- Depois entro em contacto consigo.
A reunião terminara.
CAPÍTULO 12
Assim que as pessoas tiveram conhecimento da morte de Mark, Kelly Harris começou a ser inundada com telefonemas, ramos de flores e e-mails. A primeira chamada veio de Sam Meadows, um colega de trabalho e amigo íntimo de Mark.
Kelly! Meu Deus! Não acredito! Eu... Eu nem sei o que dizer.
Sinto-me terrível. Cada vez que me viro estou sempre à espera de ver o Mark. Kelly... Há alguma coisa que possa fazer por ti?
- Não, Sam. Muito obrigada.
- Vamo-nos manter em contacto, sim? Eu quero ajudar naquilo que for possível...
Depois deste telefonema, houve dúzias de outros, vindo dos amigos de Mark e dos modelos com quem ela trabalhava.
Bill Lerner, o chefe da agência de modelos, telefonou. Apresentou os sentimentos e em seguida disse:
- Kelly, eu sei que este não é o momento certo, mas penso que voltar ao trabalho pode vir a ser muito bom para ti. O nosso telefone não tem parado de tocar. Quando é que achas que vais estar outra vez disponível?
- Quando Mark voltar para mim - e desligou o telefone.
E agora tocava de novo. Por fim, Kelly decidiu-se a atender.
- Sim?
- Senhora Harris?
Continuava a ser a senhora Harris? Já não havia nenhum senhor Harris, roas ela seria para sempre a mulher de Mark. Respondeu com firmeza:
- Sim, daqui fala a senhora Mark Harris.
- Estou a ligar do gabinete do senhor Tanner Kingsley. O homem para quem Mark trabalha... trabalhava.
- Sim?
- O senhor Kingsley gostaria que viesse a Manhattan falar com ele.
Gostaria de ter uma reunião nos escritórios da empresa. Está disponível?
Kelly estava disponível. Dissera à agência que lhe cancelasse todas as marcações. Mas estava espantada. Porque é que Tanner Kingsley quer falar comigo?
- Sim!
- Seria conveniente para si sair de Paris na sexta-feira?
Nunca mais nada seria conveniente para ela.
- Sexta-feira. Tudo bem.
- Muito bem. Há um bilhete da United Airlines à sua espera no aeroporto Charles de Gaulle. - E deu-lhe o número do vôo. - Em Nova Iorque estará um carro à sua espera.
- Demasiado tarde. Eu já o fiz.
Quando está a pensar sair?
Na sexta-feira.
Muito bem. Vou tratar de tudo. Já lhe disse que a minha filha entrou para a Sorbonne?
Não. Mas isso é maravilhoso. Deve estar muito orgulhoso.
Pois estou. Começa daqui a duas semanas. Estamos todos muito excitados. É um sonho que se tornou realidade.
Mark falara-lhe várias vezes sobre Tanner Kingsley. Mark conhecera-o e considerava que ele era um génio e um homem maravilhoso com quem trabalhar. Talvez ele queira partilhar comigo alguma recordação de Mark. O pensamento alegrou-a.
Angel apareceu a correr e saltou-lhe para o colo. Kelly abraçou-a.
E agora, o que é que eu vou fazer contigo enquanto estiver fora ? A mamã levava-te, mas é só por alguns dias.
De repente, Kelly lembrou-se de quem lhe iria tomar conta do cão.
Desceu as escadas até ao gabinete do porteiro. Havia trabalhadores a instalar o novo elevador e Kelly estremecia de cada vez que passava por eles.
O superintendente do prédio, Philippe Cendre, era um homem alto e atraente, com uma personalidade acolhedora, e a mulher e a filha sempre tinham sido extremamente prestáveis. Ao saberem de Mark, tinham ficado arrasados. O funeral fora no cemitério Père-La-chaise e Kelly convidara a família Cendre a assistir.
Aproximou-se da porta do apartamento de Philippe e bateu. Assim que ele abriu a porta, Kelly disse:
- Tenho um favor para lhe pedir.
- Entre. Tudo o que precisar, senhora Harris.
- Tenho que ir a Nova Iorque por três ou quatro dias. Será que se importavam de tomar conta da Angel enquanto eu estiver fora?
- Importar? Eu e a Ana Maria vamos adorar.
- Muito obrigada. Fico muito grata.
- E garanto-lhe que tudo faremos para a mimar.
Kelly sorriu.
Sexta-feira de manhã, Kelly levou Angel lá abaixo, ao apartamento de Philippe Cendre.
Deu ao porteiro uma série de sacos de papel.
- Estes têm a comida preferida da Angel e aqui estão alguns brinquedos para ela brincar...
Philippe afastou-se para o lado e atrás dele Kelly viu uma pilha de brinquedos para cão no meio do chão. Desatou a rir.
- Angel, estás em excelentes mãos. - E deu à cadelinha um último abraço. - Adeus, Angel. E muito obrigada, Philippe.
Na manhã em que Kelly ia partir, Nicole Paradis, a recepcionista do elegante edifício de apartamentos, estava de pé à porta para se despedir. Uma exuberante mulher de cabelo grisalho, era tão baixinha que, quando se sentava atrás da secretária, só se via o cocuruto da cabeça. Sorriu para Kelly e disse:
- Madame, vamos sentir a sua falta. Por favor, volte depressa.
Kelly tomou-lhe as mãos.
- Muito obrigada. Eu volto em breve, Nicole. - E, minutos mais tarde, estava a caminho do aeroporto.
O aeroporto Charles de Gaulle estava inacreditavelmente apinhado de gente, como era costume, aliás. Era um labirinto imenso de balcões, lojas, restaurantes, escadas e gigantescas escadas rolantes que subiam e desciam, quais monstros pré-históricos.
Quando Kelly chegou, o director do aeroporto acompanhou-a até Urna sala de embarque privada. Quarenta e cinco minutos mais tarde o seu vôo foi anunciado. Enquanto Kelly se encaminhava para a porta de embarque, uma mulher que estava parada ali perto observava-a através da porta. Assim que Kelly desapareceu de vista, a mulher pegou num celular e fez uma chamada.
Kelly estava sentada no seu lugar no avião, só pensando em Mark e alheada do facto de que a maior parte dos homens e das mulheres dentro da cabina a olhavam embasbacados. Mas o que é que Mark estaria afazer na plataforma de observação da torre Eiffel à meia-noite? Com quem é que ele se iria encontrar? E porquê? E, o pior de tudo, porque é que Mark se suicidou? Nós éramos tão felizes. Amávamo-nos tanto. Não acredito que ele se tenha suicidado. Não o Mark... Não o Mark... Não o Mark. E fechou os olhos e deixou os pensamentos fluírem.
Era o primeiro encontro. Vestira para essa noite uma saia preta formal e uma blusa de gola alta branca, para que ele não ficasse com a idéia de que ela o estava, de alguma maneira, a tentar. Aquela ia ser uma noite normal e simpática. Kelly percebeu que estava nervosa. Devido à coisa horrível que lhe acontecera em criança, Kelly nunca tivera contacto com nenhum homem a não ser por questões , de trabalho ou nos acontecimentos de caridade obrigatórios.
Isto não é propriamente um encontro amoroso, ia Kelly dizendo para si própria. Nós vamos ser só amigos. Ele pode passear comigo pela cidade sem haver qualquer implicação romântica. Enquanto assim pensava, a campainha da porta tocou.
Kelly respirou fundo e foi abrir. Ali estava Mark, de pé, a sorrir, com uma caixa e um saco de papel na mão. Vestia um fato cinzento que lhe assentava mal, uma camisa verde, uma gravata de um tom vermelho-vivo e sapatos castanhos. Kelly quase riu alto. O facto de que Mark não tinha qualquer noção de estilo era, de uma certa forma, engraçado. Conhecera demasiados homens cujos egos só se preocupavam com a própria elegância.
- Entre - convidou Kelly.
- Espero não estar atrasado.
- Não, não. De forma nenhuma. - Estava vinte e cinco minutos adiantado.
- É para si - disse Mark, dando-lhe a caixa.
Era uma caixa com cerca de dois quilos de chocolates. Ao longo dos anos, Kelly vira serem-lhe oferecidos diamantes, peles e Penthouses, mas jamais alguém lhe dera chocolates. Exactamente aquilo que todas as modelos precisam, pensou, divertida.
Muito obrigada. - E Kelly sorriu.
E isto são guloseimas para a Angel - acrescentou Mark estendendo-lhe o outro saco.
Como se tivesse ouvido a sua deixa, Angel entrou na sala aos saltos e correu para Mark, a cauda a abanar.
Mark pegou nela e fez-lhe festas. - Ela lembra-se de mim.