- Não lhe vou tomar muito do seu tempo. Vejo como ficou perturbada. Falaremos depois. Pode ser que se lembre de alguma coisa.
Se achar que há algo que possa ser útil, ficaria muito satisfeito se entrasse em contacto comigo. - E Tanner abriu uma gaveta e tirou um cartão de visita personalizado. - Este é o meu número privado de celular. Encontra-me nele a qualquer hora do dia ou da noite.
Diane guardou o cartão. Só tinha o nome de Tanner e um número de telefone.
Diane ergueu-se, as pernas a tremer.
- Peço desculpa por tê-la feito passar por isto. Entretanto, se houver alguma coisa que eu possa fazer por si, seja o que for, estou à sua disposição.
Diane mal conseguia falar:
- Muito obrigada. Agradeço-lhe muito. - E virou-se e saiu do gabinete meio atordoada.
Assim que Diane chegou à recepção, ouviu a mulher que estava atrás da secretária dizer para alguém:
- Se eu fosse supersticiosa, acreditava que alguém lançou uma praga sobre o KIG. E agora o seu marido, senhora Harris. Ficámos todos tão chocados quando tivemos conhecimento da coisa horrível que lhe aconteceu. Morrer assim é horrível.
As palavras soaram-lhe sinistramente conhecidas. O que teria acontecido ao marido dela? Diane virou-se para ver a quem é que a recepcionista se dirigia. Era uma jovem afro-americana de cortar a respiração, que vestia umas calças pretas com uma camisa de seda de gola alta. No dedo tinha um anel com uma enorme esmeralda e um anel de casamento de diamantes. Diane, de repente, teve a sensação de que era muito importante que falasse com ela.
No momento em que Diane se começou a aproximar, surgiu a secretária de Tanner.
- O senhor Kingsley vai já recebê-la.
E Diane ficou a ver Kelly Harris desaparecer entrando no gabinete de Tanner Kingsley.
Tanner ergueu-se para cumprimentar Kelly.
- Muito obrigada por ter vindo, senhora Harris. O seu vôo foi agradável?
- Foi, sim, obrigada.
- Quer tomar alguma coisa? Café ou...?
Kelly abanou a cabeça.
- Imagino como estes momentos devem ser difíceis para si, senhora Harris, mas preciso de lhe fazer algumas perguntas.
Na sala de vigilância, Retra Tyler observava Kelly no ecrã de televisão e no registo.
- A senhora e o seu marido tinham uma relação estreita? - perguntou Tanner.
- Muito.
- Diria que ele era honesto consigo?
Kelly olhou para ele espantada.
- Não tínhamos segredos. Mark era o ser humano mais honesto e mais aberto que alguma vez conheci. Ele... - E Kelly sentiu dificuldade em continuar.
- Ele falava muitas vezes consigo sobre o seu trabalho?
- Não. O que ele fazia era muito... muito complicado. Normal mente não falávamos nele.
- A senhora e o seu marido tinham muitos amigos russos?
Kelly olhou espantada para ele.
- Senhor Kingsley, não percebo onde quer chegar com estas perguntas...
- O seu marido alguma vez lhe disse um grande negócio e que ia ganhar muito dinheiro?
Kelly começava a ficar incomodada. - Não, e, se assim fosse, o Mark ter-me-ia dito.
- Ele alguma vez lhe falou de Olga?
Kelly, de repente, começou a imaginar onde a conversa ia chegar.
- Senhor Kingsley, onde está exactamente a querer chegar?
- A polícia de Paris encontrou um recado num dos bolsos do seu marido. Mencionava uma recompensa por uma informação que fora dada e vinha assinada "Com amor, Olga".
Kelly ficou sentada, sem se mexer.
- Eu... Eu não sei o que...
- Mas disse-me que falavam de tudo.
- Sim, mas...
- Por aquilo que nos foi dado saber, aparentemente o seu marido andava envolvido com esta mulher e...
- Não! - E Kelly levantou-se. - Esse não é o Mark de quem estávamos a falar. Já lhe disse, não havia quaisquer segredos entre nós.
- Tirando aquele que estará por detrás da causa da morte dele.
De repente, Kelly sentiu que estava prestes a desmaiar.
- Peço desculpa... senhor Kingsley, mas não me estou a sentir bem.
Ele tornou-se imediatamente solícito.
- Compreendo perfeitamente. Gostava de poder ajudar. - E Tanner deu-lhe o seu cartão pessoal. - Pode entrar em contacto comigo por este número a qualquer hora, senhora Harris.
Kelly acenou com a cabeça, incapaz de falar, e, atordoada, saiu do gabinete.
A cabeça de Kelly fervilhava quando ele abandonou o edifício. Mas quem era Olga ? E porque é que Mark andava metido com russos ? Porque é que ele...
- Desculpe, senhora Harris.
Kelly virou-se:
- Sim?
Uma mulher loura e atraente estava parada do lado de fora do edifício.
- O meu nome é Diane Stevens e gostaria de falar consigo. Do outro lado da rua há um café.
Lamento, mas eu agora não posso falar. - E Kelly começou a andar.
- É sobre o seu marido.
Kelly parou abruptamente e virou-se:
Sobre Mark? O que é que se passa?
Podemos falar num local com mais privacidade?
**
No escritório de Tanner, ouviu-se a voz da secretária vinda do inter-comunicador:
- Está aqui o senhor Higholt.
- Mande entrar.
Um minuto depois, Tanner cumprimentava-o.
- Boa tarde, John.
- Boa? Tem sido uma merda de uma tarde, Tanner. Parece que todos nesta empresa estão a ser assassinados. Mas que raio é que se passa?
- E isso mesmo que eu pretendo descobrir. Não acredito que a morte repentina de três dos meus empregados seja pura coincidência. Anda alguém lá fora interessado em prejudicar a reputação desta empresa, mas vamos descobrir quem é e conseguir parar com isto.
A polícia concordou em cooperar connosco e eu tenho gente a tentar seguir os movimentos dos três que foram mortos. Gostaria que visse as duas entrevistas que acabei de gravar. São com as viúvas de Richard Stevens e Mark Harris. Está pronto?
- Avance.
- Esta é Diane Stevens. - Tanner premiu um botão e a sua entrevista com Diane Stevens surgiu no ecrã. No canto direito deste havia um gráfico que ia traçando linhas para cima e para baixo à medida que ela falava.
-O que sabe, de facto, sobre a ligação que o seu marido tinha com drogas ?
- Desculpe? Mas que pergunta é essa? Richard jamais teve alguma coisa a ver com drogas.
As imagens gráficas permaneciam constantes. Tanner premiu o botão que avançava a fita rapidamente para a frente.
- E esta é a senhora Mark Harris, cujo marido foi empurrado ou caiu do cimo da torre Eiffel.
E uma imagem de Kelly surgiu no ecrã.
- Ele alguma vez lhe falou de Olga?
- Senhor Kingsley, onde está exactamente a querer chegar?
- A polícia de Paris encontrou um recado num dos bobos do seu marido Mencionava uma recompensa por uma informação que fora dada e vinha assinada "Com amor, Olga".
- Eu... eu não sei o que...
- Mas disse-me que falavam de tudo. .
- Sim, mas...
- Por aquilo que nos foi dado saber, aparentemente o seu marido andava envolvido com esta mulher e...
- Não! Esse não é o Mark de quem estávamos a falar. Já lhe disse, não havia quaisquer segredos entre nós.
As linhas no gráfico do analisador de tensão na voz permaneciam regulares. A imagem de Kelly desapareceu.
- O que eram aquelas linhas no ecrã? - perguntou John Higholt.
- Aquilo é um analisador de tensão, um CVSA. Regista os micro-tremores na voz humana. Se o sujeito estiver a mentir, as ondulações das freqüências de áudio aumentam. É este o estado em que a tecnologia se encontra. Já não são precisos fios, como nos polígrafos. Estou convencido de que as duas mulheres disseram a verdade. Têm de ser protegidas.
John Higholt franziu o sobrolho: - O que quer dizer? Protegidas do quê?
- Penso que elas correm perigo. Que, inconscientemente, têm muito mais informação do que aquilo que pensam. Eram ambas muito próximas dos maridos. Estou convencido de que, em algum momento, algo de revelador pode ter sido dito que lhes escapou na altura, mas que se encontra guardado nos bancos das suas memórias.