Выбрать главу

— De modo algum. Considera a forma geral, os retoques. É exatamente a réplica de uma ponta solutrense.

— Ou de algumas peças, igualmente em obsidiana, provenientes da América, que terias podido contemplar no museu do Homem, se o houvesse frequentado. — acrescentou Breffort.

— Portanto, — repôs Michel — é forçoso admitirmos que existem homens em Tellus.

— Não necessariamente. — disse Vandal — A inteligência pode florescer sob formas distintas da nossa. Até o momento, a fauna teluriana não tem nada de terrestre.

— Certo. O fato de meu primo e seus companheiros terem encontrado humanoides em Marte, não é razão para que devam existir aqui também.

— Não poderia tratar-se — respondeu Michel — de terrestres como nós que, não tendo à sua disposição nossos meios, tenham retrocedido à Idade da Pedra?

— Não creio. Na Terra eu conhecia muitos poucos homens capazes de cortar a pedra à maneira pré-histórica. E podes acreditar, a fabricação de semelhante peça supõe uma habilidade que não se adquire senão por uma treinamento de muitos anos.

De qualquer forma, abramos os olhos e ponhamos os outros ao corrente.

Assim foi feito. Mandei revisar os faróis e o refletor conectado na cúpula móvel.

Para fazer frente a qualquer eventualidade, foi dobrada a guarda noturna e eu assumi o primeiro turno com Michel. Subi a torre e eu me coloquei na frente, na banqueta, e passei o cano de uma fuzil-metralhadora por um disparador. Com os carregadores prontos, aguardei. Ao cabo de um momento chamei Michel por telefone.

— É melhor que nos comuniquemos de vez em quando; isto nos impedirá de dormir.

Se quiseres fumar teu cachimbo, tem cuidado para que a luz do teu isqueiro não se filtre para fora.

— De acordo. Se eu observar alguma coisa, te advirto logo, e…

Fora, muito perto, retumbou um estranho e poderoso grito. Parecia um berro gutural, que terminou em um sibilo horrível que crispava os nervos. Tive uma estranha impressão de rigidez. Os sáurios gigantes do secundário deviam ter umas vozes deste tipo. Estaríamos em uma região povoada de tiranossauros?

Michel me sussurrou pelo microfone: — Ouviste?

— Claro que sim.

— Que diabo pode ser? Ilumino?

— Não, por Deus! Cala-te.

O estranho grito foi ouvido novamente, mais perto ainda. Atras de uma barreira de árvores vi, à pálida lus de Selenio, uma coisa enorme que se movia. Suspendendo a respiração, pus o carregador na metralhadora. O ruido me pareceu ensurdecedor.

Com um ligeiro chiado a torre moveu-se. Sem dúvida Michel o havia visto também e apontava sua arma.

No silêncio que se seguiu, pude ouvir os roncos de Vandal. Deviam estar todos muito fatigados para não haver despertado com esses gritos!

Quando me perguntava se era preciso tocar a campainha de combate, a forma se moveu e saiu de trás das árvores. Com tão pouca luz, só entrevi um dorso denteado, umas patas gordas e grossas, uma cabeça chifruda, chata, muito larga. Devia medir uns 25 ou 30 metros de comprimento e 5 ou 6 de altura. Com o dedo eu tateava a segurança da arma, comprovando que esta estivesse pronta para atirar, mas não me atrevi a colocar o indicador no gatilho, temendo lançar uma rajada por nervosismo.

— Atenção. Preparado, porém não dispares — disse — Mas o que é essa porcaria?

— Não sei! Atenção!

O monstro se movia. Estava avançando para nós. Sua cabeça tinha uns chifres enramados como os de um cervo, e reluziam soba a lua. A pouca velocidade, meio deslizando, meio trepando, foi para a sombra da barreira de árvores e o perdi de vista.

Foram uns minutos terríveis. Quando reapareceu, estava mais distante e se fundiu gradualmente na noite. Um Ufa! Me chegou pelo telefone. Eu respondi da mesma maneira.

— Dá uma olhada — disse.

Pelo chiado dos pedais, compreendi que Michel obedecia. De repente escutei um Ah! apagado.

— Vem cá!

Subi pela escada até perto de Michel, no outro lado da metralhadora — Na tua frente, distante.

Ao entardecer havíamos visto, naquela direção um penhasco. Agora piscavam uns pontos luminosos que às vezes, ante algum obstáculo, desapareciam.

— Fogo nas grutas! É ali que vivem os talhadores da obsidiana!

Permanecemos ali hipnotizados, observando de vez em quando.

Quando, algumas horas mais tarde, levantou-se o sol vermelho, ainda estávamos ali.

— Porque não nos despertaram? — lamentou-se Vandal — E pensar que não pude ver este animal!

— Não foi muito amável da vossa parte. — acrescentou Martina.

— Pensei nisto. — disse — Porém, enquanto o animal esteve ali não quis produzir confusão com um despertar sobressaltado, e ele foi logo embora. Agora Michel e eu vamos dormir um pouco. Vandal e Breffort ficam encarregados da guarda. É desnecessário recomendar que estejam alertas. Só disparem em caso de absoluta necessidade.

Tu Charles, — disse a Breffort — pega outro fuzil-metralhadora e sobe á torre.

Só usem a metralhadora como último recurso. As munições são relativamente escassas.

Porém, se for necessário, não te detenhas. Proibição absoluta de sair. Despertem— me quando Helios sair.

Não dormimos mais que uma hora! Uns disparos e a brusca partida do caminhão me despertaram. Em um abrir e fechar de olhos eu estava fora da cama, recebendo Michel ainda meio desnudo, acima da minha cabeça. Através da porta de comunicação vi Paul ao volante e as costas de Vandal inclinada sobre um fuzil-metralhadora Atrás, Beltaire, com outro fuzil-metralhadora, observava, os olhos fixos no disparador A torre girava em todas direções e a metralhadora pesada disparava rajadas de quatro ou cinco balas.

— Michel, aprovisiona a metralhadora!

Passei para a parte dianteira.

— Que está acontecendo? Porque estamos estamos nos movendo?

— Tocaram fogo na erva.

— Sobre quem disparam?

— Sobre os que a incendiaram. Olha, ali estão!

— Através de umas ervas altas entrevi uma silhueta vagamente humana que corria a toda velocidade.

— Estão montados a cavalo?

— Não! São «Centauros»!

Como que para confirmar a expressão que Vandal havia usado, uma daquelas criaturas apareceu a uns cem metros, sobre um monte liso. À primeira vista evocava claramente a lenda: Media aproximadamente dois metros de altura, um corpo quadrúpede, com umas pernas finas e compridas. Perpendicularmente ao corpo, crescia um torso quase humano, com dois longos braços. A cabeça era calva. Um tegumento moreno reluzia como uma castanha da índia recém descascada. Aquele ser tinha na mão um feixe de varas. Pegou um com sua mão direita, correu até nós e lançou.

— Uma azagaia. — eu disse, surpreendido.

A arma cravou-se no solo, a alguns metros, desaparecendo sob as rodas. Uma exclamação de angústia chegou do fundo do caminhão: — Mais rápido, mais rápido! O fogo está nos alcançando!

— Estamos na velocidade máxima, 55 por hora. — disse — O fogo está longe?

— Somente a 300 metros. O vento o empurra para nós!

Seguimos direto. Os «centauros» haviam desaparecido.

— O que aconteceu? — perguntei a Martina.

— Estávamos falando do animal que viste esta noite, quando Breffort mostrou a Vandal que apareciam uns corpos detrás de nós. Apenas falei isto, quando apareceu uma centena destes seres, que começaram a lançar-nos azagaias. Creio inclusive que alguns teles tinham arcos. Respondemos ao ataque e nos pusemos em marcha. Isto é tudo.

— O fogo progride. — gritou Beltaire — Está a cem metros!

A fumarada obscurecia a paisagem à nossa direita. Algumas chispas superavam o caminhão, acendendo fogos secundários, que tínhamos que evitar.

— Tenta forçar um pouco, Paul.