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— Ótimo — disse ele. — E agora, por favor, gostaria que você demonstrasse como usar o sistema que você acabou de criar para traduzir as informações desse livro aqui para mim.

Calmamente, colocou um livro diante dela.

Era Você e os seus planetas, de Gail Andrews.

Tricia parou a fita novamente.

Estava definitivamente se sentindo tonta. A sensação de que estava tendo alucinações passara, mas nada ficou mais fácil ou mais claro na sua cabeça. Empurrou a cadeira para trás da mesa de edição e se perguntou o que fazer em seguida. Anos atrás abandonara o campo da pesquisa astronômica porque sabia, sem nenhuma dúvida, que havia conhecido um ser de outro planeta. Em uma festa. E

também sabia, sem nenhuma dúvida, que seria motivo de chacota se algum dia resolvesse falar sobre isso. Mas como podia estudar cosmologia e não contar justo o que sabia de mais importante a respeito? Fez a única coisa que podia fazer. Saiu fora. Agora, ela trabalhava na televisão e a mesma coisa acontecera novamente. Tinha uma fita gravada, uma fita gravada de verdade, da história mais incrível de toda história de, bem, qualquer coisa: uma base esquecida de uma civilização alienígena perdida no planeta mais afastado de nosso sistema solar. Tinha a história.

Tinha estado lá.

Tinha visto tudo.

Tinha uma fita gravada, ora bolas.

E, se algum dia mostrasse para alguém, seria motivo de chacota. Como podia provar aquilo? Nem valia a pena pensar a respeito. Tudo não passava de um pesadelo, de virtualmente qualquer ângulo que ela examinasse a situação. A sua cabeça estava começando a latejar.

Tinha uma aspirina na bolsa. Saiu da pequena ilha de edição em direção ao bebedouro no final do corredor. Tomou a aspirina e vários copos d'água. O lugar parecia muito calmo. Normalmente havia muitas pessoas zanzando apressadas por ali ou, pelo menos, algumas pessoas zanzando apressadas por ali. Esticou a cabeça para dentro da ilha de edição que ficava ao lado da sua, mas não havia ninguém lá dentro.

Exagerara um pouco no seu desespero de manter as pessoas longe da sua ilha de edição. NÃO PERTURBE estava escrito no cartaz. NEM PENSE EM ENTRAR. NÃO ME INTERESSA O QUE ESTÁ ACONTECENDO. VÁ EMBORA. ESTOU

OCUPADA!

Quando voltou, percebeu que a luz de recados do seu telefone estava piscando e imaginou há quanto tempo já estaria assim.

Alô? — disse ela para o recepcionista.

Oh, Srta. McMillan, que bom que você ligou. Todo mundo está tentando falar com você. A sua rede de tevê. Estão desesperados para entrar em contato. Você

pode ligar para eles?

Por que você não transferiu a ligação? — perguntou Tricia.

Você pediu para eu não transferir nada. Disse para eu até mesmo negar que a senhorita estava aqui. Eu não sabia o que fazer. Subi até aí para avisá-la, mas...

Está bem — disse Tricia, xingando a si mesma. Ligou para o escritório.

Tricia! Por onde diabos você andou?

Na ilha de...

Eles disseram...

Eu sei. O que está acontecendo?

O que está acontecendo? Só uma espaçonave extraterrestre!

O quê? Aonde?

No Regent's Park. Grandona, prateada. Uma menina com um pássaro. Ela fala a nossa língua, joga pedra nas pessoas e quer alguém para consertar o seu relógio. Vá o mais rápido possível.

Tricia contemplava a cena.

Não era uma nave grebulon. Não que ela tivesse subitamente se tornado uma especialista em embarcações extraterrestres, mas aquela era uma nave esguia e bonita, cinza e branca, do tamanho de um grande iate — aliás, era até mesmo parecida com um. Perto dela, as estruturas da imensa e semidesmantelada nave grebulon pareciam torres de canhão de um navio de guerra. Torres de canhão. Era com elas que os prédios cinzentos se pareciam. E o mais estranho é que, quando passara por elas antes de embarcar novamente na pequena nave grebulon, tinham se movido. Essas coisas passavam depressa pela sua cabeça enquanto ela corria do táxi até a equipe de filmagem.

Onde está a garota? — gritou ela, por cima do barulho dos helicópteros e das sirenes da polícia.

Ali! — gritou o produtor, enquanto o engenheiro de som corria para afixar um microfone nela. — Ela diz que sua mãe e seu pai vieram daqui em uma dimensão paralela ou algo assim e que está com o relógio do pai e... sei lá. O que mais posso dizer? Vai com tudo. Pergunte a ela como é ser de outro planeta.

Valeu, Ted — murmurou Tricia. Verificou se o seu microfone estava bem afixado, respirou fundo, jogou o cabelo para trás e incorporou o papel da repórter profissional, em território familiar, pronta para qualquer coisa. Pelo menos para praticamente qualquer coisa.

Virou-se para procurar a menina. Devia ser aquela ali, com cabelo despenteado e olhos raivosos. A menina virou-se para ela. E encarou—a fixamente.

Mãe! — gritou ela, e começou a atirar pedras em Tricia.

CAPÍTULO 22

A luz do dia explodiu em volta deles. Sol quente, forte. Uma planície deserta se estendia até o horizonte em uma névoa de calor. Saltaram trovejando sobre ela.

Pula! — gritou Ford Prefect.

O quê? — perguntou Arthur Dent, firmemente agarrado. Ford não respondeu.

O que foi que você disse? — gritou Arthur novamente, e então percebeu que Ford Prefect não estava mais lá. Olhou ao redor, em pânico, e começou a escorregar. Percebendo que não podia mais se segurar, arremessou-se para o lado o máximo que pôde e enroscou-se como uma bola ao atingir o chão, rolando, rolando para longe dos cascos esmagadores.

Que dia, pensou ele, tossindo furiosamente a poeira para fora de seus pulmões. Não tinha um dia tão horrível quanto aquele desde que a Terra fora demolida. Ficou de joelhos, com dificuldade, depois em pé e, em seguida, começou a fugir. Não sabia de que nem para onde, mas fugir lhe parecia uma decisão prudente. Deu de cara com Ford Prefect, que estava parado examinando os arredores.

Olha lá — disse Ford. — É exatamente disso que nós precisamos. Arthur tossiu mais um pouco de poeira e limpou mais poeira do cabelo e dos olhos. Ofegante, virou-se para ver o que Ford estava olhando. Não parecia muito com o domínio de um Rei, ou do Rei, ou de qualquer tipo de Rei. Mas era bem convidativo.

Primeiro, o contexto. Aquele era um mundo deserto. A terra seca e batida havia machucado todas as partes de Arthur que não tivessem sido machucadas durante as festividades da noite anterior. Um pouco mais adiante havia penhascos imensos, que pareciam de arenito, desgastados pelo vento e pela mínima chuva que, presumivelmente, caía naquelas bandas produzindo formatos fantásticos que combinavam com os formatos fantásticos dos cactos gigantes que brotavam aqui e ali do solo árido e alaranjado.

Por um momento, Arthur ousou sonhar que haviam chegado inesperadamente no Arizona, ou no Novo México, ou até mesmo em Dakota do Sul, mas havia várias evidências em sentido contrário.