Kelly olhava intrigada para ele.
- De Filadélfia.
- O que eu quero dizer é... Bom, não interessa. Já alguma vez trabalhou como modelo?
- Não.
- Não importa. Aqui aprende a trabalhar.
A garganta de Kelly ficou seca.
- Isso quer dizer que eu... Que eu vou ser modelo?
Ele sorriu um enorme sorriso. - Claro. Temos uma série de clientes que vão ficar doidos quando a virem.
Nem podia acreditar. Aquela era uma das mais importantes agências de modelos e eles...
- Chamo-me Bill Lerner. Dirijo esta agência. Como se chama?
Aquele era o momento que Kelly imaginara. Era a primeira vez que ia usar o seu novo nome, um nome de carácter profissional, com uma só palavra.
Lerner olhava especado para ela.
- Não sabe como é que se chama?
Kelly recompôs-se e endireitou-se e disse com toda a confiança:
- É claro que sei. Kelly Hackworth.
CAPÍTULO 9
O som do avião a voar baixo trouxe um sorriso aos lábios de Lois Reynolds. Gary. Estava atrasado. Lois oferecera-se para ir aeroporto buscá-lo, mas ele respondera:
- Mana, não te incomodes. Eu apanho um táxi.
- Mas, Gary, tenho o maior prazer...
- É melhor que fiques em casa e que esperes por mim.
- Como queiras, mano.
O irmão sempre fora a pessoa mais importante na vida de Lois. Os anos em que crescera no Kelowa tinham sido um pesadelo. Desde que era menina, Lois sempre sentira que o mundo estava contra si, as revistas das personalidades, os modelos, as estrelas femininas de d cinema, e tudo porque era ligeiramente gordinha. Mas onde é que estava escrito que as roliças não podiam ser tão giras como as doentias e escanzeladas? Lois Reynolds estudava constantemente a sua imagem ao espelho. Tinha cabelo louro comprido, olhos azuis, delicados, traços pálidos e aquilo que Lois considerava como um corpo bastante bem feito. Os homens podem andar por aí com as suas barrigas de cerveja e ninguém lhes diz nada. Mas, assim que uma mulher engorda uns quilitos, torna-se logo objecto de comentários. Mas quem era o parvalhão que tinha o direito de dizer que a figura feminina devia ter as medidas 90-60-90?
Desde que Lois se lembrava, as suas companheiras de escola tinham o hábito de a troçar nas suas costas - "rabo gordo", "pote de banha", "texugo"... Estas palavras magoavam-na profundamente.! Mas Gary sempre lá estivera para a defender.
Quando Lois se formara na universidade de Toronto, já estava farta de ser aborrecida. Se o Senhor Maravilha procura uma mulher real, aqui estou eu.
E um dia, inesperadamente, o Senhor Maravilha surgira. Chamava-se Henry Lawson. Conheceram-se no convívio da igreja e Lois sentiu-se imediatamente atraída por ele. Era alto, magro e louro, tinha um rosto que parecia estar sempre pronto a sorrir e um feitio que lhe fazia justiça. O pai dele era o reverendo da igreja. Lois começou a passar a maior parte do seu tempo livre no convívio com Henry e, enquanto falavam, ficou a saber que ele era dono de uma creche bem sucedida e um amante da natureza.
- Se estiver livre amanhã à noite - disse ele - gostava de a levar a jantar Não houve qualquer hesitação da parte de Lois:
- Sim, muito obrigada.
Henry Lawson levou-a ao conhecido Sassafraz, um dos melhores restaurantes de Toronto. A ementa era tentadora, mas Lois pediu um jantar leve porque não queria que Henry pensasse que era uma comilona.
Henry notou que ela se limitava a comer uma salada e comentou:
- Mas isso não chega para a alimentar.
- Estou a tentar perder peso - mentiu.
-Lois, eu não quero que perca peso. Gosto de si tal como é. - Disse ele pousando a mão sobre a dela.
Ela sentiu um frêmito. Aquele era o primeiro homem que lhe dizia tal coisa.
- Vou encomendar um bife, batatas e uma salada César - informou Henry.
Era tão maravilhoso, encontrar finalmente um homem que compreendia o seu apetite e que o aprovava.
As semanas seguintes foram passadas num frenesi de encontros. Ao fim de três semanas, Henry disse:
- Lois, eu amo-te. Quero que cases comigo.
Palavras que pensara nunca vir a ouvir. Ela lançou os braços em volta dele e respondeu:
- Também eu te amo, Henry. Quero ser tua mulher.
O casamento teve lugar na igreja do pai de Henry, cinco dias depois. Estavam presentes Gary e alguns amigos, e foi uma cerimônia maravilhosa, oficiada pelo pai de Henry. Lois nunca se sentira tão feliz.
Onde vão passar a lua-de-mel? - perguntou o reverendo Lawson.
- No lago Louise - respondeu Henry. - É muito romântico.
- Perfeito para uma lua-de-mel.
Henry abraçou Lois.
- Espero que, para o resto das nossas vidas, todos os dias sejam uma lua de mel.
Lois estava extática.
Imediatamente a seguir ao casamento, partiram para o lago Louise. Era um espetacular oásis no Banff National Park, no coração das Rochosas canadianas.
Chegaram ao fim da tarde, com o sol a brilhar sobre o lago.
Henry tomou Lois nos braços:
- Estás com fome?
Ela olhou-o nos olhos e sorriu:
- Não.
- Eu também não. Porque não nos despimos?
- Oh, sim, meu querido.
Dois minutos mais tarde estavam na cama e Henry fazia com ela, deliciosamente. Era maravilhoso. Um êxtase.
- Oh, querido. Amo-te tanto.
- Também eu te amo, Lois - disse Henry. Ergueu-se. –Agora temos de combater o pecado carnal.
- Temos que fazer o quê? - E Lois olhou para ele, confusa.
- Põe-te de joelhos.
Ela riu.
- Querido, não estás cansado?
- Põe-te de joelhos.
Ela sorriu.
- Está bem.
Pôs-se de joelhos e observou, intrigada, enquanto Henry tirava um enorme cinto das calças. O marido avançou na sua direcção e, antes de ela poder perceber o que se estava a passar, ele fez estalar o cinto contra as suas nádegas nuas.
Lois gritou e fez menção de se endireitar.
- O que raio...?
Ele mandou-a ajoelhar.
- Eu já te disse, querida. Temos de combater o pecado - e uma vez mais ergueu o cinto e bateu-lhe com ele.
- Pára! Pára com isso!
- Está quieta. - A voz dele estava cheia de fervor.
Lois debateu-se para se erguer, mas Henry mantinha-a em baixo com um forte braço e bateu-lhe com o cinto mais uma vez, e outra. Lois sentia-se como se o rabo estivesse a ser esfolado.
- Henry! Meu Deus! Pára com isso! Por fim, ele endireitou-se e respirou fundo, a tremer:
- Agora já está tudo bem.
Lois sentia uma enorme dificuldade em se mexer. Sentia os vergões a arder. Dorida, lá se conseguiu pôr de pé. Estava incapaz de falar. Limitava-se a olhar para o marido, horrorizada.
- O sexo é um pecado. Temos que combater a tentação.
Ela abanou a cabeça, sempre sem conseguir falar, sem conseguir acreditar no que acabara de acontecer.
- Pensa em Adão e Eva, o início da queda da humanidade - continuou ele a dizer.
Lois começou a chorar, enormes soluços sacudindo-lhe o corpo. - Já está tudo bem. - Ele tomou Lois nos braços. - Está tudo bem. Eu amo-te.
E Lois respondeu, insegura:
- Eu também te amo, mas...
- Não te preocupes. Nós conseguimos.
O que significa que foi a última vez que isto aconteceu, pensou Lois. Provavelmente, tem alguma coisa a ver com o facto de ele ser filho de um pastor. Graças a Deus que já acabou. No restaurante, Lois mal se conseguia sentar. A dor era terrível, mas estava demasiado envergonhada para pedir uma almofada.
- Eu encomendo - disse Henry. E pediu uma salada para ele e uma refeição enorme para ela. - Tu tens de manter as forças, minha querida.
Durante o jantar, Lois pensou no que acontecera. Henry era o homem mais maravilhoso que alguma vez conhecera. Fora apanhada desprevenida por aquilo – e o que fora realmente aquilo, um fetiche?'De qualquer das maneiras, já acabara. Podia ansiar por passar o resto da sua vida a tomar conta daquele homem e a apreciar que tomassem conta dela.