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Fica na frente da sua jangada, para cobri-la com o corpo e protegê-la contra a água que vai passar sobre ela. Estou na mesma posição e, além disso, para me segurar, tenho as mãos de Chang, que no nervosismo me enfia as unhas na barriga da perna.

Está chegando, a Lisette que vem buscar a gente. Vem empinada como a torre de uma igreja. Com seu costumeiro estrondo ensurdecedor, quebra-se sobre os dois rochedos e afunda em direção ao penhasco.

Atirei-me uma fração de segundo antes de meu companheiro, que parte imediatamente, e nas duas jangadas, coladas uma à outra, Lisette nos arrasta ao largo com uma rapidez vertiginosa. Em menos de cinco minutos estamos a mais de 300 metros da costa. Sylvain ainda não subiu na sua jangada. Eu já estava em cima dela no minuto seguinte. Com um pano branco na mão, empoleirado no banco de Dreyfus, onde teve que trepar depressa, Chang manda seu último adeus. Já faz cinco minutos que saímos do lugar perigoso onde as ondas se formam para ir direto contra a Ilha do Diabo. Aquelas que nos levam são bem mais compridas, quase sem espuma, e tão regulares que vamos à deriva, formando um só corpo com elas, sem balançar e sem que a jangada corra o perigo de virar.

Subimos e descemos estas ondas profundas e altas, levados suavemente para o largo com a vazante.

Ao subir na crista de uma dessas ondas, ainda uma vez, virando completamente a cabeça, posso enxergar o pano branco de Chang. Sylvain não está muito longe de mim, a uns 50 metros em direção ao alto-mar. Várias vezes, ele levanta o braço e o agita em sinal de alegria e de vitória.

A noite não foi dura e sentimos fortemente a mudança de atração do mar. A maré com a qual partimos nos atirou ao largo, esta nos empurra agora para a Terra Grande.

O sol se levanta no horizonte, são portanto 6 horas. Estamos muito junto da água para conseguir avistar a costa. Vejo que estamos bastante longe das ilhas, pois, embora o sol as ilumine completamente, mal se distinguem e não se percebe que são três. Vejo uma massa, só isso. Não podendo distinguir os detalhes, penso que estão a pelo menos 30 quilômetros.

Tenho um sorriso de triunfo; pelo êxito total.

E se eu sentasse na jangada? O vento me empurraria melhor, batendo nas minhas costas.

Pronto, sentei. Desenrolo a corrente e dou uma volta em torno da minha cintura. Com o parafuso bem engraxado, é fácil fechar a porca. Levanto as mãos no ar para secá-las no vento. Vou fumar um cigarro. Pronto. Longamente, profundamente, aspiro as primeiras tragadas e assopro a fumaça docemente. Não tenho mais medo. Porque é inútil descrever a dor de barriga que eu tive antes, durante e depois dos primeiros momentos de ação. Não, não tenho medo, de modo que, terminado o cigarro, resolvo comer um pouco de coco ralado. Como um belo punhado, depois fumo outro cigarro. Sylvain está bastante longe, agora. De tempos em tempos, quando nos encontramos no mesmo momento sobre a crista de uma onda, conseguimos nos enxergar furtivamente. O sol bate com uma força dos diabos sobre o meu crânio, que começa a ferver. Molho minha toalha e enrolo-a na cabeça. Tirei a malha de lã. Apesar do vento, sufoco com ela.

Meu Deus, minha jangada virou e quase me afoguei. Bebi dois bons goles de água salgada. Não conseguia, apesar dos meus esforços, virar os sacos e tornar a subir em cima deles. A culpa é da corrente. Meus movimentos não são bastante livres por causa dela. Enfim, fazendo-a deslizar sempre no mesmo sentido, consegui nadar ao lado dos sacos e respirar profundamente. Experimento livrar-me completamente da corrente, meus dedos procuram inutilmente desaparafusar a porca. Irrito-me e, talvez por estar muito nervoso, não tenho força suficiente nos dedos para desemperrá-la.

Ufa! Enfim, aqui está! Passei um mau pedaço. Fiquei completamente louco, pensando na impossibilidade de me livrar da corrente.

Não me preocupo em endireitar a jangada. Sinto-me esgotado, não tenho bastante força. Subo em cima da jangada. Que importa que a parte de baixo esteja virada para cima? Nunca mais vou ficar amarrado, nem com a corda nem com nada. Já percebi a besteira que fiz na hora da saída, prendendo meu pulso. Isso me servirá de experiência.

O sol, inexoravelmente, queima os meus braços, as minhas pernas. Meu rosto está em fogo. Molhá-lo é pior, acho, porque imediatamente a água se evapora e queima mais ainda.

O vento diminui bastante e, se a viagem é mais cômoda, porque agora as ondas são menos altas, em compensação avanço menos rápido. Muito melhor, portanto, o vento e o mar agitado do que a calmaria.

Tenho cãibras tão fortes na perna direita, que grito, como se alguém pudesse me ouvir. Com o dedo, faço umas cruzes sobre a cãibra, lembrando-me de que minha avó dizia que isso faz a dor passar. O remédio da boa avó fracassa miseravelmente. O sol desceu bastante a oeste. São aproximadamente 4 da tarde, é a quarta maré depois da partida. Parece que esta maré montante puxa com mais força do que a outra em direção à costa.

Agora vejo sempre Sylvain e ele também me vê muito bem. Ele desaparece muito raramente, porque as ondas são pouco profundas. Tirou a camisa e está de peito nu. Sylvain me faz uns sinais. Está mais de 300 metros à minha frente, mas mais para o largo. Parece que está remando com as mãos, pela leve espuma em volta dele. Parece que quer segurar a jangada, para que eu chegue perto dele. Deito em cima dos sacos, mergulhando os braços na água, e remo. Se ele brecar e eu empurrar, será possível diminuir a distância entre nós?

Escolhi bem meu cúmplice nessa evasão, está à altura, cem por cento.

Paro de remar com as mãos. Sinto-me cansado. Preciso guardar minhas forças. Vou comer e tentar virar a jangada. A sacola da comida está embaixo e também a garrafa de couro com a água doce. Estou com sede e com fome. Meus lábios já estão partidos e queimam. A melhor maneira de virar os sacos é pendurar-me neles, na frente da onda, e depois empurrar com os pés na hora em que estão no alto da onda.

Depois de cinco tentativas, tenho a sorte de virar a jangada de uma vez só. Estou esgotado, pelo esforço que acabo de fazer, e subo com dificuldade nos sacos.

O sol está alto no horizonte e em pouco tempo vai desaparecer. É perto de 6 horas. Esperemos que a noite não seja muito agitada, porque vejo que são as longas imersões que me tiram as forças.

Bebo na bolsa de couro de Santori um bom gole de água, depois de comer dois punhados de polpa de coco. Satisfeito, as mãos secas Pelo vento, tiro um cigarro e fumo, deliciado. Antes que escureça, Sylvain agita sua toalha e eu a minha, em sinal de boa noite. Está sempre longe de mim. Estou sentado, com as pernas esticadas. Torço o mais possível minha malha de lã e a visto. Estas malhas, mesmo molhadas, esquentam; e, desaparecido o sol, começo logo a sentir frio.

O vento refresca. Somente as nuvens a oeste estão banhadas de luz rosa no horizonte. Todo o resto, agora, está mergulhado na penumbra do crepúsculo, que se acentua de minuto em minuto. A leste, de onde vem o vento, nenhuma nuvem. Portanto, não há perigo de chuva para a noite.

Não penso absolutamente em nada. Não me pergunto se é bom eu me segurar, não me molhar inutilmente, nem me pergunto se seria preferível, caso o cansaço me vença, amarrar-me aos sacos, ou se isso é muito perigoso depois da experiência que eu tive. Então percebo que eu me sentia preso nos movimentos porque a corrente era muito curta, uma extremidade ficava inutilizada, enrolada nas cordas e nos arames do saco. Esta ponta é facilmente recuperável. Vou ter, então, os movimentos mais livres. Arrumo a corrente e prendo-a de novo na cintura. A porca cheia de graxa funciona sem dificuldade. Não preciso apertá-la demais, como da primeira vez. Assim, me sinto mais tranqüilo, porque tenho um medo louco de pegar no sono e perder a jangada.

É, o vento aumentou e as ondas também. A jangada funciona otimamente, mas com as diferenças de nível cada vez mais acentuadas.

É noite completa. O céu está cravejado de milhões de estrelas e o Cruzeiro do Sul brilha mais que todas as outras,