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A gigantesca nave de construção amarela queria monitorar os acontecimentos no décimo planeta, sem que ela mesma fosse detectada. Estava indo muito bem. Essa nave era diametralmente oposta à dos grebulons em vários sentidos. O seu líder, o seu capitão, tinha uma idéia muito bem formada sobre seu objetivo. Ela era bastante simples e banal, e ele a seguia de sua forma mais simples e banal há algum tempo.

Qualquer pessoa que conhecesse o seu objetivo poderia até mesmo considerálo sem sentido e desagradável, pois não era o tipo de objetivo que enriquecia uma vida, que a deixava mais colorida, que fazia os passarinhos cantarem e as flores desabrocharem. Para falar a verdade, acontecia o oposto. Exatamente o oposto. No entanto, preocupar—se com aquilo não era o seu trabalho. Fazer o seu trabalho era o seu trabalho, que consistia em fazer o seu trabalho. Se aquilo produzia uma certa estreiteza mental e uma circularidade de pensamentos, tampouco era o seu trabalho se preocupar com aquele tipo de coisa. Qualquer coisa no gênero que chegasse até ele era transferida para outros, que, por sua vez, tinham mais gente para quem transferir coisas assim.

A muitos anos-luz dali — ou de qualquer outro lugar, para falar a verdade —

ficava o soturno e há muito abandonado planeta Vogsfera. Em algum lugar, em um enevoado e fétido lamaçal desse planeta, existe, cercado pelas carapaças imundas, partidas e vazias dos últimos e fugidios caranguejos cobertos de jóias cintilantes, um pequeno monumento de pedra que marca o lugar onde, segundo se diz, surgiu a espécie Vogon Vogonblurtus. No monumento, uma flecha entalhada aponta para dentro do nevoeiro e, abaixo dela, estão escritas, em letras simples, as palavras: "Daqui para a frente é por sua conta e risco".

Imerso nas entranhas da sua repugnante nave amarela, o capitão vogon resmungava enquanto apanhava um pedaço de papel desbotado e dobrado nas pontas que estava na sua frente. Uma ordem de demolição.

Se fôssemos esmiuçar exatamente onde o trabalho do capitão, que era fazer o seu trabalho, começava, tudo se resumia àquele pedaço de papel que lhe fora expedido pelo seu superior imediato há muito tempo. Havia uma instrução no pedaço de papel e o seu objetivo era cumprir aquela instrução e marcar com um pequeno tique o quadrado correspondente quando a tivesse cumprido.

Já havido cumprido a instrução uma vez, mas uma infinidade de circunstâncias desagradáveis haviam impedido que ele ticasse o quadradinho. Uma das circunstâncias desagradáveis era a natureza plural daquele setor da Galáxia, onde o possível continuamente interferia com o provável. Uma demolição pura e simples era como empurrar para baixo uma bolha de ar em um pedaço de papel de parede mal colocado. Tudo o que era demolido surgia novamente. Aquilo acabaria em breve.

A outra circunstância desagradável era um pequeno grupo de pessoas que viviam se recusando a estar onde deveriam estar quando deveriam estar. Outra coisa que acabaria em breve.

A terceira circunstância era uma invençãozinha irritante e anárquica chamada O Guia do Mochileiro das Galáxias. Aquilo já estava sendo devidamente resolvido e, na verdade, por meio do poder fenomenal da engenharia reversa temporal, ele era justamente a agência encarregada de acabar com todo o resto. O capitão viera apenas assistir ao ato final daquele drama. Mas ele próprio não precisava levantar um dedo.

— Mostre para mim — pediu ele.

A silhueta em formato de pássaro abriu as asas e flutuou no ar. A ponte de comando foi engolida pela escuridão. Luzes tênues bailaram brevemente nos olhos negros do pássaro, enquanto nas profundezas do seu espaço de endereçamento instrucional um parêntese após o outro se fechava, suas cláusulas condicionais finalmente se resolvendo, loops de repetição terminavam e funções recursivas se chamavam pelas últimas vezes.

Uma visão magnífica surgiu na escuridão, azul-marinho e verde, um tubo flutuando no ar, com o formato de uma tira de salsichas entrecortadas. Com um som flatulento de satisfação, o capitão vogon acomodou-se para ver o espetáculo.

CAPÍTULO 25

Aqui, número quarenta e dois — berrou Ford Prefect para o motorista de táxi.

— É aqui! O táxi freou bruscamente e Ford e Arthur desceram apressados. Haviam parado em vários caixas automáticos pelo caminho. Ford jogou um punhado de notas em cima do motorista pela janela.

A entrada do clube era escura, elegante e sóbria. O seu nome estava escrito em uma placa minúscula. Os sócios sabiam o endereço e os não sócios não precisavam saber.

Ford Prefect não era sócio do Stavro's, apesar de ter ido uma vez ao seu outro clube em Nova York. Tinha um método bem simples para lidar com lugares dos quais não era sócio. Simplesmente adentrava o local assim que a porta abria, apontava para Arthur e dizia: "Tudo bem, ele está comigo."

Desceu as escadas escuras e polidas aos saltos, sentindo-se o máximo com seus sapatos novos. Eram de camurça azul e Ford estava satisfeito porque, apesar de tudo o que estava acontecendo, tivera olhos de lince para notá-los na vitrine da loja, do banco de trás de um táxi em alta velocidade.

Eu não te disse para não vir aqui?

O quê? — perguntou Ford.

Um homem magro, com aparência de doente, usando trajes largos e italianos e acendendo um cigarro, cruzou com eles subindo a escada e parou, bruscamente.

Você, não — respondeu o sujeito. — Ele.

Olhou para Arthur, depois ficou um pouco confuso.

Desculpe — disse, então. — Acho que o confundi com outra pessoa. —

Começou a subir as escadas novamente, mas mal deu outro passo. Virou-se para trás, ainda mais intrigado. Olhou fixamente para Arthur.

O que foi agora? — perguntou Ford.

O que você disse?

Eu disse "o que foi agora?" — repetiu Ford, irritado.

É, acho que sim — disse o homem, cambaleando e deixando cair a caixa de fósforos que carregava. Moveu os lábios vagarosamente e passou a mão pela testa.

Desculpe — repetiu ele. — Estou tentando desesperadamente me lembrar qual foi a droga que eu tomei, mas deve ter sido uma daquelas que embaralham a memória. — Balançou a cabeça, virou-se novamente e subiu para o banheiro masculino.

Vamos — disse Ford. Desceu as escadas correndo, com Arthur nervosamente na sua cola. Aquele encontro havia mexido muito com ele, mas não sabia dizer o motivo.

Não gostava de lugares como aquele. Apesar de todos os sonhos de voltar para a Terra e para casa durante tantos anos, agora sentia uma saudade louca da sua cabana em Lamuella, das suas facas e dos seus sanduíches. Sentia saudades até mesmo do Velho Thrashbarg.

Arthur!

Era um efeito impressionante. Alguém acaba de gritar o seu nome em estéreo. Virou-se para trás. No alto da escada, vindo em sua direção, estava Trillian, usando a sua lindamente amarrotada Rymplom TM. Parecia subitamente chocada. Arthur virou-se para trás para ver o que a estava deixando chocada. No alto da escada estava Trillian, usando... Não, essa é Tricia. A Tricia que Arthur tinha acabado de ver, histérica e confusa, na televisão. E atrás dela estava Random, parecendo estar mais desvairada do que nunca. Mais atrás, nos fundos do clube parcamente iluminado e chique, os outros clientes compunham um quadro estático, contemplando, tensos, o confronto na escadaria.