Выбрать главу

Entendo.

Trillian olhou longamente para Arthur e depois, com outro tom de voz, disse:

É hora de você assumir as suas responsabilidades, Arthur.

Arthur tentou compreender aquele comentário. Sabia que sempre levava mais ou menos um minuto para entender exatamente o que as pessoas estavam falando, então deixou mais ou menos um minuto passar, sem a menor pressa. A sua vida era tão agradável e tranqüila naqueles dias que tinha tempo de sobra para esperar as coisas fazerem sentido na sua cabeça. Então deixou as coisas fazerem sentido. Ainda não tinha entendido direito o que ela queria dizer com aquilo. Então, no final das contas, foi obrigado a perguntar.

Trillian lhe deu um sorriso contido e virou-se para a porta da cabana.

Random? — chamou ela. — Venha cá. Venha conhecer o seu pai.

CAPÍTULO 14

Enquanto o Guia tornava a se dobrar em um disco liso e negro, Ford tentou se dar conta de algumas coisas bem alucinadas. Ou, pelo menos, tentou se dar conta, pois as coisas eram alucinadas demais para dar conta de tudo de uma só vez. Sua cabeça estava martelando, seu tornozelo estava doendo e, embora não gostasse de parecer um maricas em relação à dor, costumava achar que a lógica multidimensional intensa era algo que ele compreendia melhor no banho. Precisava de tempo para pensar a respeito. Tempo, um drinque caprichado e algum óleo de banho perfumado e denso que fizesse bastante espuma.

Precisava dar o fora dali. Precisava tirar o Guia dali. Não acreditava que os dois pudessem escapar juntos.

Olhou à sua volta, nervoso.

Pense, pense, pense. Tinha de ser algo simples e óbvio. Se sua suspeita furtiva e asquerosa de que estava lidando com vogons furtivos e asquerosos estava correta, então quanto mais simples e óbvio, melhor.

De repente viu o que precisava.

Não tentaria lutar contra o sistema, apenas iria fazer uso dele. A coisa mais assustadora sobre os vogons era a sua determinação absolutamente irracional para fazer qualquer coisa irracional que estivessem determinados a fazer. Não adiantava nada apelar para o seu bom senso, porque não tinham um. No entanto, se você mantivesse a calma, algumas vezes podia explorar a sua teimosia obtusa e acachapante em serem acachapantes e obtusos. A questão não era apenas que a mão esquerda deles nem sempre sabia o que a mão direita estava fazendo; freqüentemente, a própria mão direita tinha apenas uma vaga noção do que ela mesma estava fazendo. Ousaria simplesmente mandar entregar aquilo para ele mesmo?

Ousaria simplesmente colocar o objeto no sistema e deixar que os vogons descobrissem como fazê-lo chegar até ele enquanto estivessem ocupados — como provavelmente estariam — destruindo o prédio para descobrir onde Ford o escondera?

Sim.

Febrilmente, empacotou o Guia. Embrulhou-o. Etiquetou-o. Parando um momento para pensar se estava realmente fazendo a coisa certa, encaminhou o pacote para a rampa de correspondência interna do prédio.

Colin — disse ele, virando—se para a pequena bola flutuante. — Vou te abandonar à própria sorte.

Estou tão feliz — respondeu Colin.

Aproveite ao máximo — disse Ford. — Porque preciso que você tome conta desse pacote e o leve para fora do prédio. Eles provavelmente vão te incinerar quando te encontrarem e eu não vou mais estar aqui para ajudar. A coisa vai ficar muito, muito feia para o seu lado e eu só lamento. Entendeu?

Estou gorgolejando de satisfação — disse Colin.

Vai! — ordenou Ford.

Colin obedientemente mergulhou na rampa de correspondência para cumprir sua missão. Agora Ford só tinha que se preocupar consigo mesmo, mas aquela continuava sendo uma preocupação substancial. Podia ouvir o barulho de passos pesados correndo do lado de fora da porta, que ele tivera a precaução de trancar e de obstruir com um armário bem pesado.

Estava aflito porque tudo tinha sido fácil demais. Tudo muito bem encaixado. Passara o dia aos trancos e barrancos e, no entanto, tudo terminara de forma estranhamente bem resolvida. A não ser pelo seu sapato. Estava chateado com aquilo. Era uma conta que teria de acertar mais tarde.

Com um ruído ensurdecedor, a porta explodiu para dentro. No turbilhão de fumaça e poeira, Ford pôde distinguir criaturas grandes, parecidas com lesmas, correndo na sua direção.

Então fora tudo fácil demais, não é? Tudo funcionando como se a sorte mais extraordinária estivesse ao seu lado? Bom, era isso o que ele ia descobrir. Imbuído de um espírito de pesquisa científica, arremessou-se novamente pela janela.

CAPÍTULO 15

No primeiro mês, conhecer um ao outro foi um pouco difícil. No segundo mês, tentar aceitar o que descobriram um sobre o outro no primeiro mês foi muito mais fácil. Mas no terceiro mês, quando a caixa chegou, a coisa ficou meio complicada. No começo, até mesmo tentar explicar o que era um mês foi problemático. Aquilo havia sido algo deliciosamente simples para Arthur em Lamuella. Os dias tinham um pouquinho mais de vinte e cinco horas, o que basicamente significava uma hora a mais na cama todos os dias e, claro, ter que reajustar seu relógio o tempo todo, coisa que Arthur até gostava de fazer.

Também se sentia em casa com o número de sóis e luas em Lamuella — um de cada — por oposição a certos planetas onde ele foi parar algumas vezes e que tinham uma quantidade absurda de ambos.

O planeta orbitava em torno do seu único sol a cada trezentos dias, o que era um bom número, porque significava que o ano não ficava se arrastando. A lua orbitava em volta de Lamuella umas nove vezes por ano, o que significava que um mês tinha um pouquinho mais do que trinta dias, o que era absolutamente perfeito, porque dava mais tempo às pessoas para fazerem as coisas. Não era meramente tranqüilizador como a Terra: era, na verdade, uma melhoria.

Random, por outro lado, Sentia-se como se estivesse presa em um pesadelo recorrente. Tinha ataques de choro e achava que a lua estava atrás dela. Aparecia no céu todas as noites e, quando ela finalmente sumia, lá vinha o sol para segui—la. Sem cessar.

Trillian avisara a Arthur que Random poderia ter uma certa dificuldade de se adaptar a um estilo de vida mais regular que o de até então, mas Arthur não estava preparado para vê-la uivando para a lua.

Não estava preparado para nada daquilo, obviamente.

Sua filha?.

Sua filha? Ele e Trillian nem mesmo tinham feito... ou fizeram? Tinha certeza absoluta de que se lembraria disso. E quanto a Zaphod?

Espécies diferentes, Arthur — respondera Trillian. — Quando eu resolvi ter um filho, eles fizeram vários testes genéticos em mim e só encontraram uma compatibilidade. Só depois eu me dei conta. Fui verificar e estava certa. Eles não costumam revelar essas coisas, mas eu insisti.

Quer dizer que você procurou um banco de DNA? — perguntou Arthur, com os olhos arregalados.

Procurei. Mas ela não foi tão randômica quanto o nome sugere porque, é

claro, você era o único doador homo sapiens. Mas parece que você era um viajante bem assíduo.

Arthur examinara embasbacado a menina infeliz que estava constrangedoramente prostrada na soleira da porta olhando para ele.

Mas quando... há quanto tempo...?

Você quer saber qual a idade dela, é isso?

É.

A errada.

O que você quer dizer?

Que não faço a menor idéia.

Com o assim?

Bem, seguindo minha linha do tempo, eu dei à luz há uns dez anos, mas ela é, obviamente, muito mais velha do que isso. Passo minha vida inteira indo e voltando no tempo, sabe. Por causa do trabalho. Costumava levá-la comigo quando dava, mas nem sempre era possível. Então eu comecei a colocá-la em creches nas zonas temporais, mas hoje em dia é muito difícil encontrar um acompanhamento confiável do tempo. Você deixa as crianças lá pela manhã e não faz a menor idéia de quantos anos vão ter à tarde. Você reclama o quanto quiser, mas não adianta nada. Eu a deixei em um desses lugares por algumas horas uma vez e, quando voltei, ela já tinha virado adolescente. Fiz tudo o que pude, Arthur, agora é com você. Preciso fazer a cobertura de uma guerra.