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Trillian. Não sei qual é a do Astra. Somos do mesmo planeta. Eu vivia me perguntando que fim a Trillian tinha levado.

Ah, ela está em todas atualmente. As estações de tevê tridimensionais não pegam por aqui, é claro, graças ao Megarresfriadon Verde, mas a gente a escuta no rádio, saracoteando pelo espaço-tempo sem parar. Era melhor ela sossegar e encontrar uma era fixa, essa moça. Isso vai acabar em lágrimas. Provavelmente já acabou. — Ele balançou o martelo e acabou atingindo o dedão com toda a força. Começou a praguejar. O vilarejo dos oráculos não estava lá muito melhor.

Haviam lhe dito que, ao procurar por um bom oráculo, o ideal era encontrar o oráculo que os outros oráculos freqüentavam, mas ele estava fechado. Havia um aviso na entrada dizendo "Não sei mais nada. Tente aí do lado — mas isso é só uma sugestão, não um conselho formal de oráculo".

"Aí do lado" era uma caverna a alguns metros, e Arthur caminhou até lá. Fumaça e vapor subiam, respectivamente, de uma pequena fogueira e de uma panela de lata desgastada pendurada acima da fogueira. Saía um cheiro insuportável da panela. Ou, pelo menos, Arthur supôs que o cheiro viesse da panela. As bexigas dilatadas de algumas criaturas locais semelhantes a bodes estavam penduradas em um varal, secando ao sol, e o cheiro podia estar vindo dali. Havia também, preocupantemente próxima, uma pilha dos corpos descartados das criaturas locais semelhantes a bodes, e o cheiro também podia estar vindo de lá.

Mas o cheiro também podia tranqüilamente estar vindo da senhora que estava ocupada espantando as moscas da pilha de corpos. Era uma tarefa inglória, uma vez que cada mosca era do tamanho de uma tampinha de garrafa, com asas, e ela só tinha uma raquete de tênis de mesa. Parecia também ser meio cega. De vez em quando, por acaso, uma das suas pancadas enlouquecidas acertava uma das moscas com um safanão altamente satisfatório e a mosca zunia pelo ar, indo se estraçalhar na parede de rocha próxima à entrada da caverna.

Ela dava a impressão, pelo seu comportamento, de que sua vida girava em torno de momentos como aquele.

Arthur assistiu àquela performance exótica por um tempo, mantendo uma distância educada, e depois finalmente tentou tossir discretamente para chamar a atenção da mulher. A tosse discreta em tom cortês infelizmente obrigou Arthur a inalar mais ar local do que havia feito até então e, por causa disso, ele teve um acesso de expectoração estridente e caiu de encontro à rocha, engasgado e com o rosto coberto de lágrimas. Lutou para respirar, mas, cada vez que inalava, a situação ficava pior. Vomitou, engasgou novamente, rolou sobre o próprio vômito, continuou rolando mais alguns metros e, finalmente, conseguiu ficar de quatro e se arrastou, ofegante, em direção a um ar um pouquinho mais fresco.

Com licença — disse ele. Recuperara um pouco de ar. — Sinto muito, muitíssimo mesmo. Estou me sentindo completamente idiota e... — Apontou constrangido para a pequena poça de seu próprio vômito, espalhada na entrada da caverna. — O que posso dizer? — perguntou ele. — O que dizer numa situação como essa?

Aquilo, pelo menos, chamou a atenção da mulher. Ela virou-se para ele, desconfiada, mas, por ser meio cega, teve uma certa dificuldade de distingui-lo na paisagem embaçada e rochosa.

Ele acenou, para ajudar.

Olá! — disse ele.

Finalmente ela o localizou, resmungou entre dentes e voltou a dar pancadas nas moscas.

Estava terrivelmente aparente, julgando pela oscilação das correntes de ar conforme ela se mexia, que a principal fonte do fedor era ela. As bexigas no varal, os corpos pestilentos e a sopa insalubre certamente contribuíam violentamente para a atmosfera geral, mas a principal presença olfativa era a mulher em si. Acertou outra pancada em uma das moscas. Ela se despedaçou contra a rocha e esvaiu-se em um filete líquido de uma forma que a mulher obviamente via, se é que enxergava até lá, como bastante satisfatória.

Vacilante, Arthur ficou de pé e se limpou com um punhado de grama seca. Não sabia mais o que fazer para anunciar sua presença. Chegou a pensar em ir embora de fininho, mas não achou de bom tom deixar um montinho de vômito na frente da casa dela. Pensou no que podia fazer a respeito. Começou a colher mais punhados da grama seca aqui e ali. Mas estava com medo de se aproximar do vômito e, em vez de limpar, aumentar mais a poça.

Justo enquanto estava debatendo consigo mesmo sobre qual seria a melhor coisa a fazer percebeu que a mulher estava finalmente falando com ele.

Desculpe, o que a senhora disse?

Eu perguntei em que poderia ajudar — disse ela, com uma voz fina e áspera que ele mal conseguia ouvir.

É... eu vim pedir o seu conselho — respondeu ele, sentindo-se um pouco ridículo.

Ela virou-se para observá-lo, miopemente, depois voltou-se, tentou acertar uma mosca e errou.

Sobre o quê? — perguntou a mulher.

Como?

Eu perguntei sobre o quê — repetiu ela, estridente.

Bem — disse Arthur. — Conselhos genéricos, para falar a verdade. Estava escrito no folheto que...

Humpt! Folheto! — resmungou a mulher. Ela já parecia estar sacudindo a raquete de maneira quase aleatória.

Arthur pescou o folheto, caindo aos pedaços, do bolso. Não sabia exatamente por quê. Já havia lido aquilo tudo e tinha a impressão de que ela não estava nem um pouco interessada em ler. Desdobrou-o assim mesmo, para ter uma coisa que pudesse olhar enquanto franzia a testa, pensativo, durante alguns minutos. O folheto prodigalizava as ancestrais artes místicas dos videntes e dos sábios de Hawalius, e falava, de forma altamente exacerbada, sobre o nível de acomodação oferecida por lá. Arthur ainda carregava uma cópia do Guia do Mochileiro das Galáxias consigo, mas estava achando, sempre que o consultava, que as entradas estavam ficando cada vez mais confusas e paranóicas, com vários xis e jotas e colchetes. Alguma coisa estava errada em algum lugar. Não sabia dizer se era apenas um problema com o seu exemplar, se algo ou alguém estava fazendo besteiras inomináveis ou tendo alucinações no centro da organização do Guia. Mas, de qualquer jeito, estava ainda menos disposto a confiar nele mais do que o normal, ou seja, não confiava nem um pouco e o usava, na maioria das vezes, como apoio quando queria comer um sanduíche sentado em uma pedra olhando para o além.

A mulher havia se virado e estava caminhando em sua direção. Arthur tentou, discretamente, analisar a direção do vento e movimentou—se um pouco enquanto ela se aproximava.

Conselhos — disse ela. — Conselhos, né?

É, isso mesmo — respondeu Arthur. — É, isso é...

Franziu a testa novamente para o folheto, como se para se certificar de que não havia lido errado e ido parar no planeta errado ou algo assim. Estava escrito: "Os amigáveis habitantes locais terão imenso prazer em compartilhar com você o conhecimento e a sabedoria dos ancestrais. Mergulhe com eles nos intrincados mistérios do passado e do futuro!" Havia também alguns cupons de desconto, mas Arthur estava constrangido demais para recortá-los e tentar entregá-los para alguém.

Conselho, né? — repetiu a mulher. — Genéricos, você diz. Sobre o quê?

O que fazer da sua vida, coisas assim?

Exatamente — respondeu Arthur. — Coisas assim. Para ser sincero, tenho tido alguns probleminhas. — Estava esgueirando-se de maneira discreta, tentando desesperadamente aproveitar o vento. Ele se assustou quando ela se afastou bruscamente, dirigindo-se para a caverna.

Você vai ter de me ajudar com a máquina de fotocópias então — disse ela.