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Por fim, Arthur e Ford cambalearam para trás. Sentaram-se, exaustos e vencidos, e começaram a criticar as respectivas técnicas de manejo da toalha.

Você tem que sacudir mais a toalha — reclamou Ford. — Precisa de mais impulso do cotovelo se quiser chamar a atenção dessas criaturas malditas.

Mais impulso? — reclamou Arthur. — Você é que precisa de mais flexibilidade no pulso.

Você precisa agitar mais — discordou Ford.

Você precisa de uma toalha maior.

Vocês precisam — disse outra voz — é de um pássaro pikka.

De quê?

A voz viera de trás deles. Se viraram e, atrás deles, sob o sol matinal, estava o Velho Thrashbarg.

Para atrair a atenção de uma Besta Perfeitamente Normal — disse ele, aproximando-se de Arthur e Ford — vocês precisam de um pássaro pikka. Como este aqui.

De dentro da coisa parecida com uma batina de tecido grosso que usava, Thrashbarg tirou um pequeno pássaro pikka. O animal ficou inquieto na palma da mão do velho, olhando concentradíssimo para alguma coisa que estava em disparada a um metro e dezesseis centímetros de distância à sua frente.

Ford instantaneamente assumiu a posição de alerta agachado que gostava de manter quando não sabia ao certo o que estava acontecendo ou que o deveria fazer. Balançou os braços em volta bem devagar, torcendo para que o gesto parecesse ameaçador.

Quem é esse? — sussurrou ele.

Ah, é só o Velho Thrashbarg — disse Arthur, baixinho. — E eu não me daria ao trabalho de ficar fazendo esses gestos malucos. Ele é um malandro tão experiente quanto você. Podem acabar dançando um em volta do outro o dia inteiro.

E o pássaro? — sussurrou Ford novamente. — Qual é a do pássaro?

É só um pássaro! — respondeu Arthur, impaciente. — Como qualquer outro. Põe ovos e faz ark para coisas que ninguém vê. Ou kar ou rit, sei lá.

Você já viu algum deles pôr ovos? — perguntou Ford, desconfiado.

Pelo amor de Bob, claro que sim — respondeu Arthur. — E já comi centenas deles. Dão um omelete dos bons. O segredo é colocar pequenos cubos de manteiga gelada e depois bater bem devagar com um...

Eu não quero droga de receita nenhuma — disse Ford. — Só quero me certificar de que é um pássaro de verdade e não uma espécie de ciberpesadelo multidimensional.

Ford levantou-se devagarzinho da posição agachada e espanou a poeira do corpo. Continuava de olho no pássaro, de qualquer forma.

Então — disse o Velho Thrashbarg para Arthur. — Está escrito que Bob tomará novamente para si a graça divina de seu enviado, o Fazedor de Sanduíches?

Ford quase se agachou de novo.

Está tudo bem — murmurou Arthur —, ele sempre fala desse jeito. Em voz alta, ele disse:

Ó, venerável Thrashbarg. Humm, creio que é chegada a hora de dar no pé. Mas o jovem Drimple, meu aprendiz, será um excelente Fazedor de Sanduíches no meu lugar. Ele tem talento e um profundo amor pelos sanduíches, e todas as habilidades que adquiriu até agora, embora ainda sejam rudimentares, um dia haverão de amadurecer e, ah, bem, acho que ele vai se sair bem, é o que estou tentando dizer. O Velho Thrashbarg olhou para ele, muito sério. Seus velhos olhos cinzentos movimentaram-se, tristes. Ele levantou os braços, segurando o pássaro pikka inquieto em uma das mãos e o seu cajado na outra.

Ó, Fazedor de Sanduíches de Bob! — pronunciou ele. Fez uma pausa, enrugou a testa e suspirou enquanto fechava os olhos, em devota contemplação. — A vida será muito menos esquisita sem você por aqui!

Arthur estava impressionado.

Sabe, acho que essa foi a coisa mais bonita que alguém já me disse na vida!

Dá pra gente continuar ou tá difícil? — reclamou Ford.

Algo já estava acontecendo. A mera presença do pássaro pikka na mão esticada de Thrashbarg já estava enviando tremores de interesse pela horda estrondosa. Algumas cabeças se levantavam rapidamente para olhar naquela direção. Arthur começou a se lembrar de alguns dos caçadores de Bestas Perfeitamente Normais que ele vira. Lembrou-se de que, além dos caçadores-toureiros sacudindo as suas capas, havia sempre outros parados atrás deles, segurando pássaros pikka. Sempre imaginara que, assim como ele, tinham ido só para olhar.

O Velho Thrashbarg avançou, ficando um pouco mais perto da horda em disparada. Algumas Bestas já estavam virando a cabeça para trás, interessadas no pássaro.

Os braços esticados de Thrashbarg estavam tremendo.

Apenas o pássaro pikka parecia não estar nem um pouco interessado no que estava acontecendo. Algumas moléculas anônimas de ar em nenhum lugar específico absorviam toda a sua excitada atenção.

Agora! — exclamou o Velho Thrashbarg finalmente. — Agora você

pode usar a toalha!

Arthur avançou com a toalha de Ford, movimentando-se como faziam os caçadores-toureiros, com um tipo de andar pomposo que estava longe de lhe cair bem. Mas sabia o que devia fazer e que aquilo era a coisa certa a fazer. Exibiu e sacudiu a toalha algumas vezes, aprontando-se para o momento, e depois observou. Avistou o animal que queria não muito longe dali. De cabeça baixa, estava galopando para cima dele, bem na extremidade da horda. O Velho Thrashbarg mexeu o pássaro, a Besta olhou para cima, sacudiu a cabeça e então, bem na hora em que ia abaixar a cabeça novamente, Arthur fez um floreio com a toalha na linha de visão dela. Ela balançou a cabeça novamente, confusa, e seus olhos acompanharam os movimentos da toalha.

Conseguira chamar sua atenção.

Daquele momento em diante parecia a coisa mais natural do mundo atrair o animal para ele. Estava com a cabeça erguida, levemente inclinada. Estava diminuindo o ritmo para um meio galope e, depois, para um trote. Alguns segundos depois, a enorme fera estava prostrada entre eles, bufando, arquejando, suando e farejando animadamente o pássaro pikka, que parecia não ter sequer notado sua chegada. Executando estranhos movimentos ondulatórios com os braços, Thrashbarg mantinha o pássaro pikka diante da Besta, tomando cuidado para que não estivesse ao seu alcance, sempre para baixo. Executando estranhos movimentos com a toalha, Arthur mantinha a atenção da Besta assim e assado — sempre para baixo.

Acho que nunca vi nada tão ridículo em toda a minha vida — murmurou Ford para si mesmo.

Finalmente, a Besta caiu, aturdida mas dócil, de joelhos no chão.

Vai! — sussurrou Thrashbarg em tom de urgência para Ford.

Vai! Agora!

Ford saltou nas costas imensas da criatura, agarrando sua pelagem espessa e embaraçada para se apoiar, e segurando tufos de pêlo para se sustentar, uma vez posicionado lá em cima.

Agora, Fazedor de Sanduíches! Vai! — Com um gesto elaborado e um aperto de mão ritualístico que Arthur não pôde sequer acompanhar porque o Velho Thrashbarg obviamente tinha acabado de inventar, ele empurrou Arthur para frente. Respirando fundo, Arthur escalou as costas imensas, quentes e arfantes da Besta, colocando-se atrás de Ford, e segurou firme. Músculos enormes, do tamanho de leõesmarinhos, ondularam e se flexionaram debaixo dele. De repente, o Velho Thrashbarg suspendeu o pássaro bem alto. A cabeça da Besta girou para acompanhá-lo. Thrashbarg levantou o braço com o pássaro pikka várias vezes; então, lentamente, pesadamente, a Besta Perfeitamente Normal se ergueu, um pouco cambaleante. Os dois cavaleiros montados em suas costas agarravam-se aos seus pêlos feroz e nervosamente.