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— Aqui estabeleceremos nosso centro metalúrgico. — disse.

— E os Sswis? — objetou Paul.

— Faremos como os americanos nos tempos heroicos. O solo parece fértil. Se for preciso, combateremos enquanto cultivamos a terra e exploramos as minas. De qualquer forma, desde o segundo dia da nossa viagem não temos mais visto hidras. Uma coisa compensa a outra.

— Concordo. — disse Michel — Hurra por «Cobalt City». A dificuldade se limitará em transportar todo nosso material para cá.

— Tudo se resolverá. Primeiro, será mister explorar o petróleo, e isto não será fácil.

Viramos para o Norte, e depois para o Oeste. A 60 quilômetros dali descobri um depósito de bauxita.

— Decididamente esta região é o paraíso dos investigadores geológicos. — disse Martina.

— Temos sorte. Esperemos que dure — respondi, pensando em outa coisa.

A manhã toda eu estive me perguntando se não seria possível fazer uma aliança com os Sswis, ou ao menos com alguns deles. Era provável que se existissem várias tribos, elas guerreavam entre si. Poderíamos aproveitar estas rivalidades. Era questão de entrar em contato de outra forma que não fosse à base de escopetas.

— Se tivermos que combater os Sswis, — disse em voz alta — necessitaríamos ao menos de um prisioneiro.

— Porque? — perguntou Paul.

— Para aprender sua língua e ensinar-lhe a nossa. Isto nos poderia ser útil.

— Acreditas que vale a pena arriscar nossas vidas? — perguntou Vandal, que evidentemente não desejava outra coisa.

Expus o meu plano.

A sorte serviu aos nossos desígnios. No dia seguinte tivemos que parar por causa de uma avaria, pouco depois de nossa partida. Enquanto Paul estava reparando, assistimos uma escaramuça entre três Sswis vermelhos e morenos, da especie que já conhecíamos, e outros dez menores, de uma pele negra e reluzente. Apesar de uma defesa heroica que custou a vida a cinco dos atacantes, os vermelhos sucumbiram sob o número. Os vencedores se dispunham a despedaçá-los, ignorando nossa presença.

Com uma rajada do fuzil-metralhadora os pus em fuga, deixando três mortos.

Atravessei a vegetação que dissimulava nossa presença. Um dos Sswis vermelhos, que ainda vivia, tentou fugir. Caiu novamente: tinha cinco flechas cravadas nos membros.

— Tenta salvá-lo, Vandal!

— Farei o possível. Porém meu conhecimento de sua anatomia é muito rudimentar.

Entretanto, — continuou após um exame — as feridas me parecem leves.

O Sswis estava imóvel, com os três olhos fechados. Somente a dilatação rítmica do seu peito nos indicava que ainda vivia. Vandal se dispôs a extrair as flechas com a ajuda de Breffort que, antes de especializar-se em antropologia, havia sido estudante de medicina.

— Não me atrevo a anestesiá-lo. Não sei se resistiria.

Durante a operação o Sswis não se moveu. Somente estremecia de vez em quando.

Breffort limpou as feridas, que se tingiram de amarelo. Depois o transportamos para o caminhão. Não pesa muito — talvez uns 70 quilos, comentou Michel — Preparamos uma espécie de maca com ervas e mantas. Enquanto o transportávamos, permaneceu com os olhos fechados.

Reparada a avaria do caminhão, partimos novamente. Com o ronco do motor o Sswis agitou-se horrorizado e falou pela primeira vez. Eram umas sílabas sonoras, ricas em consoantes e lábio-dentais, curiosamente rítmicas. Quis levantar-se e tivemos que segurá-los, fomos três a fazê-lo, tanta era sua força. Sua carne dava a impressão de dureza e flexibilidade. Pouco a pouco se acalmou e o soltamos, e eu, sentandome perto da porta, tomei algumas notas para meu diário pessoal. Tive sede e me servi de um vaso de água. Me voltei ao ouvir uma apagada exclamação de Vandal; meio levantado, o Sswis me estendeu a mão.

— Quer beber — disse Vandal Estendi-lhe o vaso. Ele observou por um instante com desconfiança. Tentei um experimento.

Verti um pouco mais e disse: — Água Com surpreendente agilidade de espirito, ele me compreendeu e em seguida repetiu: — Água.

Mostrei-lhe um vaso vazio.

— Vaso.

— Vaso — repetiu.

Bebi um gole e disse: — Beber.

— Beber — repetiu ele.

Recostei-me no catre, simulei um sono profundo e disse: — Dormir.

— «Tormir» — disse ele, deformando a palavra.

Apontei para mim mesmo.

— Eu.

— Vzlik — E imitou o gesto.

Fiquei um pouco confuso. Ele estava me dando uma tradução de «eu» ou se trava do seu nome? Me inclinei em favor da segundo hipótese. Penso que ele devia pensar que eu me chamava «eu»

Então, querendo levar a experiência mais longe, disse: — Vzlik dormir.

— Água beber. — repôs ele.

Estávamos estupefatos Este ser mostrava uma inteligência extraordinária. Bebeu um vaso d'água que lhe servi. Eu teria continuado com a lição se Vandal não observasse que o Sswis estava ferido, e provavelmente esgotado. De fato, ele mesmo disse: — Vzlik «tormir» — adormecendo logo em seguida.

Vandal exultava: — Com a capacidade que têm, logo poderemos ensinar-lhes nossas técnicas.

— Sei… — disse — e dentro de cinquenta anos eles estariam em cima de nós a tiros!

Mas realmente nos seriam muito úteis se pudéssemos aliar-nos com eles.

— Afinal de contas — interveio Vandal — Lhe salvamos a vida.

— Depois de termos matado vários indivíduos da sua raça, talvez da sua própria tribo.

— Mas eles nos atacaram!

— Estávamos em seu território. Se querem a guerra nós a teremos, mutatis mutandis na situação de Cortês, se os astecas não tivessem temido as suas armas nem os seus cavalos. Enfim, cuidemos bem dele. Representa uma oportunidade que não podemos desperdiçar.

Passei para a frente do caminhão. Michel dirigia e Martina estava ao seu lado.

— Que pensa disto tudo, Martina?

— Que são terrivelmente inteligentes.

— Esta também a minha opinião. Por outra parte me sinto aliviado: já não somos os únicos seres pensantes deste mundo.

— Para mim tanto faz. — disse Martina — Eles não são humanos.

— Evidentemente. Qual tua opinião, Michel?

— Não sei, Temos que esperar. À esquerda temos outra cortina de árvores. Provavelmente também um rio para atravessar.

— Pela direita também. Se unem. Isto nos permite supor que é uma confluência.

Efetivamente, nos encontrávamos sobre uma língua de terra entre dois rios. O da esquerda, novo para nós, foi denominado o Dron. O da direita era o Vecera ou o Dordogne?

Devido à sua largura, me inclinei pela segunda hipótese: trezentos metros, no mínimo. Parecia profundo. As águas desciam perigosamente, cinzentas e opacas.

A noite se avizinhava.

— Acamparemos aqui. O lugar é fácil de defendermos.

— Pode-se também se considerar como uma armadilha — disse Breffort — Com efeito — acrescentou Vandal — não há saída alguma.

— Uma força capaz de cortar-nos a retirada também o seria para destruir-nos. Aqui não haverá mais que um lado para vigiar, o que, se for o caso, nos permitirá concentrar o fogo de nossas armas. Amanhã estudaremos as possibilidade de atravessar.

Aquela noite ficou nas minhas lembranças como a mais tranquila da nossa expedição, ao menos na sua primeira parte. Ceamos sobre a erva antes do sol se ocultar. O tempo era agradável. Se não tivéssemos as armas do nosso lado, e sem a estranha presença do Sswis, poderíamos acreditar que estávamos na Terra, em um camping.

Como no nosso planeta natal, o Sol, antes de desaparecer, apresentou uma fantasia em ouro, púrpura e âmbar. Algumas nuvens rosas, muito altas, vagavam lentamente no céu Todos, incluindo Vzlik, havíamos comido com excelente apetite. Suas feridas estavam em vias de cura. Pareceu apreciar particularmente os biscoitos e o boi assado; entretanto quis provar o vinho e o devolveu com asco.