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— Ah! É voce Senhor Bournat? De onde vêm as hidras?

— Creio que do norte. A sirene soou somente uma vez. Entre voce.

— Meu Deus… quando vamos desembaraçar-nos destes animais infernais?

— Temo que não seja logo. Ah! Elas já estão aqui. Passe. Você não está armado.

Sobre nós, a grande altura, uma nuvem verde se movimentava. Perto, porém ligeiramente baixo, uns pequenos flocos negros apareceram no céu: as granadas.

— Muito curto! Ah, agora está melhor!

A salva seguinte havia acertado em cheio. Segundo mais tarde uns pedaços de carne verde caíram como uma chuva ao redor do refúgio. Deixando a porta entreaberta, voltei a entrar. Mesmo quando estavam mortas, o contato com as hidras era urticante. No interior, Martina, observando pela vigia de vidro grosso, falava com o Senhor cura. Compreendendo o perigo que corriam se permanecessem agrupadas, as hidras se deixavam cair em grupos de duas ou três Da minha porta, as vi circulando ao redor de uma locomotiva cerrada hermeticamente. Soltei uma gargalhada: o mecânico havia deixado escapar um jato de vapor ante o espanto das hidras.

Ainda estava rindo, enquanto olhava ao redor. Ao sul do povoado, os disparos crepitavam e na praça do poço algumas hidras mortas jaziam por terra. Subitamente, pareceu que o céu escurecia: saltei para o interior, fechando a porta. Uma hidra passou roçando no teto. Antes que tivesse tempo de introduzir o cano da minha escopeta no disparador, o monstro já estava longe. Um grito de Martina me sobressaltou.

— Jean! Aqui, depressa!

Saltei para a janela. Fora, a cento e cinquenta metros, um garotinho de uns doze anos corria com toda suas forças para o refugio. Uma hidra o perseguia. O garoto, apesar do perigo de morte, não estava assustado, e utilizava com inteligência as árvores, que atrapalhavam a seu perseguidor. Vi a cena e me precipitei para fora, ao seu encontro. A hidra havia tomado altura e mergulhava.

— Abaixe-se!

O garoto compreendeu e se jogou contra o solo e a hidra falhou. Eu lancei uma rajada de uma dez balas a cinquenta metros. O animal se sobressaltou, virando, e voltou à carga. Eu apontei de novo, a trinta metros desta vez. Na terceira bala a arma travou. O tempo que levaria em trocar o cano pelo de recambio que tinha guardado e o garoto estaria morto. Joguei minha arma e preparei a pistola. A hidra chegava.

Então, resfolegando, sublime e ridículo, passou o Senhor cura com a sotaina levantada.

E quando a hidra atacou ele estava ali, braços em cruz, fazendo do seu corpo uma proteção para o garoto. Ele foi atingido. Com minha arma, afinal destravada, atirei no monstro numa distância de dez metros, que caiu sobre o corpo da sua vítima.

Não havia mais hidras à vista. Os disparos haviam cessado no povoado. Algumas manchas verde flutuavam altas no céu. Afastei o cadáver do Senhor cura, — um centímetro cúbico do veneno da hidra matava um boi, e o animal injetava dez vezes mais.

— Martina levantou o garoto em seus braços robustos, desmaiado, e descemos ao povoado.

Os habitantes limpavam suas portas. Quando estávamos chegando, o garoto se reanimou. E quando Martina o devolveu à sua mãe já podia andar.

Encontrei Louis, sombrio, na praça do poço.

— Mau dia. Dois mortos: Pierre Evreus e Jean Claude Chart. Não quiseram esconder— se, para poder atirar melhor.

— Três mortos. — eu disse.

— Quem foi o terceiro?

O pus ao corrente.

— Bem, não gosto muito dos curas. Porém esse foi morto como um homem! Proponho que os três homens que caíram tenham funerais solenes.

— Como queiras.

— É preciso levantar o moral, Há demasiados homens que têm medo! Embora tenhamos derrubado trinta e duas hidras!

Da sala do Conselho, telefonei ao meu tio para dizer-lhe que estávamos a salvo.

No dia seguinte teve lugar o enterro. Louis pronunciou um breve discurso sobre as hidras, exaltando o sacrifício dos três homens.

Eu regressei do cemitério com Michel e Martina. Tomamos um atalho, através do campo, e encontramos o cadáver de uma hidra que obstruía o caminho. O animal era enorme, de uns seis metros de comprimento, sem os tentáculos. O contornamos.

Martina estava muito pálida.

— Que está acontecendo, pequena? — perguntou-lhe Michel — Já não há perigo!

— Michel, tenho medo! Este mundo é desapiedado, demasiado selvagem para nós.

Esses monstros verdes matarão a todos nós.

— Não creio. — disse — Nosso armamento cada dia se aperfeiçoa. Ontem, com um pouco mais de prudência, não teria havido vitimas. No fundo, não corremos mais perigo que os indus com os tigres e as serpentes…

— Para as serpentes existem os soros. Os tigres, bem, são tigres, animas não muito diferentes de nós. Porém ser digerido dentro da própria pele por estes pólipos verdes…

Oh! Que horror! — muito baixo repetiu — Tenho medo!

Nós a confortamos como melhor pudemos. Porém ao chegar ao povoado vimos que não era a única. O trem de minério de ferro estava parado, o maquinista falava com um granjeiro: — Tu, — dizia este último — tu ris, Com tua cabine bem fechada, assunto resolvido.

Porém nós, antes que algum haja soltado os bois e entrado num refugio, tem tempo de morrer dez vezes. A sirene pode tocar, toca sempre muito tarde. Te asseguro que cada vez que vou ao campo faço minhas orações. Não estou mais tranquilo que em casa. E ainda assim!

Ouvimos não poucas conversas neste estilo, aquele dia. Alguns elementos da fábrica, não obstante trabalharem cobertos, fraquejavam. Se as hidras chegassem a atacar todo dia, não sei como haveríamos terminado. Afortunadamente, antes da grande batalha, não fizeram mais incursões e pouco a pouco a tensão dos espíritos se relaxou, até o ponto em que tivemos que castigar algum observador negligente.

III — A EXPLORAÇÃO

Naqueles dias ultimei meu projeto de exploração, uma vez que me dei conta que gostava de Martina. Cada noite subíamos juntos para a casa do meu tio para a ceia.

Michel nos acompanhava, porém na maioria das vezes ele ia adiante. Eu confiava a Martina meus projetos, e ela se manifestava como uma excelente conselheira. Desta forma, trocávamos nossos pontos de vista sobre os respectivos trabalhos e, pouco a pouco, chegamos à troca de recordações pessoais.

Me inteirei então de que ela era órfã desde os três anos, e que Michel a havia educado.

Como era astrônomo, e como ela também era muito bem dotada para as ciências exatas, ele a havia incentivado neste sentido. Por minha parte, eu havia tido a sorte, como primo irmão de Bernard Verillae, de conhecer os membros da primeira expedição Terra-Marte, e pude fornecer muitos detalhes inéditos sobre eles. Havia sido, inclusive, fotografado por um jornalista entusiasta, entre Bernard e Sigmund Olsson, como o «membro mais jovem da expedição», o que me valeu muitas brincadeiras na Faculdade. Em troca, quando se tratou de incluir-me a bordo, para o segundo «raid», eu recusei, em parte com o fim de não afligir minha mãe, ainda viva naquele tempo, o que era honorável, e em parte por simples medo, o que era o de menor importância. Encontrei os jornais da época na biblioteca do meu tio e expliquei a Martina a famosa fotografia. Ela me mostrou outro clichê, que reproduzia os assistentes em uma conferência do chefe da missão Paul Bernadac. Com um traço de lápis, enquadrou a um jovem e uma moça na quinta fila.

— Michel e eu. Tivemos, em sua qualidade de astrônomo, um bom lugar. Para mim foi uma jornada gloriosa!

— Talvez eu tenha me encontrado contigo naquele dia. — disse — Eu ajudava Bernard a passava os clichês no aparelho de projeção.