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«Pode ser também, como imaginaram Michel e Martina Sauvage, que tenha topado com nosso velho universo, com uma dobra da quarta dimensão. Neste caso, poderíamos nos encontrar no sistema de uma estrela da nebulosa de Andrômeda, por exemplo, ou simplesmente no outro extremo da nossa antiga galáxia. Talvez as observações futuras nos confirmem.

«Para terminar, e render homenagem ao espírito profético de alguns novelistas, recordarei o que J. H. Rosny, pai, havia previsto em sua «Força Misteriosa» um cataclismo análogo a este. Porém travava-se de um universo de uma matéria diferente da nossa. Aqueles a quem interessam as implicações matemáticas, podem vir falar comigo.

Menard desceu da tribuna e, no mesmo instante, travou-se uma viva discussão com meu tio, Michel e Martina. Fui para perto deles, mas ao ouvi-los falar de tensores, de campos de gravitação, et cétera, bati rapidamente em retirada.

Louis me arrastou para um canto.

— A teoria do Senhor Menard é totalmente apaixonante, porém, do ponto de vista prático, não resolve nada. É evidente que devemos viver e morrer neste planeta. Trata— se de nos organizarmos. Muitas coisas estão ainda por fazer. Me dizias outro dia que poderia haver hulha não distante daqui. É correto isto?

— É possível. Me surpreenderia muito se a subversão não tivesse trazido á superfície hulha estefaniana ou westfaliana; não te assustes, trata-se simplesmente de estratos carboníferos que podemos encontrar em nossa região. De toda forma, não vai ser coisa do outro mundo! Alguns veios de cinco centímetros, ou talvez até de trinta, de hulha inferior ou antracita — Sempre é alguma coisa. É primordial para nós que a fábrica possa fornecer eletricidade.

Já sabes que a fabricação das granada devorou quase toda nossa reserva de carvão. Afortunadamente, temos alguns lingotes de alumínio e duralumínio. Na falta do aço…

Os dias seguintes foram para mim um período de intensa atividade. No Conselho tomamos uma série de medida de proteção. A alguns quilômetros do povoado foram instalados seis postos de vigilância, cobertos por proteção hermética. Foram aprovisionados como se para uma assédio, com comunicação com o posto central através de um telefone rudimentar, encarregados de dar o alarma à menor tropa de hidras.

Os habitantes das quatro granjas excessivamente isoladas foram evacuados para o povoado, juntamente com seu gado. Os trabalhos do campo se efetuaram sob a proteção de caminhões armados com metralhadoras. Para economizar combustível, eram arrastados ao local do trabalho pelos próprios animais a que deveriam proteger.

Aperfeiçoamos nossas granadas e tivemos, assim, uma artilharia anti-aérea que fez seus ensaios por motivo de uma incursão de umas cinquenta hidras, das quais trinta foram abatidas.

Uma manhã, fui com Beltaire e dois guardas armados à busca de carvão. Como havia imaginado, o campo carbonífero estava perto. Uma parte na zona intacta e o resto na zona morta, aflorando carvão em algum lugar.

— Aqui será melhor de começar. — disse Beltaire.

— Sim, mas os veios serão impossíveis de seguir neste caos. Vejamos no setor não deslocado.

Como já havia previsto, poucos veios passavam dos 15cm de espessura. Entretanto, uma delas alcançava os 55cm.

— Trabalho difícil em perspectiva para os mineiros. — disse.

Graças ao meu cargo de Ministro das Minas, consegui trinta homens e mandei-os limpar a via férrea que conduzia, em outros tempos, à próxima estação, assim como também o canteiro de argila que fornecia oa matéria prima para o alumínio. Apesar da descoberta de Moissac e Wilson, em 1964, se extraia o alumínio da argila e não só da bauxita, como anteriormente. Agora voltamos a este velho processo, cômodo para nós que possuíamos em Tellus depósitos enormes de bauxita, de uma pureza admirável. Tudo isto não foi feito sem que Estranges protestasse.

— Como levarei o mineral à fábrica?

— Primeiro: eu lhe cedo uma das duas vias. Segundo: no momento não temos necessidade de uma grande quantidade de alumínio. Terceiro: como a fábrica vai funcionar sem carvão? E quarto: fundimos ferro, quando encontrarmos o mineral. Entretanto, temos um monte ferro velho que voce pode transformar em trilhos. É este o seu ofício.

Requisitei igualmente duas pequenas locomotivas, das seis que a fábrica dispunha, e vagões em número suficiente. Nos canteiros de argila peguei três perfuradoras e um compressor.

Dias depois a mina estava em pleno funcionamento e o povoado dispunha de eletricidade.

Empregava dezessete «forçados» com guardas, cuja missão era não tanto a vigiá-los e sim protegê-los contra as hidras. Eles deixaram muito em breve de ser considerados como prisioneiros, e deixamos de considerá-los como tal. Converteramse nos «mineiros» e, sob a direção de um antigo capataz de minas, foram capazes em pouco tempo de cavar as galerias.

Desta forma se passaram sessenta dias, ocupados em trabalhos de organização.

Michel e meu tio, ajudados pelo relojoeiro, fabricaram uns pêndulos telurianos. Estávamos irritados com o fato de dia bisolar compreender 29 horas. Cada vez que consultávamos nossos relógios, tínhamos que fazer complicados cálculos. Fabricaram-se dois tipos de relógio, uns divididos em 24 «horas grandes» e os outros em 29 horas terrestres. Finalmente, anos mais tarde, adotamos o sistema ainda em uso hoje em dia, o único que nos é familiar: divisão do dia em 10 horas de 100 minutos, cada minuto, por sua vez, dividido em 100 segundos de dez décimos cada um. Estes segundos diferem muito pouco dos antigos. (um dos primeiros resultados do cataclisma foi o de desregular os relógios de pêndulo, ante o pasmo dos camponeses, por causa da diminuição do valor de «g».) Nossa reserva de provisões, somando às encontradas nos porões do castelo, nos permitiriam sustentar-nos durante uns dez meses terrestres. Encontrávamo-nos na zona temperada de Tellus, a zona da primavera eterna, e podíamos contar com várias colheitas por ano, se o trigo se aclimatasse. A superfície do vale que permaneceu cultivável bastaria enquanto a população não aumentasse demasiado. O solo de Tellus parecia fértil.

Havíamos consertado um grande número de casas e já não estávamos mais amontoados.

A escola havia aberto suas portas e o grande Conselho havia se estabelecido em um hangar metálico. Ida reinava na sala dos arquivos e eu estava certo de contar com Beltaire ali, quando tinha necessidade dele. Havíamos iniciado a redação de um embrião de Código, alterado o menos possível o direito usual na Terra, porém simplificando— o e adaptando-o. Este Código tem estado sempre em vigor. Havia também ali uma sala comum e uma biblioteca.

A estrada de ferro da mina de carvão estava funcionando, assim como também a do canteiro de argila, a fábrica funcionava à medida dos nosso desejos. Estávamos todos ocupados, pois a mão de obra não era abundante. O povoado era ativo e alguem poderia imaginar que se encontrava em uma animada vila terrestre e não na superfície de um mundo perdido no espaço infinito. Ou talvez seria melhor dizer: nos espaços?

Tivemos nossas primeiras chuvas em forma de tempestades, o que tornou o tempo confuso por uma dúzia de dias. Tivemos também as primeiras noites totais, embora breves. Não posso descrever a impressão que em mim produziram as constelações que iam ser as nossas para sempre.

Nós, os membros do Conselho, havíamos tomado como costume nos reunirmos em sessções privadas na casa do meu tio, ou na do povoado, ou, mais frenquentemente, na do observatório, novamente restaurado. Ali encontrávamos Vandal e Massacre, absorvidos no estudo das hidras, com Breffort de ajudante, Martina, Beauvin, sua mulher, meu irmão e Menard, quando conseguíamos arrancá-lo da sua máquina de calcular. Se nos Conselhos oficiais Louis usava a batuta nas coisas práticas, aqui, onde se falava muito mais de ciência ou de filosofia, meu tio, com sua ampla erudição, era o chefe indiscutível do grupo. Menard, de vez em quando, falava tambem, e todos ficávamos assombrados pela amplitude das concepções que desenvolvia esse homenzinho com barba de criança. Guardo excelentes recordações dessas reuniões, pois foi ali onde realmente conheci Martina.