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Lá pelas 5 horas, chegamos às margens de um riacho onde estão cinco casas de índios. Todos vêm me ver. O índio fala, fala, fala, até o momento em que chega um tipo que tem os olhos, os cabelos, o nariz, todos os traços de um índio, exceto a cor. É branco, pálido e tem os olhos vermelhos como os de um albino. Está vestindo calças cáquis. Compreendo, então, que o índio da minha aldeia nunca ultrapassa esse lugar aqui. O índio branco me diz:

– Buenos dias. Tu eres el matador que se fué con Antonio? Antonio es compadre mio de sangre. (Para se ligarem por um pacto de sangue, dois homens agem da seguinte maneira: colocam seus braços um ao lado do outro, depois cada um deles fere com a faca o braço do amigo; em seguida, juntam os ferimentos para misturar o sangue e, reciprocamente, dão uma lambida nas mãos tingidas pelo sangue de ambos.)

– Que quieres?

– Agujas, tinta china roja y azul. Nada más.

– Tu lo tendrás de aqui a un cuarto de luna.

Ele fala o espanhol melhor do que eu e se percebe que sabe entrar em contato com os civilizados, organizando o comércio de maneira a defender encarniçadamente os interesses de sua raça. Na hora da partida, me dá um colar feito com peças de prata colombiana, muito brancas. Diz que é para Lali.

– Vuelva a verme - fala o índio branco. E, para assegurar-se de que voltarei, me dá um arco.

Torno a partir, sozinho, e ainda não havia percorrido a metade do caminho quando vejo Lali, na companhia de uma de suas irmãs, muito jovem, que teria talvez doze ou treze anos. Lali tem, com certeza, uma idade entre dezesseis e dezoito anos. Lançando-se sobre mim como uma louca, ela me arranha o peito – pois protejo o rosto – e depois me morde cruelmente no pescoço. Custo a controlá-la, empregando todas as minhas forças. De repente, ela se acalma. Ponho a menina índia montada no jumento e vou caminhando atrás, abraçado com Lali. Voltamos devagar à aldeia. Durante o retorno, mato uma coruja. Atirei nela sem saber o que era, apenas porque vira os olhos brilhando no meio da noite. Lali quer levá-la de qualquer maneira conosco e resolve amarrá-la na sela do burrico. Chegamos de madrugada. Estou tão cansado, que quero tomar um banho. Lali me lava e, em seguida, na minha frente, tira o cache-sexe da irmã, lava-a e depois toma um banho ela própria.

Quando as duas voltam, estou sentado, esperando que a água posta por mim no fogo esquente, para bebê-la com limão e açúcar. Então acontece uma coisa que eu só pude entender direito depois: Lali coloca sua irmã entre as minhas pernas e põe os meus braços em torno da cintura dela. Percebo que a garota está sem o cache-sexe e com o colar que eu dera de presente a Lali. Não sei como sair de uma situação tão estranha. Com jeito, retiro a menina do lugar, pego-a no colo e levo-a para a rede, onde a deito. Tiro-lhe o colar e o coloco no pescoço de Lali. Lali se deita ao lado da irmã e eu ao lado de Lali. Mais tarde percebi que Lali tinha pensado que eu estava colhendo informações para ir embora, que eu não estava satisfeito com ela e que talvez sua irmã me agradasse e me fizesse ficar. Acordei com a mão de Lali tapando meus olhos: era tarde, 11 horas da manhã. A garota não estava mais lá. Lali me olha com amor com seus grandes olhos cinzentos e me morde suavemente os lábios. Está feliz Por compreender que é a ela que eu amo e que não parti porque estaria desinteressado dela.

Diante da casa está sentado o índio que costuma guiar a canoa onde vai Lali. Percebo que está esperando por ela. Ele sorri para mim e fecha os olhos, com uma expressão simpática que significa que sabe que Lali está dormindo. Sento-me a seu lado e ele me fala de coisas que não entendo. É excepcionalmente musculoso, jovem, robusto como um atleta. Observa minhas tatuagens, examina-as longamente e depois me faz sinais de que gostaria que eu o tatuasse. Respondo-lhe que sim com um gesto de cabeça, mas parece que ele pensa que não o compreendi. Chega Lali. Ela untou o corpo todo com óleo. Como sabe que eu não gosto disso, me faz compreender que, com o tempo nublado, a água deve estar muito fria. A mímica, feita meio a sério e meio na brincadeira, é tão graciosa que, fingindo que não a compreendi, faço com que ela a repita várias vezes. Quando lhe faço sinal para recomeçar uma vez mais, ela franze a boca de uma maneira que claramente significa; “Será que você é,. burro ou será que eu sou incapaz para explicar por que passei óleo?”

O chefe passa diante de nós com duas índias. Elas carregam um enorme lagarto verde de pelo menos 4 ou 6 quilos e ele leva um arco e algumas flechas. Acabou de caçá-lo e me convida a ir comê-lo mais tarde. Lali lhe fala e ele me toca o ombro e aponta para o mar. Compreendo que posso ir com Lali, se eu quiser. Vamos os três: Lali, seu habitual companheiro de pesca e eu. A pequena canoa, feita de madeira muito leve, é facilmente posta na água. Eles a levam no ombro e entram na água. O início da navegação é curioso: o índio é o primeiro que sobe e se instala na popa, com um grande remo na mão. Lali, com a água pela altura do busto, equilibra a canoa e a impede de recuar na direção da praia. Subo e coloco-me no meio. Em seguida, num único movimento rápido, Lali sobe e, ao mesmo tempo, com uma remada, o índio nos faz avançar mar adentro. As ondas vão aumentando de tamanho na medida em que a gente progride. A 500 ou 600 metros da praia, encontramos uma espécie de canal, onde já estão dois barcos pescando. Lali prende as tranças no alto da cabeça por meio de cinco tiras de couro vermelho, três atravessadas, duas ao comprido, presas ao pescoço. Empunhando um facão, segue a haste de ferro de cerca de 15 quilos que serve de âncora e que o índio baixou até o fundo. O barco está ancorado, mas não fica quieto, pois a cada onda sobe e desce.

Durante mais de três horas, Lali desce ao fundo do mar e torna a subir. Não se vê o fundo, mas, pelo tempo que ela leva, deve estar a uns 15 a 18 metros. Cada vez que ela sobe, traz o saco com ostras e o índio o esvazia na canoa. Durante essas três horas, nem uma vez Lali subiu para cima do bote. Para descansar, ela fica cinco ou dez minutos agarrada a ele sem sair da água. Mudamos duas vezes de lugar sem que Lali tenha entrado na canoa. No segundo lugar da nossa pesca, o saco vem com ostras mais numerosas e maiores. Dirigimo-nos para a terra. Lali sobe à canoa e as ondas nos levam rapidamente à praia. Uma índia velha nos espera. Lali e eu a deixamos transportar as ostras para a areia seca, juntamente com o índio. Quando todas as ostras estão secas, Lali impede a velha de abri-las, pois faz questão de começar ela própria. Depressa, com a faca, ela abre umas trinta até encontrar uma pérola. Não preciso dizer que comi pelo menos umas duas dúzias de ostras. A água do fundo do mar deve ser fria, pois elas também estavam bastante frias. Delicadamente, Lali extrai a pérola de dentro da ostra: é do tamanho de uma ervilha pequena. Uma pérola grande, maior, provavelmente, que as pérolas médias. E como brilha! A natureza lhe deu tons que mudam, embora discretos. Lali segura a pérola com os dedos, coloca-a na boca e fica com ela aí durante um momento; depois retira-a e coloca-a na minha. Por meio de uma série de gestos e movimentos do queixo, explica-me que quer que eu a esmague com os dentes e a engula. Diante da minha recusa inicial, sua súplica é tão bela, que eu faço aquilo que ela quer: trituro a pérola com os dentes e engulo os fragmentos. Ela abre quatro ou cinco ostras e me faz comê-las, para ajudar a engolir a pérola. Parece uma criança: abre minha boca, me faz deitar na areia e verifica se não ficou nem um pedacinho preso entre os dentes. Deixamos os outros continuarem a trabalhar e nos vamos.