereis as jovens que raptastes e deporeis as armas. Vossos homens serão postos sob vigilância, e tu e teu pai será aprisionados para serem julgados.

— Não te falta cinismo! Já vens outra vez com tuas histórias.

— Eu os advirto — disse então Michel — que se os vencermos e houver morte entre nós, sereis enforcados.

— Me lembrarei disto.

— Neste caso, já que não quereis se entregar, — disse — proponho por as moças em segurança, o mesmo quanto à tua irmã e à Senhorita Ducher, sob aquela laje, por exemplo.

— Nem pensar! Minha irmão não tem medo, tampouco Magdalena. Se as demais morrerem, eu vou rir. Haverão outras, depois da vitória; tua irmã, por exemplo…

Imediatamente caiu no solo, com a cara inchada. Michel havia sido mais rápido que eu.

— Atacaste um parlamentar. — disse lívido.

— Tu não és um parlamentear, e sim um porco. Vem, anda!

Foi conduzido «manu militari». Mal havia cruzado o morro, quando chegou o segundo caminhão. Os cavaletes de lançamento foram montados rapidamente.

— Dentro de dez minutos abriremos fogo. — disse Beauvin — Pena não termos um observatório!

— Este montículo, — observei eu — designando, a cem metros atrás, um desnível de uns cinquenta metros de altitude.

— Está sob fogo inimigo.

— Sim, porém dali pode-se ver o castelo. Tenho uma vista excepcional. Vou levar este telefone comigo. O fio parece ser longo o bastante.

— Vou contigo. — disse Michel.

Partimos, desenrolando o fio. A meia altura, chispas de pedras saltando por todos os lados nos indicaram que havíamos sido descobertos. Nos agachamos e, contornando o cerro, chegamos à vertente abrigada.

Dali de cima víamos perfeitamente as linhas inimigas. O pequeno fortim da metralhadora pesada situava-se por trás de uma trincheira e estava franqueado de ninhos de fuzis metralhadoras. De tempos em tempos viam-se os homens movendo-se, através das pequenas aberturas.

— Quando estavam com o alfaiate, deveriam ser cinquenta ou sessenta. Porém agora, com seu sistema de fortificações, serão mais numerosos. — observou Michel.

A um quilômetro, visto de cima, a meia encosta, erguia-se o castelo. Pequenas formas negras entravam e saiam.

— É uma pena que Vandal tenha quebrado seus binóculos!

— Agora não temos mais que lunetas. São potentes, porém pouco manejáveis!

— Se pudesse desmontar um pequeno postigo.

— Terás tempo para fazer isto. Estranharia se não nos apoderássemos hoje do castelo.

— Atenção! Atenção! — ouviu-se pelo telefone — Dentro de um minuto abriremos fogo contra o castelo. Observem.

Dei uma olhada sobre nosso campo. A metade dos homens se plantou justo por trás do monte. Outros estavam atarefados ao redor das catapultas. Estranges e meu tio ultimavam cuidadosamente as plataformas de lançamento. Os caminhões haviam voltado.

Às 8h 30m, exatamente, seis riscas de fogo saíram de nosso entrincheiramento.

Tomaram altura, deixando um rastro de fumaça, que desapareceu. As espoletas consumiram sua carga explosiva Seis pequenos relâmpagos no pátio do castelo, transformando— se em seis pequenas nuvens de fumo. Segundos mais tarde, o som de secas detonações chegaram até nós.

— 30 metros, curto. — assinalei.

Lá em cima, quatro figuras negras fizeram sua aparição nas brancas ameias.

Novamente, outras seis cargas se elevaram. Uma delas explodiu na meio do portal do castelo, e as quatro pessoas caíram. Três se levantaram vacilantes, e arrastaram a outra para o interior da casa. Um dos explosivos desapareceu por uma janela. Os restantes explodiram nos muros, sem produzir danos graves, aparentemente.

— Isso! — gritei.

Uma após outra se dispararam dezesseis granadas; uma acertou o carro de Honneger, à direita da casa, e o incendiou.

— Basta de granadas. — telefonou Beauvin — Usem as catapultas.

Subiram três cargas. Erraram o fortim por pouco.

— Um pouco alto. — assinalou Michel.

— Empurrei-o ao solo. Não podendo alcançar nossos homens, escondidos atrás do monte, a metralhadora atirava acima de nós. Durante alguns minutos não ousamos mover-nos. As balas sibilavam por cima das nossas cabeças. Obuses de 20mm rolavam por terra, um pouco abaixo de nós.

— Afortunadamente não têm morteiros.

— Temos que mudar este posto de observação. Desçamos um pouco A metralhadora e os fuzis-metralhadora emudeceram.

— Tiro de fustigamento sobre território inimigo. Observe.

Os projéteis caíram ao azar ou desapareceram entre os abetos, sem outro resultado visível que o incêndio de um palheiro.

Os disparos recomeçaram, porém nesta ocasião apontavam à crista. Um dos nossos homens, ferido, se deixou cair pela elevação. Havia chegado outro caminhão, trazendo cargas de maior calibre.

Massacre abaixou-se.

— Atenção! Fogo de catapultas.

Desta vez, uma carga caiu em cheio sobre o fortim inimigo. Houve gritos de dor, porém a metralhadora continuava a atirar.

— Superioridade das armas de tiro curvo sobre as de tiro rasante, é a guerra de trincheiras. — fez notar Michel — Cedo ou tarde destruiremos sua guarida e eles, em troca, não nos podem atingir.

— Me pergunto porque não ocuparam a crista.

— Demasiado fácil de rodear. Olha o que te dizia! Atenção à esquerda. — telefonou — Seis homens sobem por lá.

Quatro guardas acudiram ao lugar ameaçado. O cimo da crista, batida pelas armas automáticas era insustentável para nós, e o velho Boru havia recuado com seus homens.

Das trincheiras inimigas surgiram uns trinta homens. Correram e se agacharam.

— Ataque de frente!

Na esquerda crepitavam as detonações. Beauvin deixou o inimigo se aproximar até quinze metros, depois mandou lançar as granadas. Os tubos de fundição, cheios de explosivos, cumpriram bem sua missão. Onze mortos e feridos ficaram sobre o campo.

Antes que o inimigo se refizesse, o Winchester de Boru causou duas baixas. Na esquerda, quatro mortos e três feridos, um dos quais foi capturado. Tinha o braço direito ligeiramente destroçado pelos cartuchos de caça e morreu enquanto Massacre tentava fechar o ferimento com uma venda.

Durante um quarto de hora, as catapultas não descansaram. Na décima segunda tentativa, uma carga acertou o ninho da metralhadora, reduzindo-a a um silêncio definitivo.