Estava tão impressionado, na verdade, que nem se deu ao trabalho de instalar as suas próprias rotinas de bloqueio mentaclass="underline" limitou-se a programar chamadas para as rotinas já existentes, que fariam chamadas a si mesmas quando solicitadas e assim por diante.
Executou rapidamente uma pesquisa de erros nos fragmentos de código que ele mesmo instalara e descobriu que não estavam lá. Xingando, procurou por eles em toda parte, mas não havia sequer vestígios deles.
Estava prestes a instalar tudo de novo quando percebeu que o motivo pelo qual não conseguia encontrá-los é que já estavam funcionando.
Abriu um largo sorriso de satisfação.
Tentou descobrir a natureza do outro bloqueio mental do computador, mas, ao que parecia, não atipicamente, um bloqueio mental o impedia. Não conseguia mais encontrar nenhum traço dele, para falar a verdade; era dos bons. Chegou a pensar que havia imaginado tudo. Chegou a pensar se havia imaginado que tinha algo a ver com algo dentro do prédio e algo a ver com o número treze. Fez alguns testes. É, com certeza estava imaginando coisas.
Não tinha tempo para fazer um roteamento mais rebuscado, já que obviamente havia um baita alerta de segurança em andamento. Ford pegou o elevador até o térreo para tomar um dos elevadores expressos. Tinha que encontrar uma forma de colocar o Ident—I—Fácil de volta no bolso de Harl antes que ele desse por falta. Como? Não tinha idéia.
As portas do elevador se abriram e revelaram um pelotão de guardas de segurança e robôs a postos, com armas de aparência obscena nas mãos. Ordenaram que saísse.
Dando de ombros, Ford deu um passo à frente. Passaram por ele aos solavancos e entraram no elevador, que os conduziu para os andares inferiores, onde continuariam a sua busca por ele.
Isso foi hilário, pensou Ford, dando um tapinha camarada nas costas de Colin
— o primeiro robô genuinamente útil que Ford encontrava em sua vida. Sacudia-se diante dele em pleno ar, em um frenesi de êxtase jovial. Ford estava satisfeito por ter lhe dado o nome de um cachorro.
Sentiu-se altamente tentado a ir embora e torcer para tudo dar certo, mas sabia que tudo só daria certo de verdade se Harl não descobrisse que seu Ident—I—Fácil não estava em seu bolso. Precisa devolvê-lo furtivamente.
Seguiram para os elevadores expressos.
—
Olá — disse o elevador no qual entraram.
—
Olá — respondeu Ford.
—
Para onde posso levá-los hoje, rapazes? — perguntou o elevador.
—
Andar vinte e três — disse Ford.
—
Parece um andar bastante popular hoje — comentou o elevador. Humm, pensou Ford, não gostando nem um pouco daquilo. O elevador acendeu o botão vinte e três e subiu em disparada. Alguma coisa no painel chamou a atenção de Ford, mas ele não conseguiu sacar o que era e acabou deixando pra lá. Estava mais preocupado com a história do andar para onde estava indo ser popular. Não tinha definido direito como lidaria com o que quer que estivesse se passando lá em cima porque não fazia a menor idéia do que estava prestes a encontrar. Ia ter de improvisar. Chegaram.
As portas do elevador se abriram.
Silêncio agourento.
Corredor deserto.
Lá estava a porta do escritório de Harl, com uma leve camada de poeira à sua volta. Ford sabia que aquela poeira nada mais era do que bilhões de robôs moleculares minúsculos que haviam saído de dentro do batente, construído uns aos outros, reconstruído a porta, se desmembrado uns aos outros e depois voltado para o batente novamente, onde ficariam aguardando o próximo estrago. Ford se perguntou que tipo de vida era aquela, mas não por muito tempo, pois estava muito mais preocupado em pensar que tipo de vida era a sua no momento.
Respirou fundo e partiu com tudo.
CAPÍTULO 9
Arthur estava se sentindo um pouco perdido. Havia toda uma Galáxia de coisas lá fora à sua disposição e ele se questionava se era mesquinho de sua parte reclamar da falta de apenas duas coisas: o mundo no qual nascera e a mulher que amava. Dane-se e exploda-se, pensou ele, sentindo necessidade de orientação e conselho. Consultou O Guia do Mochileiro das Galáxias. Procurou por "orientação" e leu "Ver CONSELHO". Procurou "conselho" e estava escrito "Ver ORIENTAÇÃO". Aquilo estava acontecendo bastante nos últimos tempos e ele se perguntou se o Guia era tão bom quanto diziam.
Dirigiu-se para a Borda Oriental da Galáxia, onde, segundo diziam, era possível encontrar sabedoria e verdade, mais especificamente no planeta Hawalius, que era um lugar de oráculos, videntes e profetas, e também de pizzarias que entregavam em casa, porque quase todos os místicos eram completamente incapazes de cozinhar para si mesmos.
No entanto, aparentemente algum tipo de calamidade havia assolado o planeta. Enquanto perambulava pelas ruas da cidade onde viviam os profetas mais importantes, não pôde deixar de perceber um certo ar de desânimo. Encontrou com um profeta que estava visivelmente fechando as portas, melancólico, e perguntou o que estava acontecendo.
—
Ninguém mais procura a gente — respondeu ele, mal-humorado, batendo um prego sobre a tábua com que estava fechando a janela de sua cabana.
—
Ah, é? Por quê?
—
Segura essa outra ponta que eu te mostro.
Arthur segurou a ponta solta da placa e o velho profeta entrou depressa no interior do casebre, voltando alguns segundos depois com um pequeno rádio subeta. Ligou o aparelho, mexeu no botão de sintonia para lá e para cá e depois colocou o rádio sobre o pequeno banco de madeira no qual costumava sentar-se e profetizar. Em seguida, voltou para segurar a placa e continuou a martelar na parede. Arthur sentou-se e ficou ouvindo o rádio.
—
... ser confirmado — disse o rádio.
—
Amanhã — prosseguiu —, o vice-presidente de Poffla Vigus, Roopy Ga Stip, irá anunciar que pretende se candidatar à presidência. No discurso que fará amanhã
na...
—
Mude de estação — disse o profeta. Arthur apertou um botão de troca de canais.
—
...recusou-se a comentar — disse o rádio. — O número total de desempregados no setor Zabush na próxima semana será o pior de todos os tempos. Um relatório publicado mês que vem diz...
—
Outra — rosnou o profeta, irritado. Arthur apertou o botão novamente.
—
...negou categoricamente — disse o rádio. — O casamento real do mês que vem entre o Príncipe Gid da dinastia Soofling e a Princesa Hooli de Raui Alpha será a cerimônia mais espetacular já vista nos Territórios Bjanjy. A nossa repórter Trillian Astra está no local, com mais informações.
Arthur piscou.
O som da multidão e a algazarra de uma banda surgiram do rádio. Uma voz bastante familiar disse:
—
Bem, Krart, a cena aqui no meio do mês que vem é absolutamente incrível. A Princesa Hooli está radiante em um...
O profeta deu um safanão no rádio, que caiu do banco no chão empoeirado, gemendo como galinha desafinada.
—
Viu só com o que temos de competir? — resmungou o profeta. — Aqui, segure isto. Não isso, isto aqui. Não, assim não. Essa parte para cima. Do outro lado, seu imbecil.
—
Ei, eu estava escutando — reclamou Arthur, lutando desajeitadamente com o martelo do profeta.
—
Você e todo mundo. É por isso que este lugar parece uma cidade fantasma. — Ele cuspiu na poeira.
—
Não, não é isso, é que parecia a voz de uma pessoa que eu conheci.
—
A Princesa Hooli? Se eu tivesse que ficar parado dizendo oi para todo mundo que conheceu a Princesa Hooli, ia precisar de um novo par de pulmões.
—
Não, a princesa, não — explicou Arthur. — A repórter. O nome dela é