- Senhor Kingsley, estão a trabalhar em alguma coisa que seja secreta? - perguntou Greenburg.
- Está a querer dizer alguma coisa suficientemente importante para justificar o assassínio de meia dúzia de pessoas? Detective Greenburg, existem mais de cem think tanks em todo o mundo, alguns deles a trabalhar exactamente nos mesmos problemas que nós.
Nós aqui não construímos bombas atómicas. A resposta à sua pergunta é não.
A porta abriu-se e Andrew Kingsley entrou no gabinete, transportando um monte de papéis. Andrew Kingsley era pouco parecido com o irmão. Os seus traços pareciam desfocados. Tinha cabelo grisalho que começava a desaparecer, um rosto enrugado e caminhava com uma postura algo inclinada. Enquanto Tanner irradiava vitalidade e inteligência, Andrew Kingsley parecia ser pouco esperto e apático. Falava de forma hesitante e parecia ter dificuldade em junto as frases.
- Aqui estão aqueles... sabes... aqueles papéis que pediste, Tanner. Peço desculpa por não os ter terminado... mais cedo.
- Não há qualquer problema, Andrew. - E Tanner virou-se para Os dois detectives. - Este é o meu irmão, Andrew. Os detectives Greenburg e Praegitzer.
Andrew olhou inseguro para eles e piscou os olhos. Andrew, queres falar-lhes do teu Prémio Nobel? Andrew olhou para Tanner e respondeu evasivamente: Sim... pois...o Prémio Nobel... o Prémio Nobel.
Ficaram a olhar enquanto ele se virava e saía do gabinete, arrastando os pés.
Tanner suspirou.
- Como disse, Andrew foi o fundador desta empresa, um homem perfeitamente brilhante. Há sete anos atrás recebeu o Prémio Nobel por uma das suas descobertas. Infelizmente, meteu-se numa experiência que correu mal e... Tudo mudou nele. - O seu tom de voz era amargo.
- Deve ter sido um homem extraordinário.
- Nem faz idéia.
Earl Greenburg ergueu-se e estendeu a mão:
- Bom, não lhe tomamos mais tempo, senhor Kingsley. Estaremos em contacto.
- Meus senhores - a voz de Tanner era gelada -, que estes crimes se resolvam... E depressa.
CAPÍTULO 16
Durante toda a manhã, os jornais foram apresentando sempre a mesma história. Uma seca na Alemanha provocara pelo menos cem mortes e dizimara milhões de dólares de colheitas.
Tanner ligou para Kathy e pediu:
- Manda este artigo à senadora van Luven, com uma nota a dizer: "Mais notícias sobre o aquecimento global. Cumprimentos..."
Tanner não conseguia parar de pensar na mulher a quem chamara Princesa. E quanto mais pensava na insolência dela e na forma como o ridicularizara, mais furioso ficava. Vamos ter que melhorar as suas deixas, querido. Faz alguma idéia do pirosas que são?... Já está com tesão, querido?... Então saque lá do seu livrinho negro e vamos tentar encontrar alguém que esteja disponível para hoje à noite...
Era como se precisasse de a exorcizar de dentro de si. Decidiu que a voltaria a ver uma vez mais, para lhe dar a paga que merecia e em seguida poder esquecê-la.
Tanner esperou três dias e depois telefonou:
- Princesa?
- Quem fala?
- Estava prestes a desligar o telefone. Mas quantos homens já lhe teriam chamado Princesa ? Conseguiu manter a voz calma: Fala Tanner Kingsley.
Ah! Sim. E como está? - O tom da voz dela era completamente indiferente.
Cometi um erro, pensou Tanner. Nunca lhe devia ter telefonado.
- Pensei que podíamos jantar outra vez um dia destes, mas provavelmente está muito ocupada, por isso talvez seja melhor...
- Que tal esta noite?
Tanner foi mais uma vez apanhado desprevenido. Estava ansioso dar uma lição àquela cabra.
Quatro horas depois, Tanner estava sentado à mesa em frente de Paula Cooper num pequeno restaurante francês a leste da Lexington Avenue. Ficou espantado pelo prazer que sentiu em voltar a vê-la. Esquecera o vigorosa e viva que ela era.
- Senti a sua falta, Princesa - disse ele.
Ela sorriu.
- Oh, eu também senti a sua. Você é o máximo. É uma pessoa especial.
Eram as suas próprias palavras a serem-lhe devolvidas, troçando dele. Maldita.
Parecia que a noite ia ser uma repetição do seu último encontro. Nas noites românticas de Tanner fora sempre ele quem controlara a conversa. Com a Princesa tinha a estranha sensação de que ela estava sempre um passo à sua frente. Tinha sempre resposta pronta para tudo o que ele dizia. Era espirituosa e rápida e não aceitava parvoíces.
As mulheres com quem costumava sair eram sempre belas e disponíveis, mas, pela primeira vez na vida, Tanner sentia que talvez tivesse andado a perder alguma coisa. As outras eram todas demasiado fáceis. Eram agradáveis, mas demasiado agradáveis. Não havia ali qualquer desafio. Mas Paula...
- Fale-me de si - pediu Tanner.
Ela encolheu os ombros:
No dia seguinte, Tanner voltou a ligar.
- Princesa?
- Estava à espera que me telefonasse, Tanner. - A voz calorosa.
Tanner sentiu um pequeno frémito de prazer.
- O meu pai era rico e poderoso e eu cresci como uma menina mimada, no meio de criadas e mordomos, empregados a servir-nos na piscina, Radcliffe e uma escola de aperfeiçoamento para raparigas. Enfim, o habitual. Depois o meu pai perdeu tudo e morreu. Tenho trabalhado como assistente de um político.
- E gosta do que faz?
- Não. Ele é um chato. - Os olhos deles encontraram-se. - Ando à procura de alguém mais interessante.
- Estava?...
- Sim. Onde é que me vai levar a jantar hoje a noite?
Ele riu.
- Onde lhe apetecer.
- Apetecia-me ir ao Maxim's em Paris, mas qualquer coisa onde possa estar consigo serve.
Apanhara-o mais uma vez desprevenido, mas, por qualquer razão, as palavras dela tinham-no deixado feliz.
Jantaram no La Cote Basque na Fifty-fifth Street e durante o jantar Tanner não parou de olhar para ela e de se interrogar porque se sentia tão atraído por ela. Não era a beleza, era a sua cabeça e a sua personalidade que eram estonteantes. Todo o seu ser brilhava de inteligência e autoconfiança. Era a mulher mais independente que alguma vez conhecera.
As conversas cobriam inúmeros temas e Tanner verificou que ela era espantosamente culta.
- O que é que quer fazer com a sua vida, Princesa?
Ela estudou Tanner por instantes antes de lhe responder:
- Quero poder... O poder de fazer as coisas acontecerem.
Tanner sorriu:
- Então somos muito parecidos.
- A quantas mulheres disse a mesma coisa, Tanner?
Ele deu por si a ficar zangado.
- Importa-se de parar com isso? Quando eu lhe digo que é diferente de todas as outras mulheres que alguma vez...
- Alguma vez o quê?
Tanner respondeu, exasperado:
- Você deixa-me frustrado. :
- Pobre querido. Se está frustrado, porque não vai tomar uma ducha...?
A raiva surgiu de novo. Já ouvira o suficiente. Levantou-se.
- Não interessa. Não vale a pena...
- ...em minha casa.
Tanner nem podia acreditar no que acabara de ouvir. Em sua casa?
- Sim. Tenho um pequeno pied-à-terre em Park Avenue - respondeu ela. - Quer levar-me a casa?
Não comeram a sobremesa.
O pequeno pied-à-terre era um sumptuoso apartamento maravilhosamente decorado. Tanner olhou em volta, maravilhado com o luxo e a elegância. O apartamento combinava com ela, uma colecção de quadros variados, uma mesa de refeitório, um enorme candeeiro de tecto, um canapé italiano e um conjunto de seis cadeiras Chipplldau e um sofá. Foi tudo o que Tanner conseguiu ver antes de ela lhe dizer:
- Venha ver o meu quarto.
O quarto era todo branco, com móveis brancos e um enorme espelho no tecto sobre a cama.
Tanner olhou à sua volta e comentou: - Estou impressionado. Este é o mais...