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Era circular e negro, mais ou menos do tamanho de um prato pequeno. A parte superior e a inferior eram lisinhas e convexas, o que lhe dava a aparência de um disco de arremesso bem leve.

As superfícies pareciam ser completamente lisas, contínuas e sem traços característicos.

A coisa estava parada.

Ford notou, então, que havia algo escrito nela. Estranho. Não havia nada escrito um segundo atrás, mas agora estava lá. Não parecia, contudo, ter ocorrido nenhuma transição visível entre os dois estados.

A mensagem, em letrinhas pequenas e alarmantes, se resumia a três palavras: ENTRE EM PÂNICO

Pouco antes não havia nenhuma marca ou linhas em sua superfície. Agora havia. E estavam crescendo.

Entre em pânico, dizia o Guia versão II. Ford começou a agir de acordo. Lembrou-se subitamente por que as criaturas com aparência de lesma lhe pareciam tão familiares. Seu padrão de cores estava mais para um cinza executivo, porém, em todo o resto, eram parecidíssimas com os vogons.

CAPÍTULO 13

A nave tocou a terra silenciosamente no canto da imensa clareira, a uns cem metros da cidade. Surgiu súbita e inesperadamente, mas sem fazer alarde. Numa hora, era um final de tarde perfeitamente normal, início de outono — as folhas começando a ficar vermelhas e douradas, o rio começando a correr novamente graças às chuvas das montanhas ao norte, a plumagem dos pássaros pikka começando a engrossar, preparando—se para a chegada das geadas de inverno, e, a qualquer momento, as Bestas Perfeitamente Normais começariam a sua estrondosa migração pelas planícies enquanto o Velho Thrashbarg resmungaria sozinho ao perambular pela cidade, um resmungo que significava que já estava ensaiando e elaborando as histórias que iria contar sobre o ano que passou quando as pessoas não tivessem outra opção ao anoitecer a não ser se reunir em volta de uma fogueira para escutá-lo e depois reclamar, dizendo que a história de que lembravam não era bem aquela — e, em seguida, havia uma nave espacial pousada, reluzindo no calor do sol de outono.

Zumbiu por alguns minutos, depois parou.

Não era uma nave grande. Se os moradores locais fossem especialistas em naves espaciais, saberiam de cara que aquela era uma bela e estilosa espaçonave leve Hrundi, de quatro leitos, com praticamente todos os opcionais oferecidos no folheto, exceto a Estabilização Vectóide Avançada, que era coisa de frouxo. Não dá para fazer uma curva fechada e precisa em um eixo de tempo trilateral com a Estabilização Vectóide Avançada. Tudo bem, é um pouco mais seguro, mas tira a graça da direção. Os moradores não sabiam nada daquilo, é claro. A maioria dos habitantes do remoto planeta Lamuella jamais havia visto uma nave espacial, certamente não uma que estivesse inteira. Brilhando calorosa na luz do entardecer, era simplesmente a coisa mais extraordinária que eles já haviam visto, desde o dia em que Kirp pegou um peixe com uma cabeça de cada lado.

Estavam todos em silêncio.

Enquanto poucos momentos antes umas vinte ou trinta pessoas estavam perambulando pelo local, conversando, cortando lenha, carregando água, perturbando os pássaros pikka ou tentando educadamente ficar longe do Velho Thrashbarg, de repente toda a atividade fora interrompida e todos se viraram para contemplar o objeto estranho, espantados.

Bom, nem todos. Os pássaros pikka costumavam se espantar com coisas bem diferentes. Uma folha absolutamente comum caída inesperadamente sobre uma pedra provocava os acessos mais frenéticos; o nascer do sol sempre os apanhava de surpresa pela manhã, mas a chegada de uma nave espacial de outro planeta simplesmente não lhes chamara a menor atenção. Continuaram a kar e rit e huk enquanto ciscavam sementes pelo chão; o rio prosseguia em seu calmo e vasto borbulhar. Além disso, o barulho da cantoria alta e desafinada vinda da última cabana à

esquerda também prosseguia, inabalável.

De repente, com um suave clique e um murmúrio, uma porta da nave se desdobrou para fora e para baixo. Então, por alguns minutos, nada mais aconteceu além da cantoria alta que vinha da última cabana à esquerda, e a nave simplesmente ficou lá, parada.

Alguns dos moradores, especialmente os garotos, começaram a se aproximar um pouco para olhar de perto. O Velho Thrashbarg tentou enxotá-los. Aquele era exatamente o tipo de coisa que o Velho Thrashbarg não gostava que acontecesse. Não tinha profetizado nada daquilo, nem de longe, e, embora fosse dar um jeito de incluir a coisa de uma maneira ou de outra em suas longas histórias, aquilo estava começando a ficar complicado demais.

Deu alguns passos à frente, empurrou os meninos para trás e suspendeu os braços e seu velho cajado no ar. A luz morna e comprida do sol que se punha recaía bem sobre ele. Começou a se preparar para dar as boas-vindas àqueles deuses, fossem quais fossem, como se estivesse esperando por eles desde sempre. Ainda assim nada aconteceu.

Aos poucos começou a ficar claro que estava rolando alguma discussão dentro da nave. O tempo foi passando e os braços do Velho Thrashbarg começaram a doer. De repente, a rampa se recolheu novamente para dentro da nave. Aquilo facilitou as coisas para Thrashbarg. Eram demônios e ele os expulsara. Não havia profetizado o evento por uma questão de prudência e modéstia. Quase imediatamente, uma outra rampa se desdobrou do lado oposto da nave, contrário ao que Thrashbarg estava, e duas figuras finalmente surgiram, ainda discutindo e ignorando todo mundo, até mesmo Thrashbarg, que eles mal podiam ver do lugar onde estavam.

O Velho Thrashbarg mordiscou a barba, irritado. Será que devia continuar ali parado, com os braços para cima? Se ajoelhar no chão, com a cabeça arriada para a frente e o cajado apontado para eles? Cair para trás, como se devastado por uma titânica luta interior? Ou talvez fugir para a floresta e viver em uma árvore durante um ano, sem falar com ninguém?

Decidiu abaixar os braços elegantemente, como se tivesse feito aquilo de propósito. Já estavam doendo demais, de modo que ele não tinha muita escolha. Fez um pequeno sinal secreto que tinha acabado de inventar em direção à rampa, que havia acabado de fechar, e depois deu três passos e meio para trás, a fim de poder ao menos observar direito quem eram aquelas pessoas e decidir o que fazer em seguida. A mais alta era uma mulher muito bonita, usando roupas soltas e amarrotadas. O Velho Thrashbarg não sabia disso, mas eram feitas de Rymplon TM, um novo tecido sintético que era perfeito para viagens espaciais porque parecia realmente fantástico quando estava todo enrugado e suado.

A mais baixa era uma menina. Era esquisita e tinha um ar mal-humorado, usava roupas que ficavam péssimas quando estavam enrugadas e suadas e, o que era pior, ela provavelmente sabia daquilo.

Todos olhavam para elas, exceto os pássaros pikka, que tinham outras coisas para olhar.

A mulher estacou e olhou à sua volta. Tinha um ar decidido. Ficou claro que estava buscando algo específico, mas não sabia exatamente onde encontrar. Olhou os rostos dos habitantes que se reuniam curiosos à sua volta, um por um, e, aparentemente, não encontrou o que estava procurando.

Thrashbarg não fazia a menor idéia do que fazer e decidiu apelar para um cântico. Jogou a cabeça para trás e começou o seu lamento, mas foi imediatamente interrompido por uma nova leva de músicas da cabana do Fazedor de Sanduíches: a última do lado esquerdo. A mulher virou-se bruscamente para aquela direção e, lentamente, um sorriso surgiu em seu rosto. Sem nem olhar de relance para o Velho Thrashbarg, começou a se dirigir para a cabana.