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Os detectives obedeceram.

Praegitzer olhava fixamente para as imagens vindas de todo o mundo que mudavam constantemente na profusão de ecrãs de televisão. Abanou a cabeça em admiração:

- A tecnologia de hoje em dia! Isto é...

Tanner ergueu a mão.

- Não estamos aqui a ver a tecnologia de hoje em dia, detective.

Esta tecnologia não estará no mercado senão daqui a dois ou três anos. Com ela, podemos assistir a tele-conferências numa dúzia de países, tudo ao mesmo tempo. A informação que entra vinda dos nossos escritórios em todo o mundo é imediatamente analisada e registada por estes computadores.

- Senhor Kingsley, desculpe uma pergunta tão simples. Mas o que é, de facto, um think tank? - perguntou Praegitzer.

- Em poucas linhas? Bom, resolvemos problemas. Encontramos soluções para problemas que possam vir a surgir. Alguns centram-se simplesmente numa área, militar, económica ou política. Nós tratamos de segurança nacional, comunicações, microbiologia, assuntos relacionados com o ambiente. O KIG funciona como um analista e crítico independente das conseqüências globais a longo prazo para vários governos.

- Que interessante.

- Oitenta e cinco por cento do nosso pessoal possui graus académicos avançados e mais de sessenta e cinco por cento são doutorados.

- Isso é impressionante.

- O meu irmão Andrew fundou o Kingsley Internacional Group para ajudar os países do Terceiro Mundo, por isso estamos todos profundamente embrenhados em projectos piloto.

Ouviu-se o som repentino de um trovão e um raio de luz brilhou num dos ecrãs de televisão. Todos se viraram para olhar.

- Não li qualquer coisa sobre uma experiência climatérica que estavam a fazer? - perguntou o detective Greenburg.

Tanner fez uma careta.

- Sim. É conhecida por aí como a loucura de Kingsley. É um dos maiores falhanços que o KIG alguma vez teve. Foi um dos projectos que eu mais quis que funcionasse. Em vez disso, vamos ter que o cancelar.

- É possível controlar o clima? - quis saber Praegitzer.

Tanner abanou a cabeça.

- Só de forma limitada. Houve já imensas pessoas que o tentaram. Já em 1900, Nikola Tesla fez experiências com as condições meteorológicas. Descobriu que a ionização da atmosfera pode ser alterada através de ondas de rádio. Em 1958, o nosso departamento de defesa experimentou lançar agulhas de cobre na ionosfera. Dez anos mais tarde houve o Projecto Popeye, em que o governo tentou prolongar a estação das monções no Laos, para aumentar a quantidade de lama na Trilha de Ho Chi Minh. Usaram um agente nuclear de iodedo de prata e vários geradores lançaram-no para as nuvens, para se transformar em sementes de chuva.

- E funcionou?

- Funcionou. Mas numa base confinada. Existem várias para fazer com que nunca sejamos capazes de controlar o clima.

Um dos problemas é que o El Nino gera altas temperaturas no oceano Pacífico que perturbam o sistema ecológico do mundo, enquanto La Nina gera temperaturas frias no Pacífico; os dois combinados anulam completamente qualquer tentativa realista de planeamento de controle. O hemisfério sul é composto oitenta por cento por oceanos, enquanto o hemisfério norte só tem sessenta por cento, dando origem a outro desequilíbrio. Além disso, a corrente quente determina a rota das tempestades e não há forma de o controlar.

Greenburg acenou e em seguida perguntou, hesitante:

- Sabe porque estamos aqui, senhor Kingsley?

Tanner estudou Greenburg por momentos.

- Penso que seja uma pergunta de retórica. De outra forma, teria que a considerar ofensiva. O KIG é um think tank. Quatro dos meus funcionários morreram ou desapareceram misteriosamente num espaço de vinte e quatro horas. Nós próprios já iniciámos as nossas investigações. Temos escritórios nas principais cidades espalhadas pelo mundo, com mil e oitocentos empregados, e é óbvio que me é difícil manter-me em contacto com todos eles. Mas aquilo que consegui saber até agora foi que dois dos que foram assassinados estavam aparentemente envolvidos em actividades ilegais.

Custou-lhes a vida, mas asseguro-vos que não irá custar a reputação do Kingsley Internacional Group. Espero que a nossa gente consiga resolver este assunto com toda a celeridade.

- Senhor Kingsley. Não é só isso. Tivemos conhecimento de que, há seis anos, um cientista japonês chamado Akira Iso se suicidou em Tóquio. Há três anos, uma cientista suíça de nome Madeleine Smith suicidou-se em... - acrescentou Greenburg.

Tanner interrompeu-o; - Zurique. Nenhum deles se suicidou. Foram assassinados.

Os dois detectives olharam para ele surpresos.

- Como é que sabe disso? - perguntou Praegitzer.

A voz de Tanner endureceu.

- Eles foram mortos por minha culpa.

- Quando diz...

- Akira Iso era um cientista brilhante. Trabalhava para um conglomerado electrónico chamado Tokyo First Industrial Group. Encontrei Iso numa convenção industrial internacional em Tóquio, demo-nos bem. Pensei que o KIG lhe podia proporcionar uma atmosfera do que a empresa onde estava. Fiz-lhe uma proposta para r aqui e ele aceitou. Na realidade, até ficou muito excitado com a perspectiva. - Tanner lutava para manter a voz controlada - Concordámos em manter o assunto confidencial, até ele se encontrar legalmente capaz de poder abandonar a empresa. Mas é óbvio que deve ter falado do assunto a alguém, porque veio uma reportagem a esse respeito num jornal, e... - Tanner parou mais uma vez, por um longo momento, e, em seguida continuou. - Um dia depois de a reportagem ter aparecido, Iso foi encontrado morto num quarto de hotel.

- Senhor Kingsley, é possível existirem outras razões para explicar a sua morte? - quis saber Robert Praegitzer.

Tanner abanou a cabeça.

- Não. Não acredito sequer que ele se tenha suicidado. Contratei investigadores que mandei para lá e alguns dos meus empregados no Japão tentaram saber o que se passara. Não foram capazes de encontrar nada que provasse que tinha sido crime e pensei que podia estar enganado e que talvez existisse alguma tragédia na vida de Iso que eu desconhecia.

- Então porque é que tem tanta certeza de que ele foi morto? - perguntou Greenburg.

- Como você próprio já disse, uma cientista chamada Madeleine Smith supostamente suicidou-se em Zurique, há três anos. O que você não sabe é que Madeleine Smith também pretendia abandonar as pessoas para quem trabalhava e vir para a nossa empresa.

Greenburg franziu o sobrolho.

- O que o leva a pensar que existe uma ligação entre estas duas mortes?

O rosto de Tanner era uma esfinge.

- Porque a empresa para a qual ela trabalhava é uma filial do mesmo Tokyo First Industrial Group.

Fez-se um silêncio de espanto.

- Há aqui algo que eu não estou a compreender - interrompeu Praegitzer. - Porque haviam de assassinar um empregado só porque ela se queria vir embora? Se...

- Madeleine Smith não era uma empregada qualquer. Nem tão pouco Iso. Eram físicos brilhantes, que estavam prestes a resolver problemas que fariam com que qualquer empresa ganhasse uma fortuna, maior do que alguma vez se possa imaginar. Era por isso que não estavam interessados em perder nenhum deles.

- A polícia suíça investigou a morte de Smith?

- Claro. E nós também. Mas, mais uma vez, não fomos capazes de provar absolutamente nada. Na realidade, continuamos a trabalhar em todas as mortes que tiveram lugar e tenho esperanças de e sejamos capazes de solucionar algumas delas. O KIG tem grandes reações por todo o mundo. Se alguma vez eu tiver alguma informação que possa ser útil, terei todo o prazer em partilhá-la convosco. Espero o mesmo do vosso lado.

Greenburg respondeu:

- Claro.

Um telefone folheado a ouro sobre a secretária de Tanner tocou.

Desculpem. - Encaminhou-se para secretária e atendeu o telefone. - Alo... sim... A investigação está a correr bem. Na verdade, tenho neste momento no meu gabinete dois detectives e eles concordaram em cooperar connosco... - E olhou para Praegitzer e Greenburg. - Certo. Eu digo-te qualquer coisa assim que tivermos notícias. - E pousou o telefone.